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Perdão: Como afeta a saúde do corpo e faz viver mais

Especialistas explicam os benefícios do perdão no organismo humano e como o cérebro é afetado pela atitude de perdoar

Virgínia Martin - 30/11/2020 20h54 | atualizado em 08/12/2020 00h42

Estresse gerado pela falta de perdão pode emitir sinais de alerta ao corpo que desencadeiam sintomas físicos e emocionais
Estresse gerado pela falta de perdão pode emitir sinais de alerta ao corpo que desencadeiam sintomas físicos e emocionais

A falta de perdão pode fazer mal à saúde. Este é um fato que tem sido cada vez mais confirmado por estudos e pesquisas. Para se ter uma ideia, uma análise feita entre dezembro de 2016 e dezembro de 2018, estudando 130 pessoas, concluiu que, dentre os analisados, o grupo que sofreu Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) apresentou maior tendência a não perdoar as mágoas sofridas durante a vida.

O resultado fez parte da tese de mestrado da psicanalista Suzana Avezum. Mais uma evidência de que a falta de perdão pode prejudicar a saúde cardiovascular. Como psicóloga, psicanalista, mestre em Ciências da Saúde e membro do Departamento de Psicologia da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, Suzana sabe que existe uma relação significativa entre o perdão e o coração.

A falta de perdão pode prejudicar a saúde cardiovascular

Entre pesquisas e histórias sobre perdão, em 2017 foi aprovado um Projeto de Lei que instituiu 30 de agosto como o Dia Nacional do Perdão. A data foi escolhida devido ao episódio de sequestro e morte de um menino de apenas oito anos, Ives Ota. A mãe da criança, a deputada federal Keiko Ota, juntamente com o pai, foi autora do projeto e perdoou os assassinos do filho, mas lançou a proposta da data como celebração do perdão, mesmo com a morte do menor. O Dia Nacional do Perdão tem como proposta uma reflexão sobre o tema, além de ressaltar a luta de diversos movimentos sociais e familiares por justiça.

Odalis Vasquez é médica graduada na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cardiologista com pós-graduação em Nutrição Esportiva, Ecocardiografia e Medicina Ortomolecular, ela lembra do que sua avó costumava dizer: “guardar rancor faz mal ao coração e mata”. Odalis também aponta para a importância de incansáveis pesquisas que são realizadas na busca de entender quais seriam os fatores mais relevantes para viver mais tempo e melhor.

– Tudo indica que pessoas com maior capacidade de perdoar, conseguem manter e construir bons relacionamentos. E estes bons relacionamentos poderão proteger nosso coração, nosso cérebro, nossa saúde e nos permitir viver mais tempo com felicidade e bem-estar.

Médica cardiologista e ortomolecular, Odalis afirma que pessoas com maior capacidade de perdoar podem viver mais
Médica cardiologista e ortomolecular, Odalis afirma que pessoas com maior capacidade de perdoar vivem mais

A médica menciona o psiquiatra Robert Waldinger, estudioso de uma das pesquisas mais longas da história, 75 anos. Entre algumas de suas análises, ele constatou que bons relacionamentos mantém as pessoas mais felizes e saudáveis. Ou seja, quanto mais um indivíduo consegue ampliar e fortalecer vínculos com outras pessoas, mais qualidade de vida emocional e física ele alcança. E o perdão está incluído nesta dimensão de relacionamentos.

– A solidão é tóxica. Pessoas que se sentem sozinhas têm uma queda muito rápida em sua saúde. O cérebro se deteriora mais cedo. Portanto, quanto mais se perdoa, mais temos pessoas perto de nós.

Construir um relacionamento saudável não é tarefa fácil. E muitos podem ser rompidos, principalmente quando a expectativa da perfeição está atrelada ao comportamento do outro. Reconhecer as próprias faltas e imperfeições leva não apenas ao arrependimento, mas a compreensão de que todos erram. Uma vez humanos, sempre vulneráveis aos deslizes. Neste processo de auto-conhecimento e de tolerância com as pessoas, uma nova configuração emocional pode ser acionada: há mais ganhos em perdoar, há mais vantagens para a saúde do corpo e da mente.

Existem estruturas no cérebro que são reconhecidas como importantes no ato de perdoar, como a insula

Com 35 anos de profissão, a neuropsicóloga Nazareth Ribeiro estuda o cérebro humano, utilizando várias técnicas e ferramentas para avaliação e tratamento, como o neurofeedback. Em sua opinião, o ato de perdoar pode ser tratado na psicoterapia com o desenvolvimento de empatia e de resiliência.

– Existem estruturas no cérebro que são reconhecidas como importantes no ato de perdoar, como a insula, por exemplo. Estudos reconhecem o córtex insular como responsável por algumas funções, dentre elas, o perdão e a raiva.

