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Especial Vida para Síria: Saiba como a guerra começou

Especialistas explicam os motivos por trás do conflito

Juliano Medeiros - 16/03/2018 12h00 | atualizado em 09/04/2018 10h48

Mais de 350 mil mortes, cidades em ruínas, uma onda de refugiados. Isto foi o que a guerra da Síria causou em sete anos. Os motivos que levaram ao conflito, contudo, não são claros para todos.

Para ajudar a entender a razão por trás da guerra, o antropólogo e coordenador de estudos do Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense (UFF), professor Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto, explica como tudo começou:

– Bashar al-Assad é filho de Hafez al-Assad, que foi presidente da Síria de forma ditatorial de 1970 a 2000. Quando ele morre, a presidência passa para o filho de forma quase monárquica. Na época, as pessoas viram isso como forma de mudança controlada. Na verdade, o regime de Bashar al-Assad continuou nos mesmos moldes repressivos do pai. E isso levou à revolta.

Apesar de ter assumido a liderança do país em 2000, os ataques contra a população só viriam a começar em 2011. Insatisfeitos com o alto nível de desemprego, corrupção, falta de liberdade política e a repressão do governo, adolescentes pintam mensagens revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deera. Logo após o episódio, são presos e torturados pelas Forças Nacionais e de Segurança.

Além dos mortos, milhões abandonaram o país por causa da guerra Foto: Abdulmonam Eassa/AFP

O caso ganha projeção e inflama protestos pela Síria. Os sírios também, influenciados pela Primavera Árabe que, por sua vez, era uma onda de revoltas populares que acontecia simultaneamente no Egito, Tunísia, Líbia, Iêmen e Barein continuam os protestos. Para conter a rebeldia, Assad usa a força militar. Abre fogo contra os ativistas e mata muitos deles.

O professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernando Brâncoli, diz que além da revolta da população, existe outro fator que alimenta o conflito:

– Para alguns, efetivamente, era a democracia, era a saída do ditador. Mas também tinha gente achando que era só trocar o ditador, por exemplo. Que não, necessariamente, o processo democrático era mais fácil. Isso ajuda a explicar porque a guerra está durando tanto tempo. Porque diferentemente do que aconteceu em outros países, onde existia uma oposição consolidada, um grupo que pudesse falar por todos os rebeldes, na Síria isso está muito fragmentado.

Mesmo não sendo uma unidade, os grupos rebeldes, com o tempo, começaram a se organizar, o que significou um enfrentamento mais pesado com as forças do Governo. Cidades importantes, como Homs, Alepo e Guta Oriental, se tornaram cenários dos mais densos enfrentamentos.

As ruínas em Douma, na Síria Foto: EFE/Mohammed Badra

A guerra deixou de ser apenas uma batalha entre os que apoiam ou não o regime de Bashar al-Assad, e passou a contar com a ajuda de importantes nações no mundo, como explica Brâncoli:

– Como muitos países têm interesse na guerra da Síria, como Estados Unidos e Rússia, essas nações começaram a enviar dinheiro, equipamento e até gente para treinar os rebeldes que começavam a atuar na Síria. Com a Rússia, no caso, apoiando o governo. Hoje, na Síria, a gente não consegue falar em sistema binário: os contra o governo e os que são a favor. Porque mesmo quem é contra o governo, às vezes se enfrenta entre si, ou tem objetivos absurdamente opostos e perspectivas de mundo muito diferentes.

Atualmente, os ataques têm se concentrado em Guta Oriental, nos arredores da capital Damasco, considerada o último grande reduto na milícia. O bombardeio do exército é pesado e os números de vítimas só crescem.

Guerra na Síria completa sete anos e grupos internacionais buscam retirar civis de zonas de conflito Foto: EFE/Mohammed Badra

Aqui estão alguns dados:

  • Segundo o fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), desde o início de 2018, mais de mil crianças foram mortas;
  • Antes da guerra o desemprego atingia 11% da população. Hoje, metade dos sírios não tem trabalho;
  • Sem acesso a alimentos básicos, água e saúde, 80% da população vive em situação de pobreza;
  • Desde que a guerra começou, em 2011, o leite ficou 20 mil vezes mais caro; o preço do pão é três mil vezes superior; e os ovos foram reajustados em 6,500%.

Mesmo com tantos efeitos assustadores, não há nenhuma previsão para o fim do conflito. O presidente da Comissão de Inquérito sobre a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro, fala que a história lembrará dessa guerra como algo incrivelmente devastador.

– A história se lembrará da guerra síria de uma maneira terrivelmente deprimente, porque todos os progressos que se fez em termos de direitos humanos e humanitários não foram levados em conta para alcançar a solução desse conflito. Há uma corresponsabilidade por parte do governo da Síria, por parte dos estados que apoiam o governo, dos estados membros que lutaram sete anos contra o governo da Síria e por parte das organizações rebeldes e terroristas.

*Esta reportagem foi veiculada originalmente na rádio 93FM.

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