SP: Prefeitura leva campanha contra sarampo para escolas
Baixa imunização contra a doença preocupa as autoridades
Ana Luiza Menezes - 22/07/2019 21h13 | atualizado em 22/07/2019 21h42
Após mais de um mês de campanha e um Dia D de vacinação no último sábado (20), o estado de São Paulo conseguiu imunizar 223 mil pessoas contra o sarampo – apenas 5% do público-alvo, de 4,4 milhões de jovens entre 15 e 29 anos. Desde 7 de junho, os casos da doença dispararam, passando de 51 para 484 até o último balanço divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde. O número preocupa por ser o maior registrado em mais de 20 anos.
Ao menos 25 cidades estão em alerta, como Santos, que tem 23 casos. A grande maioria, porém, foi confirmada na capital – 363 – sendo 70 autóctones, contraídos no próprio local. Há ainda outros 800 casos em investigação.
Para tentar frear o surto na capital, o prefeito Bruno Covas (PSDB), em parceria com a gestão do governador João Doria (PSDB), anunciou nesta segunda-feira (22) que fará vacinação nas escolas públicas (estaduais e municipais), além de intensificar o envio de equipes para empresas privadas, faculdades e condomínios. A estrutura da Polícia Militar também pode ser usada.
– A vacinação só nas unidades básicas de saúde não foi suficiente. Agora estamos vacinando também no metrô, em terminais de ônibus, terminais de trem, shoppings. É importante que fique claro à população: sarampo não é uma gripe. Sarampo mata – afirmou o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.
Segundo o secretário, empresas com funcionários infectados que se negarem a receber os profissionais de saúde podem ser fechadas por até 21 dias –período de ciclo do vírus.
– É uma questão de saúde pública – disse.
Já nas escolas, alunos e professores devem começar a receber as doses em agosto, na volta às aulas, de acordo com o secretário estadual de Educação, Rossieli Soares. Para Covas, a explosão de casos é decorrente da desinformação.
– Especialmente do fato de as pessoas terem decidido não tomar vacina e isso se deve em grande parte às fake news que vem se espalhando pela internet – disse o prefeito.
No primeiro momento da campanha, a orientação era que quem já tivesse tomado as duas doses da vacina não precisaria se vacinar de novo. As doses são, normalmente, oferecidas para crianças de até 12 meses e 15 meses de idade, respectivamente. Mas com o aumento do número de infectados houve mudanças.
– Agora, a orientação é para a vacinação indiscriminada de 15 a 29 anos. Isto é, mesmo quem tem as doses completas deve se vacinar – afirmou a coordenadora de Vigilância em Saúde, Solange Saboia.
Isso porque a faixa etária é a mais suscetível a não ter tomado a segunda dose da vacina. E, embora represente cerca de 20% da população paulista, responde pela metade dos casos da doença. Pessoas com mais de 30, embora não estejam no foco da imunização, podem tomar a vacina.
O prazo da campanha também foi estendido até 16 de agosto e não é preciso apresentar a carteira vacinal. O sarampo é uma doença altamente contagiosa que pode evoluir para complicações e levar à morte. Os principais sintomas são febre, manchas avermelhadas na pele do rosto e tosse persistente. Alguém infectado pela doença pode contaminar outras 18 pessoas.
Por isso, antes do surto, a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, já era oferecida gratuitamente durante todo ano pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Ela é indicada para crianças de até 12 meses, que devem tomar outra dose de reforço a partir dos 15 meses de idade. Devido ao aumento de casos, no entanto, a vacina vêm sendo oferecidas a outros grupos prioritários mais abrangentes.
Profissionais de saúde das redes pública e privada também devem estar imunizados, devido a possibilidade de contato com pessoas infectadas. Já as gestantes e imunodeprimidos, como pessoas submetidas a tratamento de leucemia e pacientes oncológicos, não devem tomar a vacina.
Antes considerado um país livre do sarampo, o Brasil perdeu o certificado concedido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em fevereiro deste ano, após registrar mais de 10 mil casos em 2018. O surto aconteceu principalmente nos estados de Amazonas e Roraima.
Em 2019, o último balanço do Ministério da Saúde, divulgado no dia 17 de julho, apontava 426 casos no país distribuídos por sete estados. Segundo a pasta, três estados estão com surto ativo da doença: São Paulo, Rio e Pará. O primeiro lidera o ranking com o maior número de infecções, representando 82% de todos os registros.
Para a diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica, Regiane de Paula, o surto no estado pode ser explicado pela queda da cobertura vacinal, que em 2014 chegou a 105% e em 2018 havia caído para 90,5%.
– Os jovens deixaram de ver a doença e de vacinar. Com a queda, temos mais pessoas suscetíveis ao vírus, que chega de fora do país, via porto ou aeroporto – disse.
Na capital paulista, as primeiras ocorrências foram importadas da Noruega, Israel e Malta.
SARAMPO
Doença grave e contagiosa que pode ser transmitida por meio do contato direto com a secreção da pessoa infectada ou pelo ar.
SINTOMAS
Febre alta, dor de cabeça, tosse, coriza, manchas avermelhadas na pele e manchas brancas na boca são alguns deles.
VACINAS
Tríplice viral (que também protege contra rubéola e caxumba) e tetraviral (que, além das três doenças, protege contra catapora).
ESQUEMA VACINAL
Composto de duas doses de vacina: uma de tríplice viral aos 12 meses e outra de tetraviral ou tríplice viral associada à vacina contra varicela aos 15 meses
ADOLESCENTES E ADULTOS
Quem tiver de 15 a 29 anos deve tomar duas doses da tríplice viral. Já indivíduos com mais de 30 não vacinados, o ou que tomaram apenas uma dose, podem ser imunizados
REFORÇOS
Quem está com o esquema vacinal em dia não precisa mais ser vacinado
CONTRAINDICAÇÃO
Vacina não é indicada para menores de 6 meses, gestantes, indivíduos imunossuprimidos (com o sistema imunológico afetado) e pessoas com suspeita de sarampo
Fonte: Ministério da Saúde
*Folhapress
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