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Nossa lagoa, em dias de sol

Vou fantasiar um pouco. Preciso desses momentos de infinita beleza para aguentar as manchetes aterrorizantes dos jornais todos os dias

Yvelise de Oliveira - 22/05/2018 09h37

Indiferente ao que os jornais falam sobre o Rio de Janeiro – de que é uma cidade em clima de guerra – saio de casa tranquilamente para dar uma longa caminhada em volta da lagoa Rodrigo de Freitas.

Fica difícil, embora eu tenha plena consciência do fato, acreditar que uma cidade tão linda que chega a fazer a respiração parar é um verdadeiro ninho de bandidos.

Que pena! Mesmo assim, a beleza de tudo me envolve: a brisa fresca, o céu azul. A lagoa é, sem dúvida, um dos lugares mais lindos do Rio, envolvida na mágica da ofuscante beleza da cidade. Vou feliz da vida respirando fundo, sentindo o contentamento de estar viva.

O espelho-d’água da lagoa tem um tom de verde profundo refletindo o brilho do sol. Há verde em volta de toda pista de caminhada, árvores baixas, e muitos, muitos passarinhos fazem com
que a gente acredite que possa estar segura por instantes únicos, que talvez não voltem. Imagino que ainda posso caminhar despreocupada assim pelas ruas da minha amada cidade.

Saboreio a beleza com todos os sentidos. Uma felicidade sem limites me dá vontade de cantar, de correr como uma criança por entre o caminho de árvores floridas. Observo os ciclistas, alguns bem
perigosos em seus malabarismos, crianças, vendedores de coco gelado. Tudo tem um colorido incrível! Do verde das montanhas, que aparece entre os imensos prédios de concreto que bordejam toda orla da lagoa, ao céu de um azul infinito.

Tento, desesperadamente, ignorar que, por descaso de todos, subitamente podem morrer toneladas de peixes naquelas águas que parecem ser tão limpas. Olho as garças brancas nos manguezais que ainda sobrevivem e me pergunto: “Por que maltratamos tanto nossa incrivelmente bela cidade?”.

Há sujeira em volta da areia branca, latas vazias, isopor, plásticos, mas resolvo ver só o que é lindo. Vou fantasiar um pouco. Preciso desses momentos de infinita beleza para aguentar as manchetes aterrorizantes dos jornais todos os dias.

Olho o Cristo Redentor lá no alto, braços abertos em um céu sem nuvens. Tanta cor! Tanta vida! Que fizeram com minha amada cidade? Não posso desistir de andar sozinha por puro medo, mas há medo no ar… O povo carioca vai-se adaptando, driblando a violência.

Que horror!

Mas a lagoa é tão linda! O sol vai se pondo, e ela fica cor de prata. As pessoas vão embora carregando com elas suas alegrias e seus temores de uma gente que se acostuma como pode. A viver entre o medo e a beleza, entre o amor por sua cidade e o terror da insegurança…

Yvelise de Oliveira é Presidente do Grupo MK de Comunicação; ela costuma escrever crônicas sobre as suas experiências e percepções a cerca da vida. Há alguns anos lançou o livro Janelas da Memória, um compilado de seu material. Atualmente está em processo de finalização de uma nova obra, Suspiros da Alma.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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