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Pós-doutor em Física e pesquisador do InfoGripe aponta cuidados com a circulação do vírus

Camille Dornelles - 30/07/2020 14h45 | atualizado em 03/08/2020 11h10

Hospital de campanha do RioCentro, no Rio de Janeiro, foi inaugurado em maio Foto: Divulgação/Prefeitura do Rio de Janeiro

Entre esta segunda e terça-feira (28), a China somou 68 novos casos do novo coronavírus, com a maior parte das infecções na província de Xinjiang, no noroeste do país, que registrou 57 contágios. No domingo foram 61 novos casos detectados, 46 no sábado e 34 na última sexta-feira (24). A Comissão Nacional de Saúde revelou que os números apontam para outro grande surto ativo.

Essas informações acendem o medo da chamada “segunda onda” da doença na China e também em outros países. Aqui no Brasil, há diferença do comportamento da pandemia em diferentes regiões. Segundo o doutor em Física Marcelo Gomes, pesquisador do InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), “nos estados que estão observando queda há várias semanas, uma segunda onda faz parte das possibilidades sim”.

– Enquanto o vírus estiver circulando na população, o risco de voltar a aumentar vai estar presente, principalmente a medida que retomamos as interações presenciais (reuniões, encontros, aulas presenciais, bares, …). Por quê? Porque quanto maior a interação entre os indivíduos, mais fácil é a transmissão de vírus respiratórios como é o caso do novo coronavírus. E já temos alguns indícios de que esse processo pode estar se iniciando em alguns estados, como é o caso do Rio de Janeiro, Amapá, Ceará e, em menor medida, no Maranhão – declarou ao Pleno.News.

RELATO DE PROFISSIONAL DA SAÚDE
V. T. é enfermeira e atua em um dos hospitais de campanha mantidos pela prefeitura do Rio de Janeiro. Ela conversou com o Pleno.News sobre o que tem visto no local, mas pediu para não ser identificada. Perguntada se acreditava ser possível uma segunda onda da Covid-19 no Brasil, a profissional foi clara ao afirmar que sim.

– Com certeza! Já está acontecendo. Nas últimas semanas houve uma boa esvaziada nos hospitais de campanha, mas já voltou a encher. Para você ter noção: há umas duas semanas não tinha ninguém internado, agora já temos dez leitos de UTI ocupados com casos graves – afirmou.

Hospital de campanha do Riocentro, no Rio de Janeiro Foto: Divulgação/Prefeitura do Rio de Janeiro

Para ela, os casos graves tendem a voltar a crescer por causa do comportamento das pessoas nas ruas.

– As pessoas estão achando que acabou! Andam nas ruas sem máscara, vão para a praia, para bares e restaurantes passear, ficam horas lá. Se continuar assim, com certeza, vai voltar tudo. Eu queria que as pessoas que acham que não existe Covid-19 passem um dia no CTI vendo gente morrendo – advertiu.

Já temos alguns indícios de que esse processo pode estar se iniciando em alguns estados

A enfermeira também falou sobre a situação de trabalho dos profissionais de saúde. Os hospitais de campanha administrados pela prefeitura continuam ativos, enquanto aqueles montados pelo governo do estado (Maracanã e São Gonçalo) foram desativados.

– Com relação aos insumos eu não tenho do que reclamar. Os hospitais de campanha da prefeitura do Rio de Janeiro não estão sofrendo com falta de insumos. Mas os profissionais também atuam de forma consciente, sem desperdiçar. Agora, se por um lado não faltam insumos, pelo outro faltam os salários. Já estou indo para o terceiro mês trabalhando sem receber – desabafou.

ENTENDA A SEGUNDA ONDA
O pesquisador Gomes explicou ao portal também o que caracterizaria uma segunda onda. Ele esclarece que não existe uma definição única, com valores bem estabelecidos, mas depende de uma análise do quadro geral.

– Podemos dizer que houve uma primeira onda quando, após um período de crescimento acentuado, observou-se a formação de um platô que fosse significativo. Se, após essa queda, houver uma retorno a uma fase de crescimento no número de novos casos, então pode-se dizer que se iniciou uma segunda onda. Note que não é imperativo que a queda atinja valores que possam ser classificados como significativamente baixo para dizermos que houve uma primeira onda, uma queda significativa em relação ao pico já pode caracterizar uma onda. Se a retomada do crescimento ocorrer antes de se observar valores realmente baixos, significa que começamos a segunda onda sem nem sequer terminar a primeira com sucesso, mas não descaracteriza a primeira onda – afirmou.

Uma queda significativa em relação ao pico já pode caracterizar uma onda

CURVA DE CASOS NO BRASIL
Para ilustrar a diferença por estados, Gomes comparou as curvas do país com o estado mais expressivo. Em números nacionais, houve uma redução de 12% de novos casos em relação ao período de pico da doença. No estado do Rio de Janeiro essa redução foi de 60%.

– É isso que nos permite dizer que na curva do Brasil observamos apenas uma leve oscilação e não a formação de uma primeira onda, mas, no Rio de Janeiro sim, podemos tirar essa conclusão – interpreta o especialista.

Curva de casos no Brasil Foto: Reprodução/InfoGripe/Fiocruz

 

Curva de casos no Rio de Janeiro Foto: Reprodução/InfoGripe/Fiocruz

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