EUA assinam acordo de paz histórico com Talibãs
Negociações duraram mais de um ano
Pleno.News - 29/02/2020 14h54
Os Estados Unidos e o Talibã assinaram neste sábado (29) um acordo de paz histórico, para tentar colocar fim a um conflito de quase 20 anos.
Em um evento em Doha, no Qatar, o negociador americano, Zalmay Khalilzad, e o mulá Abdul Ghani Baradar, assinaram o texto, e em seguida, deram um aperto de mãos.
Pelo acerto, o Talibã se compromete a parar de fazer ataques, a não apoiar grupos terroristas e a negociar com o governo afegão. Em troca, todas as tropas dos EUA e da coalizão da Otan deixarão o país até abril de 2021, e o Talibã ficará livre de sanções, caso os termos acordados sejam cumpridos.
Os governos dos EUA e do Afeganistão prometeram libertar cerca de 5 mil prisioneiros ligados ao Talibã. Em troca, o grupo soltará cerca de 1 mil presos.
A retirada de tropas será feita de forma gradual ao longo de meses, e o número de militares estrangeiros no Afeganistão será reduzido de cerca de 14 mil para 8,6 mil até julho. No entanto, caso haja o retorno da violência no pais, o processo poderá ser revertido.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, discursou no evento e disse que o Talibã se comprometeu a cortar seus laços com Al Qaeda, a combater o Estado Islâmico e a manter os progressos obtidos pelas mulheres desde 2001.
O Talibã defende uma visão radical de preceitos islâmicos. Quando esteve no governo, as mulheres não podiam estudar ou trabalhar fora de casa, e tinham de usar burcas para sair às ruas. Há temores de que com a volta do grupo à política, as mulheres possam voltar a ser subjugadas.
O mulá Abdul Ghani Baradar firmou o acordo em nome do Talibã e disse que o grupo está comprometido com os termos. Ele convocou os políticos e outros grupos afegãos a construir um regime islâmico para o país e pediu que Paquistão, Indonésia, China e Rússia participem da reconstrução nacional.
Os EUA também se comprometeram a não se envolver em questões domésticas do Afeganistão e a enviar recursos para equipar as forças de segurança afegãs. Há também a promessa de retirar as sanções contra o Talibã até agosto.
É a primeira vez que EUA e Talibã realizam um evento público conjunto para anunciar medidas de paz. Os dois grupos realizaram negociações secretas ao longo de anos, que foram sendo reveladas aos poucos a partir de 2018.
Em setembro, Trump cancelou uma reunião secreta que faria com o Talibã, em solo americano, porque os insurgentes seguiram fazendo atentados enquanto as conversas eram realizadas.
Apesar do tom histórico do evento, líderes dos EUA e da Otan mostraram comedimento ao estimar as chances de sucesso do acordo. Pompeo disse que o Talibã mostrou boa vontade ao respeitar uma trégua de uma semana, que antecedeu o acordo, mas que o monitoramento do cumprimento dos termos será firme.
A Otan deu apoio ao acordo de paz, mas lembrou que o processo não será simples.
– Temos que estar preparados para reveses e incidentes – disse Jens Stoltenberg, secretário-geral da entidade, que une forças militares de vários países.
O ponto mais sensível do acordo é que as conversas entre o Talibã, o governo afegão e outras forças do país ainda precisam ser iniciadas. O Talibã até então se recusava a falar com o governo, pois o considerava um marionete dos EUA.
Agora, as negociações internas estão programadas para começar em 10 de março.
As Forças Armadas dos EUA invadiram o Afeganistão em 2001, após o 11 de Setembro, e removeram o Talibã do governo. O grupo foi acusado de dar abrigo à rede Al Qaeda, que realizou os atentados.
Houve eleições a partir de 2004, mas queixas de fraude, corrupção e brigas afetaram a credibilidade do governo. Enquanto isso, o Talibã, que defende uma interpretação radical dos preceitos islâmicos, foi ressurgindo e fazendo ataques, ao lado de outros grupos rebeldes.
Caso funcione, o acordo será um trunfo para o presidente Donald Trump, que busca o segundo mandato na eleição de novembro. Ele prometeu diversas vezes acabar com o que chama de “guerras sem fim”. O líder americano reclama que os soldados fazem pouco mais do que um trabalho de polícia e que a guerra demanda muito dinheiro.
Para os afegãos, há temores de que, sem a presença militar estrangeira, etnias e regiões rivais entrem em conflito e que isso gere uma guerra civil como a dos anos 1990.
A democracia afegã enfrenta questionamentos internos. O presidente Ashraf Ghani, foi declarado reeleito em 18 de fevereiro, cinco meses após a realização da eleição, processo que atrasou devido à revisão de votos. Com a demora, opositores ameaçaram rejeitar o resultado e formar um governo paralelo.
*Folhapress
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