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Venezuelanos relatam situação caótica vivida no país vizinho e forte repressão aos contaminados com a doença

Paulo Moura - 20/08/2020 14h22 | atualizado em 20/08/2020 14h35

Nicolás Maduro Foto: EFE/Cristian Hernández

Como se já não bastassem as dificuldades vividas pela população venezuelana diariamente por conta da grave crise econômica pela qual o país passa há alguns anos, a luta agora é contra um inimigo invisível, a Covid-19. O que piora a situação é que, além de ter de lidar com a doença, as pessoas que podem ter entrado em contato com o vírus estão sendo classificadas como “bioterroristas”.

A situação foi relatada em uma reportagem do jornal norte-americano New York Times, onde a publicação descreve uma série de situações que denunciam abusos cometidos pelo governo para tentar conter a pandemia. Entre os fatos citados aparecem detenções e intimidações contra médicos e especialistas que questionam as políticas do presidente Nicolás Maduro sobre o vírus.

O uso das forças de segurança como meio de repressão contra opositores não é fato novo na administração de Maduro. Nas manifestações que tomaram as ruas de Caracas, em abril do ano passado, quando Juan Guaidó foi autoproclamado presidente do país, diversas pessoas ficaram feridas após atos contra o regime Maduro.

Desta vez, porém, longe de brigas políticas, muitos venezuelanos que retornam ao país natal após perderem os empregos no exterior estão sendo mantidos em centros de contenção improvisados apenas pelo temor estatal de que eles possam estar infectados. E os locais escolhidos são os mais diversos, e absurdos, como hotéis confiscados, escolas abandonadas e estações de ônibus isoladas.

Longe de qualquer conforto, as pessoas são obrigadas a ficar em quartos lotados com comida, água ou máscaras limitadas. Além disso, as pessoas ficam sob vigilância da guarda militar por semanas ou meses simplesmente em espera para realizar testes de coronavírus.

– Eles nos disseram que estamos contaminados, que somos culpados de infectar o país – disse Javier Aristizabal, enfermeiro da capital, Caracas, que disse ter passado 70 dias em centros depois de retornar da Colômbia em março.

Parte da oposição ao governo Maduro afirma que a Venezuela “é o único país no mundo onde ter Covid é um crime”. O cientista política venezuelano John Magdaleno relatou ao jornal que a prioridade da atual gestão do país é apenas a sobrevivência política.

– A pandemia claramente representa uma ameaça ao governo porque mostra a precariedade de seus recursos. A prioridade não é lidar com a pandemia. É a sobrevivência política de curto prazo -destaca.

Médicos do país relatam que a abordagem pesada do governo pode ser muito perigosa para a questão sanitária. A percepção é de que tal decisão que pode estar desencorajando aqueles que realmente estão doentes de procurar alguma ajuda, o que deixa a pandemia ainda mais difícil de ser combatida na Venezuela.

– Quando as pessoas ficam doentes, pensam que têm um problema legal ou policial, como se fossem delinquentes. Então eles preferem se esconder – diz Julio Castro, médico venezuelano que assessora o Congresso.

Até esta quinta-feira (20), o país relatou oficialmente 303 mortes pela Covid-19 com 36.868 casos entre a sua população de cerca de 28,8 milhões de habitantes. Parece pouco diante do quadro narrado pelos especialistas, e provavelmente é, já que médicos e jornalistas que questionaram os números oficiais afirmam que já foram ameaçados e ao menos 12 médicos e enfermeiras já foram detidos por fazerem comentários públicos sobre a pandemia.

Em contraste a tudo que é narrado pela população do país, o ditador venezuelano age como se nada estivesse acontecendo e até chega a elogiar a atuação do país no combate à pandemia, como em um discurso nacional feito no último dia 14 de agosto.

– Você recebe o cuidado que é único no mundo, cuidado humano, amoroso, cristão – completa Maduro.

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