Leia também:
X Covid: Argentina decide proibir a entrada de estrangeiros

Cientistas desconfiam que há “problema” com a CoronaVac

Atraso na divulgação dos dados tem levantado dúvidas sobre eficácia da vacina

Thamirys Andrade - 24/12/2020 12h56 | atualizado em 24/12/2020 13h12

Apresentação dos resultados foi postergada por quatro vezes Foto: Divulgação/Governo de SP

Os adiamentos sucessivos na divulgação dos dados sobre a CoronaVac têm despertado desconfiança na comunidade científica. Para especialistas, as postergações podem abalar a confiança na vacina frente aos cientistas e causar insegurança na população.

– A falta de uma explicação mais consistente sobre o motivo dos adiamentos começa a deixar os cientistas desconfiados de que pode ter havido algum problema com a vacina – afirma Maria Amélia Veras à revista Exame. Veras é epidemiologista da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo e do Observatório Covid-19 BR.

A suspeita é de que o índice de eficácia não tenha obtido o resultado esperado ou que tenha sido inconclusivo. Nesta quarta-feira (23), o Instituto Butantan garantiu que a vacina atingiu uma marca superior a 50%, o mínimo para a solicitação do registro da Anvisa. Entretanto, não detalhou o número exato e nem exibiu os dados.

– Uma taxa de 50% significa que apenas metade da população que receber a vacina estará de fato imunizada – explica Gonzalo Vecina, médico sanitarista e presidente da Anvisa entre 1999 e 2003.

Administrar imunizantes com baixa eficácia na população pode fazer com que as pessoas pensem estar livre do vírus, e descuidem das medidas de proteção, quando apenas uma parte delas de fato criaria anticorpos para a doença. Vacinas como a Pfizer e Moderna alcançaram uma marca de 95%.

CHINA NÃO REGISTROU A CORONAVAC
Outra preocupação gira em torno do fato de quem nem mesmo a China registrou o imunizante produzido pela Sinovac.

– Não sabemos muito bem o que se passa na China, por se tratar de um país fechado. Pode ser que estejam tomando um cuidado especial ou estejam envoltos em questões burocráticas, mas o fato é que sem o registro da vacina na China é impossível haver um registro pela Anvisa no Brasil – aponta Gonzalo Vecina.

JUSTIFICATIVAS QUESTIONÁVEIS
Especialistas também questionam as justificativas fornecidas pelo Instituto Butantan sobre o adiamento dos resultados. Segundo a entidade, o atraso ocorreu porque a Sinovac quer analisar os dados de todos os países envolvidos nos testes.

– Geralmente se analisa o conjunto dos dados, até porque, somando todos os países, você tem um poder estatístico maior, ou seja, um dado mais confiável. Além disso, uma análise global é importante porque essa vacina será usada em populações de vários países – explica Ricardo Gazzinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, ao jornal Estadão.

– Me causa surpresa o Butantan falar só agora que tem essa cláusula no contrato que diz que só pode divulgar os dados juntamente com a Sinovac – completa a epidemiologista Carla Domingues.

CALENDÁRIO
Para Gazzinelli, o governo de São Paulo devia ter sido mais cuidadoso ao anunciar o cronograma.

– Parece que existe uma ansiedade e talvez um desejo político de ter isso logo. Tem coisas que a política decide, mas se uma vacina funciona ou não é a ciência que decide – afirmou.

Programado para o dia 15, o governo do estado já havia adiado o anúncio sobre os dados. Na última quarta-feira (24), a apresentação dos resultados foi novamente postergada por mais duas semanas. Cientistas acreditam que o calendário do início da vacinação, marcado para o dia 25 de janeiro, também precisará ser revisto.

Leia também1 Argentina autoriza vacinas da Rússia e da Pfizer/BioNTech
2 Israel detecta quatro casos de variante do coronavírus
3 Chile iniciará vacinação contra a Covid-19 nesta quinta-feira
4 Covid-19: Vacinação inicia no fim de janeiro, prevê Pazuello
5 Relembre: 10 fake news sobre a pandemia, espalhadas em 2020

Siga-nos nas nossas redes!
WhatsApp
Entre e receba as notícias do dia
Entrar no Canal
Telegram Entre e receba as notícias do dia Entrar no Grupo
O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.