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Professor bomba com aulas de matemática na internet

Rafael Procopio começou sem grandes pretensões. Matemática Rio já tem mais de 800 mil inscritos

Henrique Gimenes - 08/08/2017 10h10 | atualizado em 19/12/2017 15h50

Rafael Procopio Foto: Reprodução

Quando, em 2010, o professor Rafael Procopio começou a publicar vídeos com conteúdo de matemática na internet, ele não imaginava que as pessoas fossem assistir e gostar. O resultado, sete anos depois, é o canal Matemática Rio no YouTube, que já possui mais de 820 mil inscritos, e um portal dedicado ao ensino da matéria.

No canal, além de dicas de matemática, é possível encontrar conteúdo para o Enem e outros vestibulares juntamente com curiosidades, problemas de lógica e dicas de estudo. Tudo produzido para o canal é feito somente por Rafael. É ele quem idealiza cada vídeo, grava, edita e disponibiliza o novo conteúdo. Já em seu portal, que possui outros conteúdos, Procopio conta com uma equipe para ajudá-lo.

O projeto deu tão certo, que, em 2015, o professor parou de ensinar em sala para se dedicar inteiramente à internet. Procopio, que veio de origem humilde e sempre foi professor em colégios públicos, considera que, deste modo, consegue alcançar mais pessoas. Apesar disso, ele ainda faz palestras e dá “aulões” pelo Brasil, para manter contato presencial com os alunos.

Em entrevista ao portal Pleno.News, Rafael Procopio fala sobre sua trajetória.

Como você decidiu pela matemática?
Eu tinha dúvida entre língua portuguesa e matemática. Um dia uma amiga pediu ajuda antes de uma prova de matemática e eu não tive mais dúvidas. No final das contas, a nota dela foi maior do que a minha. A partir dali eu falei: caramba! Eu consigo entrar na cabeça das pessoas e mudar a vida delas. Claro, não mudo a vida delas por causa disso, mas a gente consegue mudar o pensamento da pessoa através das nossas ações.

Como foi o começo da carreira de professor?
Ao me formar, fui dar aula em um colégio numa comunidade carente da Zona Oeste do Rio. Os alunos não queriam estudar, não gostavam da matéria. Cheguei a ter até problemas com violência escolar. Em 2009 pensei em desistir de ser professor. Até fiz um curso de guia de turismo. Em 2010, porém, eu mudei de escola. Fui parar numa escola chamada Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, no Rio de Janeiro. Foi onde minha vida mudou completamente. Os alunos eram bacanas, muitos se interessavam em seguir alguma coisa. E a escola tinha alguns projetos legais, entre eles o Cine Clube nas Escolas. Tinha uma câmera lá que a gente podia usar para gravar vídeos com os alunos.

Como foi o início do canal Matemática Rio?
Foi no novo colégio. Começamos a produzir vídeos de diversos assuntos, como drogas, coisas assim para a escola. Eu falei ‘adoro fazer vídeo, adoro matemática. Por que não juntar os dois mundos?’. Então comecei a produzir vídeos de matemática para mim, no início com o objetivo apenas de colocar na internet. As pessoas foram descobrindo com o passar do tempo e o Matemática Rio foi crescendo. Minha maior dificuldade no início era a parte técnica de como encontrar a melhor imagem, a melhor forma de me expressar. Tudo isso fui ganhando com o passar do tempo.

Alguns dos videos do canal Matemática Rio Foto: Reprodução

Como foi o crescimento do canal?
No primeiro ano, eu cresci mil inscritos e pensava “Caramba, mil pessoas se conectando a mim”. Em 2011 eu acabei o ano com 3 mil. Em 2012 o ano terminou com cerca de 10 mil inscritos e eu falava “caramba, é muita gente”. Em 2013 a gente finalizou o ano com cerca de 40 mil inscritos. Em 2013, a gente lançou uma paródia. Eu fiz a letra da música, chamada “Bonde das Matemáticas”, que bombou! Tem 10 milhões de visualizações. Foi uma surpresa total! Não pensei que fosse bombar tanto. Foi dali que comecei a ser conhecido, em maio de 2013.

E o que aconteceu depois?
Ainda em 2013 fui convidado para o YouTube, para um programa de criadores deles chamado YouTube Creator Camp Brazil 2013. Acabei ganhando esse evento. Fui para os Estados Unidos, ganhei um prêmio em dinheiro e pude comprar materiais. Comprei câmera, comprei lente, comprei mesa digitalizadora. Dali em diante meu canal não parou mais de crescer. Em 2014 finalizamos com 100 mil inscritos. Em 2015 finalizamos com 200 mil. Em 2016, terminamos o ano com 500 mil e hoje estamos indo rumo a 1 milhão… Essas coisas me surpreenderam bastante, da pessoa gostar, se inscrever no canal e seguir a gente.

Quais as vantagens de dar aula pela internet?
Hoje na internet você consegue ser tão bom ou, na maioria das vezes, até melhor do que a própria sala de aula, porque a gente na internet consegue se aprofundar o máximo possível nos temas, enquanto que na sala de aula tem várias limitações. O professor tem limitação de tempo, tem que seguir o cronograma. Já na internet não, não temos essas limitações. Não tem problemas com ficar pausando a aula para ficar brigando com aluno.

Quais as maiores dificuldades encontradas pelos alunos?
O conteúdo que os alunos tem mais dificuldade são os conteúdos de matemática básica. Tudo isso que você aprende no ensino médio exige que você tenha uma bagagem de matemática básica. O que eu tento é exatamente tornar a experiência de aprendizagem em matemática a mais palatável possível. A mais tranquila para que o aluno não fique com aquele ranço, de que a matemática é chata, e não tem aplicação na vida. Eu tento desfazer isso no canal.

Procopio dando um “aulão” em 2016 Foto: Reprodução/Facebook

O que pensa da escola pública no Brasil?
Sou um grande defensor da escola pública. Acho que o ideal seria que todo mundo tivesse oportunidade de estudar em escola pública para que ela fosse mais democrática possível e não tivéssemos essa distorção de aprendizagem entre a escola pública e a escola privada. Eu tenho como ideologia que o acesso a educação tem que ser, óbvio que nada é de graça nesse mundo, mas tem que ser ou gratuito ou o mais barato possível. É por isso que eu entrei pela internet.

E quais as diferenças do ensino público para o particular?
Na escola privada, quando o pai ou a mãe pagam, há uma maior cobrança dos seus filhos. Na pública não há uma cobrança. Não vemos nas pessoas humildes, mais carentes, essa preocupação que o filho estude e faça as atividades. Os responsáveis são grandes influenciadores na vida dos filhos e eles devem interferir sim, de maneira positiva, no aprendizado das crianças.

O que acha sobre a reforma do ensino médio?
Acho complicado colocar na cabeça do nosso estudante, principalmente o de origem mais humilde, carente, que eles decidam aos 14, 15 anos de idade qual área do conhecimento tem que seguir. Eu sei que eles não vão escolher a profissão ainda, mas vão escolher a área do conhecimento e acho que a maioria vai querer distância da matemática e da área de ciências exatas e ciências no geral.

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