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Saúde mental é colocada à prova durante pandemia

Psicóloga fala sobre panorama geral da quarentena que pode agravar transtornos mentais

Camille Dornelles - 02/06/2020 15h05

Pandemia pode agravar quadros de transtornos mentais Foto: Pixabay

Por causa da quarentena, do isolamento social e do medo da própria doença, a Covid-19 elevou os níveis de estresse da grande maioria da população mundial. Situações de estresse podem agravar quadros de doenças mentais, como a esquizofrenia

A Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu um relatório em meados de maio alertando sobre problemas psicológicos causados pela pandemia. O documento aponta que pessoas que já sofrem com transtornos mentais ou são psicologicamente frágeis podem ter quadros agravados por causa do medo da doença e também pela dificuldade de acesso ao tratamento habitual.

Uma cartilha elaborada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também afirma que a piora do estado de saúde mental das pessoas em época de quarentena é real. Ela orienta sobre como cuidar da sua mente e ajudar outros.

Sobre este assunto, a psicóloga Jane Célia Rodrigues conversou com o Pleno.News e alertou para os efeitos da pandemia na saúde mental.

Há registros de aumento e agravamento de casos de ansiedade e depressão na pandemia. Como a quarentena no Brasil afeta as pessoas de modo geral?
No Brasil, além da pandemia obrigar uma quarentena, a população ficou imersa em uma disputa política, em fake news, em uma instabilidade que gerou muito conflito e insegurança. Isso levou muitos a desenvolver ansiedade e até mesmo a depressão devido ao estresse emocional. Estima-se que haja ao menos 2,8 bilhões de pessoas vivendo sob algum tipo de restrição de movimento ou acesso a serviços devido a pandemia e a necessidade da quarentena ou isolamento. O Brasil é um país de comportamento aberto. Um país onde o sol reina, onde há uma natureza que convida ao lazer. As expectativas demonstram que entre as consequências da quarentena estará em continuidade o afastamento social. As pessoas se afastarão com receio do contágio pelo vírus.

E as pessoas com doenças mentais?
Fatores de risco podem contribuir para o desenvolvimento da depressão, como histórico familiar, transtornos psiquiátricos correlatos, estresse crônico, ansiedade crônica, disfunções hormonais, dependência de álcool e drogas ilícitas, traumas psicológicos, doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurológicas, neoplasias, entre outras. O estresse e ansiedade são fatores de risco para vários transtornos mentais, como pânico.

Psicóloga Jane Célia Rodrigues fala sobre agravamento de doenças mentais na pandemia Foto: Reprodução

Que sentimentos que desencadeiam doenças mentais estão mais presentes neste momento?
Outras situações poderão surgir após a quarentena, entre elas o sentimento de frustração nas pessoas que poderá se elevar. A perda do emprego e as incertezas do retorno ao trabalho que impedirão a realização de sonhos e continuidade dos planos. Na educação, mesmo com todos os esforços e facilidade da tecnologia, as perdas poderão se tornar em frustrações.

Qual o perigo desta frustração?
Frustração é um sentimento que ocorre quando alguma coisa que era esperada não acontece. Com a pandemia, muitos tiveram que adiar seus sonhos, seus projetos. Casamentos, aniversários, viagens e shows. Os contratos civis e comerciais deixaram de ser cumpridos. É o ato ou efeito de se frustrar, é o sentimento que acomete uma pessoa quando esta não conseguiu realizar um desejo, uma vontade, é a reação de uma expectativa que não é correspondida. A gravidade da frustração está inteiramente relacionada com o grau de expectativa e quanto maior a expectativa, maior será a frustração.

Transtornos como síndrome do pânico e esquizofrenia podem ser agravados?
Estudos psiquiátricos esclarecem que existe a ocorrência de transtornos psiquiátricos em pacientes que apresentam esquizofrenia, como episódio de depressão, ansiedade e síndrome do pânico. Até hoje, não foi descoberto a causa da esquizofrenia, mas a combinação de alguns fatores genéticos, cerebrais e do ambiente podem desencadear a doença.

Fatores hereditários, como parentes de primeiro grau de um esquizofrênico têm mais chances de desenvolver a doença do que as pessoas em geral. Ninguém se torna portador de esquizofrenia por conta da pandemia. Mas, uma situação de estresse social pode contribuir para o surgimento de uma crise. Síndrome do pânico ou transtornos de pânico, é caracterizado por crises inesperadas de desespero e temor de que algo ruim aconteça, acompanhado por reações físicas como taquicardia, sensação de sufocamento, aumento de sudorese principalmente nas mãos e nos pés, calafrio, entre outros. As crises de pânico podem ser agravadas devido ao enclausuramento.

Quando a quarentena acabar, podemos ficar tranquilos?
A origem da frustração pode ser interna ou externa. A origem interna da frustração envolve deficiências pessoais como falta de confiança ou medo de situações sociais que impedem uma pessoa de alcançar uma meta. A origem externa da frustração, por outro lado, envolve condições fora do controle da pessoa, tais como uma estrada bloqueada ou falta de dinheiro, por exemplo. Comumente, a frustração é comparada com a raiva, pois proporciona sensações de desgosto, tensão interna, tristeza e aborrecimento e, em certas pessoas, desespero. Nesse caso, a frustração se torna sinônimo de termos como: insucesso, insatisfação, desilusão, fracasso, revés, desencanto, decepção e desapontamento.

Portanto, a pós-quarentena poderá disparar situações e comportamentos diversos entre eles a frustração. Os desafios serão grandes, será necessário reenquadrar os planos e estratégias de vida.

Entretanto, quando aceitamos a realidade dos fatos, acreditamos em nossa capacidade de realização e agimos, a frustração é substituída pela força de resiliência. Ser resiliente é se capaz de se recobrar ou se adaptar frente a situações adversas ou mudanças. Superar a frustração de algo que saiu diferente de nossa vontade, por consequência de nossas ações ou não, é praticar essa resiliência.

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