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A cidade enfrenta luto coletivo e índices de suicídio em Minas Gerais preocupam

Mayara Macedo - 25/02/2019 12h56 | atualizado em 25/02/2019 12h57

Especialista fala sobre luto coletivo em Brumadinho Foto: Corpo de Bombeiros de MG

A morte, apesar de ser natural, é algo temido pela maioria das pessoas. O próprio corpo e organismo são ajustados para se defenderem em momentos de adrenalina que indiquem risco de morte. Porém, colocar um fim na própria vida tem sido a alternativa usada por milhões de pessoas, todos os dias. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo.

Os altos índices de suicídio são mais visíveis em países mais pobres. De acordo com um levantamento feito pela OMS em 2017, a Índia lidera o ranking de países com maiores números de suicidas, com 258 mil casos por ano. O Brasil ocupa o 8º lugar, com 12 mil ao ano. Em média, 23 pessoas cometem suicídio por dia no país, e esses números têm aumentado assustadoramente. Além disso, o suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens entre 15 e 29 anos.

Para Carlos Aragão Neto, especialista em tanatologia, luto e psicologia clínica, existem fatores de risco que podem colaborar para o aumento de suicídios e transtornos psicológicos em uma determinada região. Um exemplo é a cidade de Brumadinho que, recentemente, foi palco de uma tragédia que matou mais de 160 pessoas.

– Existem fatores de risco muito fortes para que parte dessas pessoas que já estão em sofrimento grave possa prolongar o tempo em sofrimento, independente do tipo. O clima em uma hora como essa é de um luto coletivo muito violento – afirmou Carlos para o Pleno.News.

Carlos é especialista em luto

O especialista ainda explicou que luto e tristeza, sentimentos comuns em quem tem tendências suicidas, não são doenças. Segundo Carlos, o luto é um processo psicológico pelo qual passa uma pessoa que teve uma perda significativa.

TIPOS DE PERDA
As perdas são classificadas em dois tipos: concretas e simbólicas. As concretas são relacionadas a perdas de entes queridos ou à amputação de um membro. As simbólicas são perdas de emprego ou separações em relacionamentos. No caso de Brumadinho, houve ambos os casos para a maior parte dos moradores.

– Quando você perde alguém, você não perde só a pessoa, você perde também os papéis que ela representava no seu sistema familiar. Uma família que tinha um pai ou mãe que eram provedores e morreram, não perdeu só aquelas pessoas, mas também o papel que elas desempenhavam. Tudo tem que passar por uma readequação em uma época de muito sofrimento. É preciso que haja um reajuste do sistema familiar para que ele continue funcionando – explica Neto.

TIPOS DE LUTO
É importante ressaltar que o luto não tem um tempo exato de duração, mas é um processo composto por fases. O luto pode ser normal ou complicado. No normal, a pessoa estará preparada para seguir em frente e voltar a viver normalmente, mesmo sem a presença física de quem se foi. Isso não quer dizer que a pessoa que faleceu será esquecida ou perderá sua importância, mas sua ausência não implica em uma depressão, por exemplo. Caso essa depressão ocorra, o luto é denominado complicado. Ou seja, depois de um período enlutada, a pessoa não consegue retomar a vida e pode ter sua saúde mental afetada.

Pessoas com luto complicado podem sofrer de sintomas disfuncionais, como não conseguir mais falar no nome do falecido ou até mesmo ver fotos. Esses casos são preocupantes quando acontecem após um considerável tempo de perda.

LUTO MULTIDIMENSIONAL
O luto pode afetar diferentes áreas da vida de uma pessoa, como a dimensão física, social, psicológica, cognitiva e espiritual. Afetando a segunda e terceira área, o enlutado pode passar a questionar sua fé e sentir raiva de Deus. De acordo com o especialista, isso é normal para quem sofre perdas súbitas, violentas e trágicas, como foi o caso de Brumadinho.

– Mortes súbitas, violentas e trágicas têm potencial ainda maior de dificuldade de elaboração no processo de luto – afirma Carlos.

Ele ainda ressaltou dois distúrbios frequentes em pessoas que sofrem perdas como as da população de Brumadinho. O primeiro é o distúrbio do apetite, quando a pessoa passa a comer muito pouco ou excessivamente. O segundo, é o do sono, quando o indivíduo passa a ter problemas para dormir.

– É muito importante que todos nós durmamos bem, de uma forma geral. Quem está em sofrimento, como todas as pessoas daquela região, precisa ainda mais de uma boa noite de sono para estar recuperado no outro dia e enfrentar as dificuldades – alerta o psicólogo clínico.

Segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, o estado de Minas Gerais é o 15° com maior número de suicídios. Tendo em vista os dados apresentados e alguns motivos que podem levar uma pessoa a se matar, campanhas de conscientização sobre saúde mental são de extrema importância e devem ser realizadas, com frequência.

Em Brumadinho, O Centro de Valorização da Vida instalou um posto de apoio emocional para ajudar moradores e voluntários que precisarem desabafar. Além disso, uma equipe do CVV circula pela cidade oferecendo apoio a quem precisar. O CVV não está somente na cidade mineira, mas pode ser encontrado em todo país. Quem desejar entrar em contato com a associação, basta ligar para o número 188.

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