Jovem atleta teve talento descoberto em projeto social
Primeiro brasileiro a conquistar uma medalha de ouro no badminton em Jogos Pan-Americanos, Ygor Coelho, de 22 anos, é fruto de uma união improvável entre a favela da Chacrinha, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e a Dinamarca.
Revelado num projeto social fundado por seu pai, Sebastião Dias de Oliveira, ele mora no país europeu e trabalha sob o comando de Nadia Lyduch, que o conhece desde que ele tinha 17 anos e passou por um período de treinamentos no continente.
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Depois de participar dos Jogos Olímpicos de 2016, Ygor fixou residência na Europa. Viveu dois anos na França antes de se mudar para o país nórdico, no início deste ano. O salário de Lyduch é pago pelo Comitê Olímpico do Brasil desde fevereiro de 2018, numa aposta de que isso ajudaria a desenvolver o jogo do atleta. Os dinamarqueses estão entre as potências europeias do esporte, tradicionalmente dominado pela China.
Segundo Ygor, o método de trabalho da treinadora tem semelhanças com o do seu pai (“bem dinâmico”), mas ela vem mudando sua forma de jogar desde que iniciaram a parceria.
– Eu tinha certeza que tinha uma conexão com ela, e ela escolheu com muito carinho o lugar para eu treinar. Lá tem dois atletas da seleção da Dinamarca com a minha idade que são muito empenhados. Eu jogo a liga dinamarquesa, que tem atletas entre os 30 melhores do mundo, e venho ganhando deles – afirmou nesta sexta-feira (2), com a medalha de ouro no peito.
Lyduch chama o rapaz de Ygordinho, em referência aos diminutivos comuns entres os jogadores de futebol do Brasil.
– Ygor na Dinamarca é um nome russo, e ele não é russo em nada. Então todos disseram que estava errado – explicou.
Orientada por brasileiros que “gordinho” pode ser entendido de outra forma, ela se diverte, mas não abre mão do apelido.
– Claro que ele não é gordo. Acho que até deveria deveria estar escrito Ygordinho na camiseta dele, em vez de Coelho, mas acho que a federação internacional não permitiria – falou.
Morando na Europa, Ygor não perde a conexão com o Brasil e a favela da Chacrinha. Conversa frequentemente com os amigos do projeto do seu pai, o Miratus, e foi deles que se lembrou ao se atirar em quadra nesta sexta, após derrotar o canadense Brian Yang, de 17 anos.
– O projeto do meu pai, pessoas que eu perdi para o tráfico, amigos meus, as pessoas que estão lutando pelos seus sonhos. Morar fora do país, passar frio, sem comer e dormir direito pensando se vai dar certo, tudo isso desabou na quadra depois do último ponto – disse Ygor.
O carioca já foi top 30 do ranking mundial e atualmente é o 59º colocado da lista. Já sofreu com lesões, segundo ele por “fazer demais” nos treinos, mas ainda está dentro do grupo que se classifica para a Olimpíada de Tóquio. O processo de qualificação se encerra no ano que vem.
Em três semanas, ele jogará o Mundial da modalidade, na Suíça, empolgado após a conquista no Pan e atrás de pontos importantes para se manter em busca da sua segunda participação olímpica.
*Folhapress