Leia também:
X Técnicos de League of Legends se envolvem em escândalos sexuais

Em 2020, pedofilia na internet aumentou em quase três vezes

Psicanalista pós-graduado em Neurociência ensina a proteger as crianças no ambiente virtual

Pierre Borges - 08/01/2021 17h32 | atualizado em 11/01/2021 12h58

Criança menino mexendo no computador no escuro
Em apenas 16 dias, quase 6 mil denúncias de pedofilia na internet foram registradas Foto: wikimedia commons/r.nial.bradshaw

Embora a pedofilia seja um crime muito antigo, a internet facilitou a sua prática e potencializou seus danos de forma considerável. Segundo a ONG SaferNet Brasil, o número de denúncias relacionadas à pedofilia na internet, no período de apenas 16 dias de março de 2020, foi de 5.866 denúncias.

O número é quase três vezes maior do que o do mesmo período de 2019, que teve 2.017 registros. Saiba como esses criminosos agem e como proteger seus filhos no ambiente virtual.

Existe uma rede que envolve pedófilos do mundo todo dispostos a comprar e a vender material pornográfico infantil e até a contratar exploradores sexuais

De acordo com o advogado Igor Rafael Guedes, a pedofilia na internet tornou-se muito lucrativa, pois existe uma rede que envolve pedófilos do mundo todo dispostos a comprar e a vender material pornográfico infantil e até a contratar exploradores sexuais.

PERFIL E HÁBITOS
Ainda segundo a SaferNet, normalmente os pedófilos virtuais são homens entre 18 e 55 anos da classe A ou B, podendo também, em alguns casos, pertencer à classe C.

Em geral, o contato dos pedófilos vem pelas redes sociais. Uma prática comum é a criação de um perfil falso em que o criminoso pode se passar por uma criança, para começar a conversar e ganhar a confiança da vítima.

O mestre em direito Thiago Lauria afirma que os pedófilos enviam fotos de adultos fazendo sexo com crianças para persuadir a criança de que se trata de algo normal. Além disso, os abusadores também enviam imagens pornográficas de desenhos infantis e chegam até a pedir que a criança envie fotos dela nua.

Os pedófilos enviam fotos de adultos fazendo sexo com crianças para persuadir a criança de que se trata de algo normal

COMO PROTEGER SEUS FILHOS
O Dr. Gregor Osipoff, psicanalista pós-graduado em Neurociência, explica que, como as crianças são frágeis, sem experiências e sem maldade, todo cuidado com o crescimento saudável físico e mental delas é necessário.

– Uma das maiores fragilidades que eu vejo é a carência de comunicação em casa. E esta criança, procurando um desabafo fora das paredes de sua morada, encontra uma escuta acolhedora com outras intensões. Por isso, acompanhá-la constantemente é uma importante obrigação [dos pais/cuidadores]. Mas os pedófilos são doentes e vão sempre criar artifícios para cooptar estes pequenos infantes – pontuou o psicanalista.

A criança, procurando um desabafo fora das paredes de sua morada, encontra uma escuta acolhedora com outras intensões

O psicanalista explica que não é possível determinar uma idade exata para os pais permitirem que as crianças mexam na internet sem sua supervisão, mas o ideal é que isso não ocorra antes da puberdade.

– O processo de educar não se restringe a um período… [dura] toda fase educacional. Isso não impede de que esta criança seja monitorada, até para aprender cada vez mais a se defender, no reconhecimento das armadilhas que este este ambiente [virtual] pode criar – explica.

Dr Gregor Osipoff – Psicanalista, Pós graduado em neurociência Foto: Divulgação

É importante ensinar as crianças a reconhecer quando estão sendo assediadas. Segundo o Dr. Gregor, existem várias formas de orientar as crianças, mas o básico é ensiná-las a reconhecer quando as conversas não são ligadas a temas próprios da idade, ou quando um adulto fica fazendo perguntas e sugestões sobre intimidades.

Gregor ainda ressalta que, mesmo que cada faixa social tenha uma forma de conviver – sendo alguns pais mais permissivos, e outros não -, em geral quem determina o que pode e não pode são eles, os pais ou outros cuidadores das crianças, que devem educá-las, monitorando e perguntando a elas, de forma sutil, como estão suas relações de amizade, vendo e acompanhado suas conversas.

É preciso ensinar as crianças a reconhecer quando um adulto fica fazendo perguntas e dando sugestões sobre intimidades

O psicanalista também reforça que os limites que as crianças devem ter em mente são essenciais para evitar que elas se tornem vítimas de pedófilos e de assediadores na web. Para isso, conhecer o próprio corpo é fundamental para as crianças.

– Não só na internet, mas também fora dela, [é importante para as crianças] o conhecimento do seu próprio corpo e, neste contexto, saber o que devem permitir e o que pode ser estranho ao seu normal. [Os pais devem] Explicar [a elas] também que não se deve falar sobre intimidades com estranhos, nem sobre a vida pessoal e familiar; que a internet é um mundo onde não conhecemos as pessoas que estão do outro lado da tela e que isso dificulta muito saber quem é quem, na sua essência – orienta ele.

O neurocientista faz ainda um alerta para o comportamento dos pais, que muitas vezes servem de exemplo para as crianças.

– Devemos tomar todos os cuidados com compartilhamento de fotos. Às vezes, isso é bem complicado, pois alguns pais expõem a própria vida na redes, e as crianças imitam essa prática. Coloquem filtros para conteúdo e sites suspeitos. Mas, em geral, o ideal é acompanhar eles [os filhos] em tudo: verificar, dar suporte, ter uma escuta para suas questões e observar mudanças de comportamento repentinas. Deve-se estabelecer sempre um canal aberto para o diálogo [com os filhos] – finaliza.

Pais devem educar, monitorar e perguntar, de forma sutil, como estão as relações de amizade de seus filhos
Pais devem educar, monitorar e perguntar, de forma sutil, como estão as relações de amizade de seus filhos

PERIGO NOS GAMES
Em novembro, foi apresentado o Projeto de Lei 5261/20, do deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), que determina que jogos eletrônicos proíbam a troca de mensagens entre menores de 14 anos e outros usuários de qualquer idade. Se aprovado, a única exceção será para mensagens pré-definidas pelo jogo.

“Muitos criminosos entram nos jogos e passam a interagir com suas vítimas, escrevendo e se comportando como crianças. […] Após ganharem a confiança das vítimas, tentam atraí-las para conversas em aplicativos de mensagens instantâneas, tais como o Whatsapp, e-mails, redes sociais, onde a conversa deixa de ser pública e torna-se privada. Começam então os abusos, diálogos de cunho sexual, exposição a pornografia e chantagens”, justifica o documento.

Leia também1 Americano é preso por ir ao Rio para ter relações com garota de 14 anos
2 Rede de pedofilia se aproveita de fotos postadas por pais na web
3 PF faz operação contra hackers que divulgam pedofilia na web
4 No Brasil, a cada hora, 3 crianças ou adolescentes são abusados

Siga-nos nas nossas redes!
WhatsApp
Entre e receba as notícias do dia
Entrar no Canal
Telegram Entre e receba as notícias do dia Entrar no Grupo
O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.