Nazareth Ribeiro explica que emoções de raiva e de ressentimento, quando muito intensas, podem levar a sintomas psicossomáticos
Nazareth Ribeiro explica que emoções de ressentimento podem levar a sintomas psicossomáticos

Nazareth, que também possui doutorado pela ESC Rennes (França) e é professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que as emoções de raiva e de ressentimento, quando muito intensas e com grande prevalência na vida da pessoa, podem levar, inclusive, a sintomas psicossomáticos como depressão e ansiedade, dor estomacal, sudorese, palpitação e até instabilidade e humor.

– O ato de perdoar pode ser visto como tirar um peso das costas. A pessoa que é mais disposta a atos como perdão, generosidade, empatia e solidariedade, geralmente, são pessoas mais leves e felizes.

Quando uma pessoa guarda um sentimento de raiva ou ressentimento de alguém, o seu cérebro pode absorver isso como uma ameaça

Mais uma vez o Dia Nacional do Perdão foi lembrado. A neuropsicóloga ressalta que a data foi criada dada a extrema importância da atitude de perdão para o ser humano. Ela enfatiza que quando uma pessoa fica remoendo raiva, amargura, buscando respostas e querendo se vingar, ela usa toda sua energia para fatores negativos e cria um bloqueio. Ao passo que quando exerce o ato de perdoar, cria bloqueios positivos.

COMO A MENTE TRABALHA O PERDÃO
Segundo análises de Nazareth, quando uma pessoa guarda um sentimento de raiva ou ressentimento de alguém, o seu cérebro pode absorver isso como uma ameaça. Até a simples possibilidade de um pensamento sobre esta pessoa, uma imagem, uma fala, uma hipótese de um encontro geram sensações de alerta. Tal posicionamento mental pode levar a pessoa a um estresse constante, emitindo sinais de alerta ao corpo que podem desencadear sintomas físicos e emocionais. Deste modo, o sistema nervoso leva o corpo a estar constantemente se preparando para luta ou fuga. E se este processo se torna repetitivo, o corpo atinge um nível de sofrimento capaz de gerar dificuldade em voltar ao seu equilibro.

– O perdão é justamente o ato de se livrar, de forma consciente, de um ressentimento direcionado a alguém que te fez mal. O problema é que tem gente que tem raiva e rancor e nem sabe de onde vem – acrescenta Nazareth.

O córtex pré-frontal, uma das áreas do cérebro responsáveis pela regulação das emoções, é ativado quando se pratica o perdão. Esta ativação pode levar a estados de empatia e alívio de estado emocional positivo, trazendo um bem-estar e melhor qualidade de vida, podendo impactar com efeitos positivos, inclusive, no sono.

– Como dica para desopilar o cérebro de pensamentos negativos sugiro a respiração consciente. No meu canal do youtube é possível encontrar um vídeo onde ensino a fazer este exercício.

A decisão em perdoar provoca a liberação de alguns hormônios significativos para o organismo

Há quem conheça aqueles que quase nunca optam pelo perdão e vivem de forma reclusa, sem aceitar falhas alheias. Outros indivíduos são mais sociáveis, mesmo sem jamais perdoar. Guardam pequenos ressentimenos e as chamadas raízes de amargura. O semblante de algumas destas pessoas ou mesmo suas funções fisiológicas, porém, podem estar sendo afetados pela pré-disposição em não perdoar.

Como explica a médica endocrinologista Denise Portugal, a decisão em perdoar provoca a liberação de alguns hormônios significativos para o organismo. Denise é autora d livro Start para o bem-estar e

– A ocitocina, que é o hormônio que gera empatia, gera mais amor, gera mais afinidade. A serotonina, que é um neurotransmissor da alegria e a dopamina que está associada ao sistema de recompensa. Estes são os três hormônios envolvidos com a liberação do perdão.

O neurocientista Maurício Braz explica como funciona o "Circuito do Perdão, criado por ele
O neurocientista Maurício Braz explica “Circuito do Perdão”, que criou

Neurocientista comportamental, atuando na Flórida (EUA), o brasileiro Maurício Braz produziu um estudo específico sobre os benefícios do perdão. Como especialista em Neurofeedback e com MBA em Psicologia Positiva, ele revela ao Pleno.News aonde mora o perdão. Antes, porém, Maurício explica que o perdão é uma reação que tem começo, meio e fim, que ele chama de “Circuíto do Perdão”.

O caminho do perdão no corpo envolve comportamentos, ações, sentimentos antagônicos, emoções e pensamentos. Segundo o neurocientista, consultor do Sebrae/RJ e professor MBA/Gestão de Pessoas na Universidade Católica de Petrópolis, existem sete estados emocionais envolvidos nesse processo:

1. Expectativa
2. Frustação
3. Luto
4. Culpa
5. Raiva
6. Vingança
7. Perdão

– A Expectativa é um processo de recompensa antecipada por uma ação, atitude ou favor que tenhamos feita a uma outra pessoa. No cérebro, essa sensação de prazer envolve a participação de neurotransmissores ou de hormônios como a Endorfina, que gera bem-estar, da Dopamina que é produzida por células nervosas no cérebro, ligadas a ações que podem criar dependência, tais como, jogos, drogas, sexo, comida. E a Ocitocina que aumenta a sensação de confiança, através da ação de uma das estruturas do cérebro emocional, a Hipófise ou Glândula Pituitária.

