Covid-19 suspendeu 1 milhão de cirurgias não urgentes no SUS
Especialistas apontam que, nos próximos meses, pode haver demanda explosiva por procedimentos
Pleno.News - 16/04/2021 09h38 | atualizado em 16/04/2021 11h26

A pandemia de Covid-19 provocou a suspensão de pelo menos 1 milhão de cirurgias eletivas (não urgentes) no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2020. O número consta de levantamento da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde (Abraidi). O setor estima que, considerados os setores público e privado, a queda média nos procedimentos cirúrgicos no ano passado tenha sido de 59,8%. Em algumas regiões, o recuo teria chegado a 90%.
O levantamento, feito com empresários do setor, constatou queda de 50,8% no faturamento das empresas de produtos para saúde em 2020. O motivo foi a redução nos procedimentos cirúrgicos. O trabalho estava previsto para ser apresentado ontem, no fórum do setor. As empresas fornecem próteses, implantes, stents, marca-passos, entre outros dispositivos usados em cirurgias.
– Fomos afetados com a pandemia muito mais do que outros segmentos – afirma o presidente da Abraidi, Sérgio Rocha, com base nos dados levantados. O objetivo da redução das cirurgias eletivas foi liberar recursos, pessoal e instalações para enfrentar a Covid-19.
Especialistas estimam que, nos próximos meses, pode haver demanda explosiva por procedimentos. Ao mesmo tempo, a pandemia se prolonga.
A combinação dos dois processos poderá pressionar ainda mais um sistema de saúde já quase colapsado, segundo Rocha.
– Embora cirurgias eletivas não sejam urgentes, têm um tempo para acontecer, a condição dos pacientes pode se agravar.
MEDO
Esse é o receio do trabalhador rural Celso Moura dos Santos, de 58 anos, morador de Araçoiaba da Serra (SP). Ele estava com uma cirurgia de artoplastia, procedimento para corrigir a articulação no joelho esquerdo, marcada para o dia 15 de março, em Votorantim.
– Uma semana antes, ligaram do hospital avisando que a cirurgia não seria realizada por causa da pandemia. Vou ter de esperar mais tempo. O pior é que está cada vez mais difícil fazer as tarefas – conta ele, que aguarda há mais de um ano.
O trabalhador já não consegue mais dirigir o trator. Como a doença é degenerativa, ele teme que as condições piorem.
– Com a pandemia, os serviços também são poucos, e, na minha condição, fica difícil encontrar quem me pegue para trabalhar.
Já a aposentada Maria Aparecida Santos, de 69 anos, deu entrada em um hospital de Sorocaba com quadro de dores intensas no abdome. O diagnóstico, segundo a família, foi de pancreatite aguda provocada pelo acúmulo de pedras nos rins e na vesícula.
– A decisão médica foi pela cirurgia para a retirada dos cálculos [pedras], e ela ficou internada com esse objetivo, mas aí entrou a questão da pandemia. Os médicos disseram que, se as dores voltarem, ela deve ser levada ao hospital para nova avaliação, mas só operam se for urgência – afirma o neto, Matheus Oliveira, de 20 anos.
Para 86% dos empresários do setor, a retomada deverá começar só no fim do segundo semestre ou em 2022.
– Quando a maioria da população estiver vacinada, provavelmente no fim deste ano – prevê Sérgio Rocha.
*Estadão
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