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Especial Vida para Síria: Como vivem as vítimas?

No país, se tornou comum pessoas viverem em porões para fugirem dos confrontos

Juliano Medeiros - 23/03/2018 12h00 | atualizado em 29/03/2018 11h19

Em sete anos de guerra, viver em porões se tornou uma regra para quem quer fugir dos confrontos entre a milícia e as forças militares do governo, na Síria.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) calcula que 400 mil pessoas estejam atualmente nesta condição, entre mulheres, crianças e adolescentes. Alguns dos porões conseguem abrigar até 200 pessoas.

O antropólogo e cooordenador de estudos do Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense (UFF), professor Gabriel Hilu da Rocha Pinto, lembra que o gasto maciço com a guerra, em armas e estruturas bélicas, levou a uma falência da organização social do país.

Vìtimas da Síria carregam seus pertences por uma rua de Afrin Foto: EFE/Aref Tammawi

– A guerra tem efeitos devastadores. Na verdade, você tem não só a destruição da economia, mas do próprio tecido social da Síria. A principal vítima da guerra é a própria sociedade síria.

Já o Alto Comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos, Zeid Ra´ad Al Hussein, acusa o regime sírio de criar o apocalipse no próprio país e afirma que o conflito está em uma fase de terror. De acordo com ele, Ghouta Oriental, atual cenário dos combates, é um inferno na Terra.

A Unicef também alega que crianças e adolescentes são usados como escudo humano. Os menores são recrutados para lutar sem direito de escolha. Outros milhões pagam o preço indireto pelo conflito: têm desnutrição e doenças; sofrem traumas e são violentados sexualmente.

Mesmo perante esse cenário, a Rússia, com o apoio da China, Bolívia e Cazaquistão, impediu uma reunião no Conselho de Segurança da ONU que trataria sobre a situação dos direitos humanos no país.

O jornalista Klester Cavalcanti é o único brasileiro a ter autorização do governo de Bashar al-Assad para registrar a guerra na região de Homs. Ele esteve lá em 2012 e descreve os horrores que a população sofre:

– Eu entrevistei um sargento do exército da Síria e ele me disse que colegas da corporação, no combate contra os rebeldes, muitas vezes entravam nas casas das pessoas e estupravam mulheres e crianças. O impacto humano de um conflito desse muitas vezes vai além da violência da guerra, dos tiros e das explosões, tem um impacto sociológico, social, muito profundo.

Diante desta realidade, Zeid Ra´ad Al Hussein classifica a violência e os assassinatos no país como crimes de guerra e “potencialmente contra a humanidade”.

Com ao menos 3, 3 milhões de crianças expostas a explosivos em toda a Síria, o professor Paulo Gabriel Hilu aponta que essa é uma cicatriz que ficará na sociedade síria por gerações.

– Você terá toda uma geração que não teve acesso à educação, ou à saúde, ou a serviços básicos necessários para o desenvolvimento de uma criança, um adolescente. Além disso, obviamente, conforme a guerra vai avançando, você vai tendo a perda de homens jovens no combate. Você terá o recrutamento de adolescentes por parte, principalmente, dos grupos guerrilheiros, que se formam na Síria. O impacto disso na sociedade síria é profundo. Será uma cicatriz que ficará por muito tempo – projeta o professor.

Além da questão psicológica, a guerra cria outras situações preocupantes. Entre algumas delas, estão: 70% da população não possui acesso a água potável, 2 milhões de crianças estão fora da escola; cerca de 350 mil mortos em sete anos de guerra.

Ao ver tanto sofrimento, Klester Cavalcanti decidiu relatar a experiência no livro Dias de Inferno na Síria. Ele conta que gostaria de ajudar na reconstrução das cidades, mesmo que a paz ainda seja uma realidade distante.

– Vou ficar feliz se eu puder voltar a Homs, quando o governo sírio começar a reconstruir a cidade. Gostaria muito de estar lá ajudando, nem que seja levando tijolo, fazendo cimento, enfim, gostaria de estar lá para ajudar. Eu devo muito ao povo sírio, porque mesmo tendo sofrido muito lá, eu me sento acolhido, respeitado, confortado pelo povo, mesmo naquela situação – encerra o jornalista.

*Esta reportagem foi veiculada originalmente na rádio 93FM.

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