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Fazer bolos é uma terapia

Para cozinhar é preciso pôr a mão na massa, e acredite: é um exercício muito gostoso e relaxante

Juliana Dias - 14/09/2018 09h59

Comer envolve relacionamento com pessoas, ingredientes, saberes e lugares. O que comemos alimenta também as memórias desde à infância. São lembranças duradouras que a qualquer tempo podem ser ativadas por um cheiro ou a visão de uma refeição.

A escritora irlandesa Edna O’brien afirma que a comida é um “gatilho emocional para nos lembramos de coisas há muito esquecidas”. Para Edna, um bolo de laranja não é simplesmente aquele que está comendo. É o bolo que a sua mãe fazia. “Experimento esse bolo nos momentos mais estranhos (…) não como comida, mas como a essência de um tempo, de um lugar, de sol, de chuva, de alegria ou conflito”.

Mas para provar o bolo, alguém tem que prepará-lo. Cozinhar nos ajuda a construir essas memórias que nos afagam e confortam. Quem não tem essas recordações, pode começar a construí-las. A cozinha é um lugar de transformações, tanto dos alimentos que passam pelo fogo, como de nós que somos nutridos no corpo e nos sentimentos, que dão sentido à nossa história e identidade.

Michael Pollan, jornalista e ativista alimentar norte-americano, no livro Cozinhar: uma História Natural da Transformação, editora Intrínseca, afirma que a tarefa é “importante demais para ser deixado a cargo de um só integrante da família. Os homens e as crianças também precisam ir para a cozinha, e não apenas por uma questão de justiça e igualdade, mas porque têm muito a ganhar com isso”.

A conclusão de Pollan está alinhada com as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira. Exercitar e partilhar habilidades culinárias é um dos 10 passos para uma alimentação adequada e saudável. Da mesma forma, no campo da Educação Alimentar e Nutricional, a cozinha é vista como uma prática emancipatória, ou seja, está associada à autonomia, ao cuidado e ao autocuidado.

Saber preparar o próprio alimento permite ampliar conhecimentos e possibilidades sobre a origem da comida, do campo ao prato. Cozinhar pode ser uma das atividades mais prazerosas, principalmente quando dá certo. E só se aprende cozinhar colocando a mão na massa. Por isso, compartilho uma receita que utilizo em projetos na área de alimentação em escolas, e que também faz sucesso em encontros com amigos e familiares. É o Bolinho de abobrinha, da Vera Saboya, proprietária do restaurante Fazenda Culinária, localizado no Museu do Amanhã, no centro do Rio de Janeiro.

Vera também é escritora. E em seu livro, Ateliê Culinário para Viagem: Crônicas, Receitas e um Pequeno Guia Gastronômico, editora Zahar, que é um dos meus preferidos, as receitas funcionam e são deliciosas. De acordo com ela, “a mistura de abobrinha verde com o açúcar mascavo, a baunilha e a canela dão muito certo”.

Fazer bolos, para mim, é uma terapia. Por vezes, depois de um dia mergulhado na escrita, gosto de preparar um bolo, de preferência com meu filho Daniel, de 8 anos. Enquanto o cheiro da massa perfuma a casa, gosto de ler um livro. Gosto de comê-lo ainda quente, saindo fumaça. Comparo o ato de cozinhar com o de escrever. Ao combinar as palavras, temos a intenção de liberar seus significados, evocar reações. De igual forma, é preciso saber misturar os ingredientes provocar os sentidos.

O escritor Antônio Prata na crônica Time is Honey explica que bolo “é uma demonstração de carinho de uma pessoa a outra. É um mimo de avó. Um acontecimento inesperado que irrompe no meio da tarde, alardeando seu cheiro do forno para a casa, da casa para a rua e da rua para o mundo. É o que a gente come só para matar a vontade, para ficar feliz, é um elogio ao supérfluo, à graça, à alegria de estarmos vivos”.

Ingredientes do bolo de abobrinha Foto: Mariana Moraes

Então, vamos à receita:

Ingredientes:

2 ovos
1 xícara de óleo de girassol
2 xícaras de açúcar mascavo
1 colher de chá de baunilha
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento
1 colher de chá de bicarbonato
1 colher de chá de sal marinho
1 colher de chá de canela
2 xícaras de abobrinha picada em cubinhos
½ xícara de passas pretas
Se puder, escolha ingredientes orgânicos.

Modo de fazer:
Preaqueça o forno em temperatura média (em torno de 180º). Misture os ovos, o óleo, o açúcar e a baunilha. Se preferir, pode bater no liquidificador nesta mesma ordem.

À parte, misture a farinha, o fermento, o bicarbonato, o sal e a canela. Junte a massa úmida aos ingredientes secos. Adicione as passas e a abobrinha.

Asse em fôrmas untadas e enfarinhadas ou em forminhas de alumínio forradas com forminhas de papel (aquelas de cupcake). O tempo de forno é de, aproximadamente dez minutos.

Rende cerca de 24 bolinhos.

Harold McGee, escritor na área de ciência dos alimentos e cozinha é autor do livro Dicas para Cozinhar bem: um Guia para Aproveitar Melhor os Alimentos e as Receitas, editora Zahar. Ele ensina como preparar, por exemplo, bolos e muffins. Aqui vão as dicas:

  • Peneire a farinha e o fermento para dar mais leveza à massa;
  • O óleo fica velho e então rançoso quando aberto e guardado por meses;
  • Experimente o óleo antigo antes de usar para fazer bolos;
  • Para testar o fermento em pó, derrame água quente sobre uma colherada em uma tigela; ele deve borbulhar vigorosamente. Se não o fizer, descarte;
  • Para fazer cupcakes, preencha ⅔ das forminha;
  • Verifique logo o ponto para evitar que sequem e retire os cupcakes. Espete um palito de dente no centro. Se sair seco, retire do fogo e deixe esfriar.
Deguste com prazer esse incrível bolo de abobrinha Foto: Mariana Moraes

Aventure-se na cozinha! Teste o bolo de abobrinha. Cai bem com um café para quem gosta da combinação.

Juliana Dias é jornalista e pesquisadora na área de alimentação, comunicação e cultura. Possui doutorado em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia (HCTE/UFRJ) e mestrado em Educação em Ciências e Saúde (Nutes/UFRJ). Coordena os cursos de pós-graduação e extensão em Jornalismo Gastronômico na Facha, integra a Comissão de Gastronomia do Estado do Rio de Janeiro .
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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