Com este processo em andamento, acontece um reforço interno, acompanhado pelo desejo de repetir a atitude anterior. Mas, se ocorre alguma resposta negativa à uma ação feita pelo outro, tal como, a indiferença, descaso ou o não reconhecimento, surge a frustação. Ou seja, quando a auto-confiança é ameaçada, uma substância chamada Nociceptina começa a ser produzida, reagindo e inibidindo a produção de Dopamina. A partir deste ponto, o corpo tem a sensação de que fez um esforço inútil e um sentimento de perda é identificado pelo cérebro Límbico (emocional). Essa desestruturação emocional acentua negativamente a sensação da experiência.

Então, segundo Maurício, surge e fase do Luto. O coração tem um caminho direto com o cérebro pelo nervo vago. Isso acontece dentro de dois sistemas: Simpático (o “acelerador” do corpo) e o Parasimpático (o “freio” do corpo). Ambos são ligados ao sistema Nervoso Autônomo (SNA).

A partir deste ponto, o corpo tem a sensação de que fez um esforço inútil e um sentimento de perda é identificado pelo cérebro Límbico

– Quando estamos em estado de Luto, o Sistema Parasimpático aumenta sua ação e nos sentimos meio perdidos, sem saber o que fazer e com uma sensação de perda. Criamos internamente uma zona de conforto, que nos paraliza e ficamos aguardando as ações de terceiros para que possamos pensar em novos movimentos. Quando percebemos que não haverá nenhum tipo de atitude do outro para nos confortar, a produção de dopamina e serotonina despencam e entramos profundamente nessa sensação de derrota pessoal.

A noradrenalina vai aumentando no organismo e pensamentos em “looping” poluem o cérebro, trazendo uma angústia crescente
A noradrenalina vai aumentando no organismo e pensamentos em “looping” poluem o cérebro

Em seguida, acontece a fase da Culpa, denominada por Maurício, quando a produção de Noradrenalina vai aumentando no organismo e pensamentos em “looping” poluem o cérebro, trazendo uma angústia crescente. Essa revolta interna, começa a gerar um movimento de busca de soluções. As células nervosas começam a produzir mais dopamina e essa sequência invisível de ações intensifica as emoções negativas.

– E a Raiva assume o seu lugar! Essa é a mais poderosa emoção, quando se trata de um processo de mudança. É quando o Sistema Simpático está em seu nível máximo, gerando um estado impulsivo, de insatisfação e, por vezes, agressivo.

A explicação para este fenômeno fisiológico está na porção animal que o ser humano possui e que é acionada e cada vez mais é ativada pelo uso em cascata de estruturas do cérebro emocional como: a Amígdala (2 pequenas amêndoas que ficam cada uma em um hemisfério), que passam a trazer sensações negativas, alimentando o Hipotálamo (que busca memórias em looping) que estimula a Glândula Pituitária, a mandar informações de alerta para as Glândulas Supra Renais (que ficam no corpo, logo acima dos rins) para que produzam Cortisol, Adrenalina e Noradrenalina, elementos que preparam para o “combate”.

É nesse momento que surge em algumas pessoas o desejo de vingança. Para Maurício, a vingança revela a forma como algumas pessoas entendem o processo de perda. Mas ela não domina todas as pessoas. Muitos, depois de sentir a raiva, preferem se livrar dessa emoção e começam a amadurecer um processo interno de crescimento e de mudança.

MAS COMO PERDOAR?
Primeiro temos que saber o que é o perdão, analisa o neurocientista, já que na cultura moderna, o perdão é visto como uma utopia com conotação moral distorcida, quase como sinal de fraqueza.

Focar no perdão é possibilitar que o corpo se encha de saúde
Focar no perdão é possibilitar que o corpo se encha de saúde

– Mas o perdão é um ato de amor próprio que transforma as pessoas e que nos torna melhores. Apenas quem consegue perdoar verdadeiramente alguém, consegue sentir a sensação de leveza, plenitude e paz interior.

Focar no perdão é possibilitar que o corpo se encha de saúde com maior probalidade de exspectativa de vida. Além de promover uma farta produção de hormônios e neurotransmissores do bem, que irão fazer valer o trecho de Provérbios 15:13: “O coração alegre aformoseia o rosto; mas pela dor do coração o espírito se abate”.

BENEFÍCIOS DO PERDÃO PARA O ORGANISMO HUMANO

  • Redução da pressão sanguínea
  • Aumenta o relaxamento muscular
  • Minimiza os riscos de doenças cardíacas
  • Melhora do sistema imunológico
  • Redução do estresse
  • Diminuição do trafego negativo de pensamentos

 

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