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Profissional de resgate explica ação em desabamento

Há 20 anos atuando em operações de salvamento, o socorrista J. Silva traz informações sobre protocolos e a ação dos bombeiros em Itanhangá

Virgínia Martin - 15/04/2019 13h32 | atualizado em 15/04/2019 13h42

Após três dias do desabamento de dois prédios na Muzema, comunidade localizada no bairro do Itanhangá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, ocorrido na manhã de sexta-feira (12), equipes do Corpo de Bombeiros continuam no trabalho de resgate. Até este momento, o número de mortos encontrados sob os escombros chegou a 11. As buscas estão sendo realizadas por socorristas e cães farejadores.

Tragédias como esta e a ocorrida em Brumadinho (MG) em janeiro deste ano comprovam a importância da atuação de profissionais de saúde e de resgate. Socorristas com formação especializada e treinados para todos os tipos de situação são vistos como heróis pela população. São eles que conhecem os protocolos e que gerenciam as crises diante dos riscos de morte.

Pleno.News buscou mais esclarecimentos sobre quais são os procedimentos utilizados por estes profissionais e conversou com Joelson da Silva Gomes, socorrista há 20 anos e ativo em causas humanitárias. Ele acumula experiência e um currículo de alta competência. J. Silva, nome de guerra, é formado em Enfermagem, mestre em Ciências da Saúde, instrutor internacional em Primeiros Socorros, instrutor nacional em Defesa Civil, guarda-vidas, treinado em cursos no exterior.

J. Silva criou seu próprio centro de treinamento em 2009, o Instituto CECATE. O trabalho nasceu da necessidade de formar equipes especializadas em capacitação profissional no sistema de educação continuada e atendimento de emergência em situações de desastres e catástrofes.

No caso de desabamento em concreto sobre pessoas (Itanhangá), como se dá o primeiro protocolo de resgate dos bombeiros?

Em casos de acidentes em estruturas colapsadas, que é o caso característico do Itanhangá, existe um protocolo próprio do bombeiro de atendimento, em que a primeira coisa a ser feita é isolar a área. Chamamos de área quente, a mais crítica e perigosa, em que apenas pessoas habilitadas com curso específico podem adentrar. Isso se á porque existem riscos de novos desabamentos, riscos de explosões, riscos de ações por gases liberados durante o desmoronamento. Então, é um trabalho assíduo, fechado, onde somente pessoas técnicas podem adentrar.

O que não deve ser feito nestes momentos de emergência e a população deve entender?

A população deve entender que não se deve entrar em uma estrutura colapsada sem o conhecimento técnico e sem a ciência da autoridade pública competente. A população deve saber que, em uma estrutura colapsada, onde houve um desmoronamento, um desabamento, há riscos vigentes diversos como pontas de ferros e estruturas, chamadas de arestas vivas. Quem adentrar pode se tornar mais uma vítima. Pode até acontecer um segundo desabamento parcial.

Como citei anteriormente, pode haver liberação de gases locais e a pessoa ficar intoxicada. Então, a regra número 1 é isolar a área. Ninguém entra, mas o correto é aguardar o salvamento ou orientação da autoridade pública competente, quer sejam bombeiros, SAMU, Defesa Civil, Guarda Municipal ou a própria Polícia Militar.

Como profissionais bombeiros são preparados para ações de resgate?

Os treinamentos dos bombeiros para ações de resgate são diversos. São intensos, exaustivos, com simulações mais próximas das situações reais possíveis. São treinamentos em áreas restritas. Por exemplo, no caso desse incidente em Itanhangá, existem treinamentos de resgate em estruturas colapsadas que envolve cães, alguns objetos eletrônicos para identificação, iluminação, chegada ao local e ascensão ao local das vítimas.

Há vários tipos de salvamento. Se for salvamento em altura, tem treinamento específico, se for treinamento aquático, há uma formação para isso. Lembrando que, cada tipo de salvamento, tem seus EPIs (Equipamento de Proteção Individual) e os EPCs (Equipamento de Proteção Coletiva). Todos são fundamentais para o agente de resgate e para as pessoas envolvidas.

Em Itanhangá, de que forma organizam o trabalho?

Primeiro objetivo: identificar a estrutura do prédio e número de moradores ou pessoas existentes no local. Todo salvamento em estrutura colapsada deve ser feito já com estimativa de quantos moradores havia no local, a fim de se ter uma ideia do número de vítimas e o tempo a ser trabalhado, número de equipes e equipamentos necessários no local. Logo em seguida, é preciso saber o número de vítimas e os riscos secundários que talvez teria ou tenha.

É preciso fazer um levantamento da planta baixa, da estrutura física do terreno, da construção… Por isso, é importante isolar a área e ninguém adentra enquanto os técnicos não permitem essa entrada ou iniciam essa incursão. Muitas vezes, algumas pensam: “Ah, o bombeiro chegou na área e não estão fazendo nada”. Estão fazendo sim. Estão organizando tudo, conforme os protocolos, a fim de evitar algo pior. Primeiro, trabalha-se com a inteligência para depois fazer o salvamento. Porque não tem como o bombeiro entrar para fazer um resgate sem risco de se tornar uma segunda vítima.

Nesta atual fase de resgate em Itanhangá, com remoção de vários corpos, o que os bombeiros estão fazendo e como se dará o restante da operação?

Qualquer resgate em estruturas colapsadas é sempre um grande risco. Durante toda a operação o risco é vigente. Não existe possibilidade de esmorecer ou de relaxar quanto à segurança de resgate em estruturas colapsadas. Neste momento em Itanhangá, o serviço que está sendo feito é de resgate passivo de vítimas, quando não mais se espera encontrar pessoas vivas, infelizmente. É um trabalho muito árduo, lento e progressivo, e feito com toda cautela. É isso que os bombeiros estão fazendo dentro de nossa organização no quesito salvamento.

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