Oxigênio medicinal: Como é feito e suas alternativas para socorro
Colapso de Manaus acende alerta e levanta dúvidas quanto ao uso de concentradores de oxigênio como alternativa
Pierre Borges - 03/02/2021 10h45 | atualizado em 03/02/2021 10h56
Desde o início da pandemia, a preocupação com a falta de leitos nos hospitais é altamente comentada em todos os veículos de comunicação. Mas o colapso da saúde em Manaus chamou atenção para um outro fator determinante: a necessidade de oxigênio suficiente para suprir os leitos e fornecer a oxigenação necessária aos pacientes que necessitam do tratamento.
O Pleno.News investigou o que ocorre até a chegada dos cilindros nos hospitais.
Existem cilindros de tamanhos variados e eles podem chegar à capacidade de 50 litros do gás
A principal diferença entre o oxigênio industrial e o oxigênio medicinal é a pureza da substância. O ar que respiramos, por exemplo, possui aproximadamente 21% de oxigênio. Quando o sistema respiratório está comprometido, uma dose maior de oxigênio é necessária. É quando os cilindros de oxigênio são usados, uma vez que eles possuem alto índice de pureza (95%, no caso do oxigênio medicinal).
Existem cilindros de tamanhos variados e eles podem chegar à capacidade de 50 litros do gás, custando em torno de R$ 2 mil cada. Os cilindros são feitos sem soldas ou emendas e são submetidos a altas temperaturas, que podem chegar a 900°C, além de a processos químicos, para que o metal suporte as pressões dos gases comprimidos.
Por meio de processos térmicos e de prensa, discos de metal feitos com ligas específicas são moldados até assumirem o formato dos cilindros, antes de finalmente serem tampados com uma válvula.
Já para a obtenção do oxigênio hospitalar, o ar da atmosfera é comprimido e resfriado até o ponto de ebulição dos gases que o compõem: oxigênio, nitrogênio e argônio. Como possuem pontos diferentes de ebulição, após todos os gases se tornarem líquidos, eles são aquecidos até atingirem, um de cada vez, o estado gasoso novamente.
Dessa forma, os três gases, assim como outras substâncias, podem ser isoladas no processo. Ao fim de todo esse procedimento, o oxigênio é passado diretamente do destilador para os cilindros ou para um caminhão que fará a distribuição do gás, conforme ilustra a imagem abaixo.
Em média, cada pessoa respira cerca de 17 mil litros de oxigênio por dia. Em Manaus, três empresas fornecem oxigênio hospitalar. Em janeiro, estima-se que, para suprir a necessidade local, elas precisariam entregar 76,5 milhões de litros de oxigênio por dia. Porém, a soma da produtividade das três empresas totaliza apenas 28 milhões de litros diários do gás.
CONCENTRADORES DE OXIGÊNIO
Desde o início do caos na cidade amazonense, Manaus já recebeu diversas doações de cilindros de oxigênio, mas a alta demanda e a necessidade de troca de cilindros tornam o problema recorrente e as soluções insustentáveis.
Na última quarta-feira (27), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) doou 38 concentradores de ar para o estado do Amazonas. A alternativa não precisa ser reabastecida com oxigênio hospitalar, pois é capaz de filtrar o oxigênio do ar à sua volta.
Em média, cada pessoa respira cerca de 17 mil litros de oxigênio por dia
Embora sejam muito mais caros do que os cilindros, podendo custar até 9 mil reais, por não necessitarem de recarga, os concentradores se tornam, a longo prazo, expressivamente mais econômicos. No entanto, algumas pessoas têm tentado improvisar concentradores caseiros, utilizando compressores de ar para auxiliar na respiração. Especialistas apontam que a medida, além de ineficaz, é perigosa e pode danificar órgãos saudáveis do corpo.
Alternativas caseiras não são capazes de filtrar o ar como um concentrador
O fato ocorre porque alternativas caseiras não são capazes de filtrar o ar como um concentrador, que atende às especificações técnicas publicadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2016.
O presidente da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Respiratórios no México, Ramón Aguilar, afirma que os concentradores caseiros mantém a proporção de 25% de oxigênio presente no ar ambiente e que o uso do recurso pode trazer uma falsa sensação de segurança e levar à morte.
– Uma consequência de usar um compressor de ar é que o paciente continuará oxigenando mal, ao não receber uma concentração alta de oxigênio… seu coração trabalhará mais e correrá o risco de lesionar as partes saudáveis do pulmão, o que pode levar à morte – informou Aguilar à AFP.
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