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Vacina da Rússia é registrada, mas causa desconfiança

Rapidez e falta de informações sobre testes prejudicam credibilidade da substância

Pleno.News - 11/08/2020 15h34 | atualizado em 12/08/2020 10h05

Putin anuncia que vacina russa contra Covid-19 está pronta Foto: Reprodução

Nesta terça-feira (11), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou que seu país se tornou o primeiro do mundo a registrar uma vacina contra a Covid-19. Segundo o presidente, a vacina russa é “eficaz”, passou em todos os testes necessários e permite obter uma “imunidade estável” contra a Covid-19.

– Esta manhã uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada pela primeira vez no mundo – disse o presidente, em reunião com o Gabinete de Ministros.

No entanto, a notícia foi recebida com mais desconfiança do que entusiasmo. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, emitiu um comunicado através do porta-voz Tarik Jasarevic, afirmando que é preciso cautela com este anúncio.

– Acelerar o progresso não deve significar comprometer a segurança. A organização está em contato com as autoridades russas e de outros países para analisar o progresso das diferentes pesquisas de vacinas – declarou o porta-voz da OMS.

A resistência da instituição reflete também a de muitos brasileiros. A vacina da Rússia será produzida no Brasil e disponível na América Latina daqui três meses. Mas terá adeptos?

Acelerar o processo não deve significar comprometer a segurança

A ORIGEM DA VACINA IMPORTA
Ao Pleno.News, a manicure Michele Santos, 36 anos, de São José do Rio Preto, São Paulo, afirmou que iria querer a vacina mesmo já tendo se curado da Covid-19.

– Eu tomaria sim, pois, como é uma doença nova, não temos a certeza de que eu estou 100% imune, mesmo já tendo passado por ela – declarou.

Michele Santos se curou da Covid-19, mas afirmou que tomaria a vacina Foto: Arquivo pessoal

O medo de ter a doença de novo é grande, principalmente após ficar nove dias intubada no hospital e ter 30% do pulmão comprometido por causa do novo coronavírus. Mesmo assim, ela declara que a origem da vacina importa.

– Iria depender de onde (a vacina) foi feita. A vacina da Rússia eu até tomaria, mas iria esperar para ver outras pessoas tomarem primeiro. Eu não seria a primeira. Tenho dúvidas de como foi feita – apontou.

O carregador Cassio Baroni, de Charqueada, interior de São Paulo, foi outro que declarou que depende da origem da vacina. Ele foi taxativo ao afirmar que a Rússia não é confiável.

– Depende de onde essa vacina foi desenvolvida. País ou em qual empresa. Eu não confio no governo russo ou em instituições que se escondem atrás do governo para desenvolver tal produto ou medicamento – afirmou ao Pleno.News.

PROCESSO ACELERADO
Ao portal, o professor de biologia José Antônio Dias, do Rio de Janeiro, e doutorando da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirma que desconfia da vacina pela rapidez com que foi registrada.

– Dependeria mais das condições em que foi criada a vacina do que o próprio local de origem. Veja o caso da vacina russa. Foi desenvolvida às pressas e sem divulgação dos estágios de fabricação. Um dos riscos seria o pouco tempo para se avaliar os efeitos colaterais dentro da população – afirmou, completando que não saberia se tomaria.

Outra vacina que enfrenta resistência é a do laboratório chinês Sinovac Biotech. Essa trabalha em parceria com o Instituto Butantã e o estado de São Paulo já anunciou que irá distribui-la para a população em janeiro de 2021.

Eu não seria a primeira. Tenho dúvidas de como foi feita

Até agora, a vacina mais rápida da história era a da caxumba, criada em quatro anos pelo médico Maurice Hilleman. Ao Pleno.News, o médico infectologista Martoni Moura falou sobre a agilidade das vacinas contra o novo coronavírus e comentou sobre a desconfiança da Rússia.

Dr. Martoni Moura, infectologista Foto: Arquivo pessoal

A Rússia registrou a primeira vacina contra Covid, mas a rapidez causa desconfiança. É possível fazer todos os testes necessários em pouco tempo?
Não! Para se ter uma vacina é necessário submeter a mesma a três fases. O que o governo russo fez foi submeter a aprovação da vacina após a fase 1. Nesta fase foram testadas em apenas 38 voluntarios. Nessa fase avalia-se apenas a segurança.

Como uma vacina é testada?
Cada fase se avalia em um quantitativo de voluntários para avaliar a segurança e eficácia. Na fase 1, com poucas pessoas testadas, avalia-se a segurança; na fase 2 aumenta-se o quantitativo para testar sua segurança e efeitos adversos; e na fase 3, avalia-se em número muito maior de pessoas voluntárias a sua eficácia.

É possível ter segurança em uma vacina tão rápida?
Só devemos ter segurança com uma vacina aprovada após fase 3, onde se tem a certeza da segurança e eficácia do produto. Ou seja, após essa fase podemos falar que a vacina não vai causar efeitos adversos importantes e vai promover a imunidade da doença em questão. Então, nesse momento, devemos ter muita cautela com essa vacina russa. Outras vacinas estão em estudos, inclusive no Brasil (temos duas sendo testadas), seguindo a rigor todas as fases de modo que possivelmente teremos a disposição da população no início de 2021.

Devemos ter muita cautela com essa vacina russa

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