Jade Nunes - 28/12/2017 10h43 | atualizado em 28/12/2017 11h01

No Japão é possível alugar amigos para posar em fotos no Instagram, contratar um namorado para um encontro de mentira ou falsos parentes para participar de eventos sociais. Incomum no Brasil, esses serviços contam com uma procura cada vez maior no país oriental.

O criador do empreendimento é Yuichi Ishii. Ele teve a ideia há uma década quando decidiu acompanhar uma amiga, mãe solteira, e se fez passar por seu marido durante uma entrevista em uma creche particular de Tóquio que não aceitava crianças de famílias monoparentais.

– Me dei conta de que existiam injustiças na sociedade japonesa, e vi que era possível oferecer serviços para cobrir esses vazios – conta Ishii.

Esse primeiro favor entre amigos foi seguido por outros, como reunir pessoas para se fingirem de convidados em vários casamentos. A partir de então, Ishii decidiu profissionalizar o serviço, ampliá-lo e promovê-lo pelas redes sociais.

Hoje a empresa conta com 1.200 funcionários, ou “atores”, como ele chama, e dispõe de um amplo menu que inclui o aluguel por hora de amigos, pais, mães, maridos, esposas, namorados, filhos ou colegas de trabalho.

Dezenas de companhias similares se proliferaram nos últimos anos, entre elas algumas dedicadas exclusivamente a pessoas solteiras ou de idade avançada, o que responde à queda do número de casamentos e ao acelerado envelhecimento demográfico no Japão.

Entre os diversos serviços oferecidos, como um acompanhante para ir à Disney ou apenas contemplar as sakuras (cerejeiras em flor), o mais popular é o aluguel de amigos para fazer selfies. De acordo com Ishii, o preço de um ator para esses casos é de 8 mil ienes (R$ 230). A empresa costuma receber 50 pedidos desse tipo por mês.

– As pessoas querem construir hoje em dia sua própria imagem através das redes sociais. Nós as ajudamos oferecendo acompanhantes atraentes, com estilo e que sabem posar – afirma Ishii.

Outros clientes buscam suprir necessidades muito diferentes, como quem contrata um namorado ou uma namorada para vê-los uma vez por semana por 15 mil ienes (R$ 440), ou os que alugam pais e mães para seus filhos em várias ocasiões ao mês, por 20 mil ienes (R$ 580) a sessão.

O próprio fundador da empresa está há vários anos se fazendo passar pelo pai de uma filha de mãe solteira, e disse que “dói muito cada vez que tem que se separar dela”, pois viu a pequena crescer e ela o considera como seu verdadeiro pai.

– Nesses casos não sei se estou atuando ou se são meus verdadeiros sentimentos – confessa Ishii.

Ele afirmou estar com a agenda tão lotada – cada um dos atores da sua empresa pode desempenhar papéis em até cinco famílias diferentes – que é difícil se imaginar formando a própria família.

O empresário aponta a cultura “omotenashi” (um conceito traduzível como “hospitalidade”), que obriga os japoneses a oferecer sempre sua melhor versão a outras pessoas, como um dos pontos responsáveis pelo sucesso da empresa.

– Para muita gente é mais fácil e agradável contratar um amigo ou um namorado que satisfaça suas necessidades emocionais, e com quem podem ser eles mesmos – reflete Ishii, cuja empresa tem como lema oferecer “relações melhores que as reais”.

*Com informações da Agência EFE

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