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Contra a fome e pelo direito à alimentação

É na luta do dia a dia que podemos aprender valiosas lições de cidadania

Juliana Dias - 25/01/2019 17h09


“Quem tem fome, tem pressa”
(Betinho, fundador da Ação da Cidadania).

Pela primeira vez nesta década, a fome voltou a crescer no mundo. Vale lembrar que o médico brasileiro Josué de Castro foi pioneiro em afirmar que as causas da escassez de alimentos não era um fenômeno natural. A raiz desse problema está nas políticas econômicas globais.

No ano de 2014, o Brasil saiu do Mapa da Fome da FAO ao reduzir a situação de insegurança alimentar para 3,7 milhões de pessoas, o que correspondia a 1,7% da população brasileira. No entanto, a volta da fome no país está sendo alertada por especialistas. O Relatório Luz (https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/14577.pdf), publicado por mais de 20 entidades da sociedade civil, informa que os números necessários para confirmar tal advertência serão disponibilizados em 2019.

Trago essa conversa para a coluna Papo de Cozinha porque a alimentação é central em nosso cotidiano. A partir dessa prática rotineira e trivial para alguns, podemos compreender o mundo e colaborar para transformar realidades. Portanto, esse não é um assunto para especialista, e sim para as pessoas que comem e as que não têm acesso ao alimento. É importante lembrar que a opção de Jesus sempre foi pelos pobres, órfãos, viúvas e pessoas que sofriam de qualquer tipo de discriminação.

Então, quando falo de comida, falo também de fome e da necessidade de garantir o acesso justo aos alimentos, em quantidade, qualidade e saudáveis, respeitando as tradições culturais de cada região, livre de agrotóxicos. Desde 2003, participo de movimentos em prol da Comida de Verdade (ver coluna anterior), como o Slow Food, e de espaços de diálogo entre governo e sociedade, onde podemos acompanhar as políticas públicas no campo da alimentação, agricultura e nutrição e propor sugestões.

É o caso do Conselho de Segurança Alimentar do Rio de Janeiro (Consea-Rio) e do Consea Nacional, que aconselhava diretamente a Presidência da República, este último extinto por uma Medida Provisória (MP Nº 870, de 01/01/2019) e no qual atuei como conselheira no período de 2016 a 2018, representando o segmento da Gastronomia pelo Instituto Maniva.

A extinção do Consea Nacional motivou dezenas de organizações da sociedade civil em todo o país a defender seu retorno. No Rio de Janeiro, cerca de 30 organizações, como a Ação da Cidadania e o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), do qual faço parte, lançaram a Frente Contra a Fome e Pelo Direito à Alimentação. Participam dessa mobilização ONGs, conselhos regionais de Nutrição, Conseas municipais e o estadual, universidades, movimentos agroecológicos e indígenas, mandatos parlamentares, entre outras organizações.

O primeiro ato público acontecerá no domingo, dia 27/01, no Aterro do Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro. A partir das 10h. A Frente convoca toda a população para participar do ato, levando pratos vazios que serão colocados em uma mesa de 1 Km, montada na pista fechada entre as ruas Barão do Flamengo e Correia Dutra. O evento tem presença confirmada de dois ex-presidentes do Consea, Francisco Menezes (Ibase) e Maria Emília Pacheco (Fase), integrantes do Fórum; e de Daniel Sousa, filho de Betinho (Ação da Cidadania).

O ato se propõe a ser informativo, educativo e propositivo. Haverá banners com explicações sobre o que é o Consea, sua relevância, a importância da Comida de Verdade e a iminência do Brasil voltar ao Mapa da Fome da ONU, do qual saiu em 2014. A frente ainda fará a convocação para a adesão ao Banquetaço, mobilização nacional que acontecerá no dia 27 de fevereiro, também em defesa do Consea. Se você estiver no Rio de Janeiro, é nosso convidado para essa programação de domingo, voltada para toda a família. É na luta do dia a dia que podemos aprender valiosas lições de cidadania.

Juliana Dias é jornalista e pesquisadora na área de alimentação, comunicação e cultura. Possui doutorado em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia (HCTE/UFRJ) e mestrado em Educação em Ciências e Saúde (Nutes/UFRJ). Coordena os cursos de pós-graduação e extensão em Jornalismo Gastronômico na Facha, integra a Comissão de Gastronomia do Estado do Rio de Janeiro .
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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