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Seita é investigada por crimes sexuais e agressão física

Um dos membros da Jesus Army relatou ter sido abusado aos 6 anos

Rafael Ramos - 23/07/2019 12h33 | atualizado em 23/07/2019 12h34

Seita religiosa está sob investigação policial Foto: Reprodução

Criada em 1969, pelo pastor Noel Stanton, no presbitério de uma pequena capela em Northamptonshire, na Inglaterra, a Jesus Fellowship Church, que mais tarde viria a ser conhecida com Jesus Army ou Exército de Jesus, está no centro de um polêmica no Reino Unido. Centenas de ex-integrantes da comunidade acusam a seita religiosa de abusos de origem sexual, física e emocional ocorridos durante os anos 80 e 90.

A Jesus Army chegou a ter mais de 2 mil integrantes. Dentre eles, alguns viviam em casas comunitárias no centro da Inglaterra. Os líderes ofereciam a promessa de transformação por meio de da devoção. Os que se aliavam à seita eram submetidos a um regime de trabalho e culto com toda renda direcionada a um fundo comum.

Roupas íntimas e responsabilidades parentais eram compartilhadas. Dessa forma, as crianças podiam ser disciplinadas por qualquer adulto e, ao completarem 12 anos, eram separados dos pais. Algo tão comum como adultos entrando em seus quartos para verem os jovens tomando banho. Inclusive, os jovens e recém-chegados tinham seu desenvolvimento espiritual supervisionado por um pastor do sexo masculino.

AGRESSÕES E ESTUPROS
Membros contaram à BBC que Noel Stanton pregava diariamente sobre os pecados da carne e condenava os membros rebeldes ao inferno. Após a morte do líder, em 2009, a polícia de Northamptonshire recebeu várias denúncias. Ao total, 43 pessoas ativas na igreja ligadas a relatos de estupros, intimidação, lavagem cerebral, trabalho forçado, servidão financeira e surras bárbaras de meninos por grupos de homens.

Na época dos abusos, crianças de até 3 anos tinham suas calças retiradas e eram obrigadas a se curvar e segurar os tornozelos enquanto eram espancadas com vara. De acordo com a investigação, cinco ex-líderes do Jesus Army agiram para encobrir as denúncias. Um porta-voz da seita disse que há um plano de reparação formal sendo criado para fornecer dinheiro e aconselhamento às vítimas.

Igreja foi fundada pelo pastor Noel Stanton, que pregava severamente contra o pecado Foto: Reprodução

Rose (nome fictício) relatou à BBC que ainda era um bebê quando sua família se mudou para uma casa comunal da seita nos anos 1980. Aos 12 anos, ela era molestada todo fim de semana por um homem mais velho.

– Tudo em nós era resultado do pecado e desenvolvi uma completa aversão a mim mesma por causa dessa mensagem. Na época, eu não sabia o que estava acontecendo. Não tinha pensado ou falado sobre meu corpo e ele usou isso para me molestar. A situação era estranha e desconfortável, mas sentia ele deveria ter uma razão para fazer isso.

Aos 15 anos, ela foi forçada a ter relações com outro homem, que sempre tratavam as mulheres como seres inferiores e que corrompiam membros do sexo masculino. Por isso, Rose foi considerada culpada pela igreja quando seu agressor contou o que havia acontecido.

Outra história é de Ben (nome fictício), que nasceu na comunidade na década de 80. Ele foi abusado sexualmente aos 6 anos. Quando completou 17, Ben se afastou da família e abandonou a igreja. Um dos irmãos do rapaz revelou posteriormente que foi estuprado durante parte de sua adolescência.

– Acredito que pelo menos cinco de nós foram abusados ​​de uma forma ou de outra. Tenho raiva da igreja por causa do que fizeram com minha família. Se eles escolheram ignorar isso ou deixar a cargo de Deus, ainda são culpados por terem deixado acontecer. Ainda há pessoas boas na igreja que tem as melhores intenções. Mas tudo foi ofuscado pelo que aconteceu nas casas comunitárias.

“TUDO ERA PROIBIDO”
Philippa Muller, que aceitou se identificar à emissora inglesa, se juntou ao Exército de Jesus aos 7 anos. O pai trabalhava no escritório de impostos local e entregava tudo ao fundo comunitária da igreja. A mãe passava seu tempo cozinhando e limpando para garantir que os homens da casa pudessem fazer seu trabalho piedoso.

Philippa Muller entrou para o Jesus Army, aos 7 anos, com a família Foto: Reprodução

– Eu cresci com uma impressão muito negativa sobre o que era ser mulher. Você não podia simplesmente ir tomar um café com alguém, ou ir ao cinema. Tudo era proibido. Não nos permitiram socializar. Não tínhamos TVs. As coisas eram censuradas, pedaços dos jornais eram cortados – revelou Philippa.

O patrimônio da seita acumula cerca de 50 milhões de libras, o equivalente a mais de R$ 230 milhões. A Jesus Army está à beira do fechamento e um grupo de vítimas está preparando uma ação legal coletiva envolvendo centenas de pessoas.

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