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Vaquejadas e rodeios: Para a Proteção Animal, são maus-tratos!

Não podemos ser afetados com o ambiente de festa e o falso discurso de atividade cultural que esses eventos tentam vender, para faturar às custas dos animais

Vinícius Cordeiro - 07/12/2017 10h40

Os grandes rodeios começaram nos Estados Unidos no início do século 20. Hoje são competições populares no país. Suas finais atraem quase 200 mil pessoas em média, e são oferecidos milhões de dólares em prêmios. No Brasil, a competição em rodeios teve início em 1956, na Festa do Peão de Boiadeiro da cidade de Barretos, interior de São Paulo. A partir dos anos 90, o número de montarias e prêmios aumentou em muito, além da divulgação de moda e música country brasileira. Os rodeios são geralmente realizados durante feiras ou exposições agropecuárias. São um grande negócio.

A vaquejada, festa tradicional no Nordeste do país, consiste em demonstrações de perícia dos vaqueiros, à semelhança do rodeio, que consiste em permanecer determinado tempo em cima de uma montaria bravia, mas com característica própria, que é a derrubada do bovino pela cauda. Nestas, o boi é derrubado, às vezes de patas para o ar. Banda de música e foguetes comemoram o feito; se o vaqueiro não derrubar o animal, recebe uma sonora vaia.

Esse costume de derrubar o touro pela cauda é de origem espanhola. E há sempre uma nota de religiosidade nos rodeios e vaquejadas em todo o Brasil, com as orações dos cavaleiros antes das provas e o desfile de bandeiras dos padroeiros nas cerimônias de abertura, sempre muito aplaudidas pelo público.

Vaquejadas e rodeios permanecem no centro da polêmica no Brasil. De um lado, seus promotores consideram essas práticas como manifestações culturais ou até mesmo atividades de caráter esportivo; mas para a Proteção Animal há a certeza de que se constituem em fontes de maus-tratos em animais.

Na verdade, embora em algumas regiões do país, esses eventos se constituam em uma tradição cultural; como mesmo são as touradas espanholas; em todas, em todas as atividades registram-se sofrimento, maus-tratos e até mesmo, crueldades com os animais envolvidos.

Argumentam os promotores dos eventos, devido às pressões, claro, que têm adotado medidas que amenizem essas acusações, como o uso de arames lisos, não se utilizar de esporas, descanso para bovinos e novilhos, e a participação restrita a oito vezes no mesmo evento. Mas nada disso impede que sejam lesionados, maltratados com apetrechos nos treinos, submetidos a esforços exaustivos e estressantes, transportados de maneira descuidada e, não muito, muitos se fraturam ou mesmo morrem após os eventos.

Em 2016, o STF considerou inconstitucional a Lei Estadual do Ceará que regulamentava a vaquejada. Mas, em contrapartida, foi aprovada uma PEC (Projeto de Emenda Constitucional) para legalizá-las no país. Mesmo com a PEC 50/17 aprovada pelo Senado, a prática não está legalizada, porque as vaquejadas não são consideradas patrimônio cultural. Os rodeios não estão proibidos, mas cerca de 50 cidades no país proíbem os rodeios, como no Rio de Janeiro, apoiada pela Lei Municipal n. 3.879, de 2004.

Afinal, o rodeio e a vaquejada trazem, sem dúvida, maus-tratos infligidos aos animais, torturas, crueldades, e sofrimento. Esses eventos têm de ser impedidos e proibidos. Cabe a todos divulgar essas verdades, sem se afetar com o ambiente de festa e o falso discurso de atividade cultural que tentam vender, para faturar às custas dos animais.

Vinicius Cordeiro é advogado, ex-Secretário de Proteção Animal do Rio de Janeiro.
Bruna Franco é ativista, dirigente da ONG ADDAMA e produtora executiva da ONG Celebridade Pet.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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