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Mangueira: Ex-mestre-sala fala da polêmica do Carnaval

Quando criança, William Braga foi consagrado à entidades espirituais, tornou-se mestre Lilico e campeão nos anos 80, mas foi impactado por Jesus. Hoje é pastor e revela o que há por detrás da festa carnavalesca

Virgínia Martin - 20/02/2020 13h26 | atualizado em 20/02/2020 13h37

Às vésperas do Carnaval brasileiro, Lilico da Mangueira, ex-mestre-sala da escola de samba, fala ao Pleno.News sobre novas polêmicas em torna da grande festa popular em 2020. Lilico hoje é William Lourenço Braga, pastor da Igreja Batista Nacional Monte Hermom, em Vigário Geral, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. Em 1990, teve uma experiência impactante com Deus em pleno desfile na Avenida Sapucaí, na capital carioca. A partir deste episódio, o conhecido campeão nota 10 da Mangueira passou a ver o Carnaval de outra forma.

William Braga nasceu e foi criado em um ambiente de ocultismo, envolvido por práticas de umbanda. Foi dedicado ao diabo aos quatro anos de idade. Sua família foi a segunda a povoar o morro da Mangueira e ainda fundou a escola de samba com o mesmo nome. Entre o samba e a feitiçaria, o pastor conviveu com rituais e oferendas e hoje sabe muito bem sobre os efeitos que simples atividades carnavalescas trazem às pessoas.

Após deixar fama e dinheiro para trás, William Braga se mostra feliz e em paz com sua vida e trabalho. Atualmente é funcionário do Ministério da Saúde. Nesta entrevista no estúdio do Pleno.News, ele aborda justamente sobre o atual samba-enredo da Mangueira, que vai trazer Jesus para o desfile e ainda terá a participação do pastor Henrique Vieira. O pastor é contra e aprofunda a discussão.

Acompanhe texto, podcast e vídeo de Pleno.News Entrevista.

Pleno.News Entrevista
William Braga
por Pleno.News - 20/02/2020

Formação

Desde criança, William Braga servia à três entidades. E relata que quando saia sambando na Mangueira, se vestia caracterizado de uma delas. Em certo ano, foi como óxossi, em outro, como escravo de exu e assim por diante. Diz que não incorporava porque sua linhagem não era de incorporar, mas fazia oferendas.

O ex-mestre-sala é contra a participação de igrejas no Carnaval e aprofunda a polêmica – Foto: Pleno.News Foto: Pleno.News

Samba-enredo

Na entrevista, William Braga explica que um carnavalesco sempre desenvolve uma arte, baseado em um tema. Mas qual seria o objetivo com este enredo? Para ele, se for para perverter o Evangelho, o autor carnavalesco terá que lidar diretamente com Deus depois. E afirma que não sai em defesa do Evangelho porque Jesus não precisa de advogado.

Mas acredita que os efeitos das letras, das ideologias podem ser maléficos para alguém que não tem base cristã. Ele não se sente afetado em nada. Sabe que o diabo já está derrotado e viu isso em sua própria vida.

Sobre crentes que participam do Carnaval

Ex-Lilico da Mangueira ressalta que não vai mais para a avenida sambar nem canta samba. Se foi liberto de tudo isso e sabe o que há por trás, afirma que não pode voltar para algo que o aprisionou.

Ele relembra uma situação em que foi substituir um músico durante uma apresentação de samba. Já era convertido, mas aceitou por causa do ganho financeiro. Mas quando estava tocando o atabaque, veio uma moça travestida de orixá que parou em sua frente e disse: “Você tá tocando pra mim, né? Tu não é filho daquele homem lá de cima?” William abaixou a cabeça e chorou. Havia sido convencido por muitos que diziam que se ele era um artista, poderia continuar sendo um artista, mesmo convertido. Mas aprendeu que não dá para agradar a Deus e ao diabo. E nunca mais participou de nada de Carnaval.

Bloco de igrejas

O pastor diz que já foi convidado para participar em blocos de igrejas e não aceitou. Não aceita mais se envolver com nada que tenha ligação com a festa. Sabe que as letras dos sambas saúdam orixás e pombagiras e que não é possível um crente dizer que saiu das trevas para a luz de Cristo, se está circulando pela escuridão. Questiona como crentes que se dizem lavados e remidos pelo sangue de Jesus podem ir para as ruas e se juntar com atividades que fazem homenagens à tantas entidades.

Como crentes que se dizem lavados e remidos pelo sangue de Jesus podem ir para as ruas e se juntar com atividades que fazem homenagens à tantas entidades?

Sobre pastor Henrique Vieira na Mangueira

William Braga lembra que quem semeia na carne, colhe na carne, quem semeia no espírito, colhe no espírito. Afirma que Carnaval nada tem de espiritual. E que a presença de Cristo e o espírito de Deus não fazem parte desta festa. Enfatiza que Carnaval significa festa da carne.

Tendências do Carnaval

Segundo William Braga, o Carnaval deixou de ser um evento cultural para ser um evento comercial. E hoje é também uma ferramenta ideológica. Acredita que desde 1987, o Carnaval perdeu sua essência. E usa o futebol como modelo. Para ele, o futebol tornou-se comercial. Um jogador não tem mais aquele apreço pelo clube, mas pelo salário que vai ganhar. O mesmo vem acontecendo com as escolas de samba. Em muitas, até o ritmista recebe salário. Conclui que o Carnaval já foi poético e que em torno de dez anos corre o risco de se extinguir.

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