Contaminação preocupa e deixa Brumadinho sob alerta
Especialista alerta para cuidados, principalmente com o contato com a lama do local
Rafael Ramos - 14/03/2019 09h00 | atualizado em 14/03/2019 15h46
Passados mais de dois meses da tragédia em Brumadinho, são grandes as chances das equipes de resgate serem expostas à contaminação em contato com a lama espalhada pelo rompimento da barragem da Vale. Em virtude disso, o porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, anunciou que os socorristas receberão acompanhamento médico durante 20 anos.
O presidente e fundador do Instituto Brasileiro de Toxicologia, doutor Flávio Zambrone, explica que é necessário diferenciar a população geral dos bombeiros. Os brumadinhenses têm um contato com os rejeitos mais restrito do que os socorristas. O que faz com que a exposição da população seja menor.
– O que se viu em Brumadinho é inédito e não podemos afirmar qual seria essa absorção. Em resumo, todos os envolvidos podem ter sido expostos excessivamente a metais e outras substâncias. Isso não significa intoxicação ou doença. Cada caso deve ser avaliado e estudado separadamente – destacou Zambrone ao Pleno.News.
O toxicologista ainda ressalta que a absorção dos metais pela pele é muito pequena. Mas casos de infecções como as de pele e as respiratórias devem ser acompanhadas e tratadas adequadamente. Flávio diz que, sem os resultados das análises ambientais e de sangue e de urina, não é possível afirmar ou descartar nada.
– A contaminação acontece em primeiro lugar pelo contato da pele com a lama. Depois devem ser consideradas a inalação e a ingestão de poeira proveniente da lama seca. Outra fonte de exposição é o consumo de água que esteve em contato com a lama. Medidas de prevenção da exposição da população aos contaminantes devem ser implementadas e mantidas pelo tempo necessário. Essas ações não podem ser abandonadas quando o episódio deixar as manchetes.
O doutor Flávio Zambrone também avisa sobre o risco de infecções decorrentes da decomposição dos cadáveres soterrados. Os profissionais têm usado equipamentos de proteção para evitar riscos. Mas Zambrone avisa que eles devem estar vacinados contra as principais doenças, como as hepatites.
– Além do risco de um eventual contato direto com a lama, a população não deve ingerir água não tratada proveniente de locais onde possam existir materiais em decomposição. Nessa fase inicial, a água do lençol freático superficial deve ser monitorada quanto à presença de bactérias causadoras de doenças e também verificada a presença em excesso de nitratos e nitritos, que também podem ser prejudiciais.
Diferente dos moradores de Brumadinho, a missionária Doroti Campos, vinculada à Comissão Batista Mineira, que atua como voluntária na cidade, sofre com efeitos da contaminação em Mariana. Doroti teve contato com a contaminação na região há quatro anos com o rompimento da barreira da Samarco. Por isso, ela sofre com lapsos de memória, fadiga, tontura e dores na perna. Seu sangue carrega resquícios de chumbo, alumínio e níquel. Além de exames médicos e medicação, a missionária precisa ter uma dieta balanceada e rica em ferro.
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