Artigo que apoia “aborto pós-parto” revolta. Entenda o caso
Estudo de dupla de filósofos relativiza morte de recém-nascidos
Camille Dornelles - 23/01/2019 12h54 | atualizado em 23/01/2019 17h52

Um artigo científico assinado por dois filósofos da Universidade de Melbourne, Austrália, tem provocado várias discussões nas redes sociais. O estudo After-Birth Abortion: Why Should The Baby Live? (Aborto Pós-Nascimento: Por Que o Bebê Deveria Viver?, em português) circula na internet e levantou polêmica nos últimos dias.
– Um abismo chama outro abismo! Agora, os abortistas não querem somente o direito de matar a criança no ventre da mãe. Querem também o direito de fazê-lo depois de nascida. Pois é, vida humana é um dom de Deus, e não há nada mais criminoso e mais anti-cristão do que o aborto. Afirmo sem a menor sombra de dúvidas que toda e qualquer tentativa de aborto afronta diretamente o Criador e Senhor de todas as coisas – criticou o pastor Renato Vargens.
O jornalista Reinaldo Azevedo também se mostrou indignado com o trabalho em um artigo publicado em seu blog.
– Os neonazistas da “bioética” já não se contentam em defender o aborto. Agora também querem a legalização do infanticídio! Eu juro! E ainda atacam os seus críticos, acusando-os de “fanáticos” – afirmou, revoltado.
ESTUDO ANTIGO
Muitos se mostraram indignados com a defesa do infanticídio pelos cientistas. O que muitos não sabem é que o estudo não é recente. Ele foi publicado na revista científica Journal of Medical Ethics no dia 23 de fevereiro de 2012.
Uma semana depois, os autores Alberto Giublini e Francesca Minerva publicaram um pedido de desculpas, mas por não terem sido claros no artigo. A dupla afirmou que o estudo foi direcionado a outros filósofos e estudiosos da bioética familiarizados com a discussão. Eles esclareceram que não defenderam a legalização.

O QUE DIZ O ESTUDO
O argumento dos autores é de que, utilizando o conceito de “pessoa” do filósofo Michael Tooley (1975), poderia se discutir a permissão do infanticídio da mesma maneira como se discute a permissão do aborto.
Os conceitos de Tooley foram explicados em diversos livros do estudioso Peter Singer. Esse afirma que “tirar a vida de uma pessoa (um ser autoconsciente) sem o seu consentimento significa frustrar os seus desejos relativos ao futuro. Matar um caracol ou um recém-nascido com um dia não frustra nenhuma aspiração deste tipo, porque os caracóis e os bebés são incapazes de semelhantes desejos”.
Outro de seus livros declara que “o feto, o ‘vegetal humano’ gravemente retardado, e até o bebê recém-nascido – todos são indiscutivelmente membros da espécie homo sapiens, mas nenhum deles é autoconsciente, tem sentido de futuro, ou capacidade de se relacionar com os outros”.
Além disso, o estudo também defende que o infanticídio é mais benéfico para a mãe do que a entrega para adoção.
– Precisamos considerar os interesses da mãe, que pode sofrer angústia psicológica ao ter de dar seu filho para a adoção. Há graves notificações sobre as dificuldades das mães de elaborar suas perdas. Sim, é verdade: esse sentimento de dor e perda podem acompanhar a mulher tanto no caso do aborto, do aborto pós-nascimento e da adoção, mas isso NÃO SIGNIFICA que a última alternativa seja a menos traumática. A mãe que sofre pela morte da criança deve aceitar a irreversibilidade da perda, mas a mãe natural [que entrega filho para adoção] sonha que seu filho vai voltar. Isso torna difícil aceitar a realidade da perda porque não se sabe se ela é definitiva – afirma um trecho do texto.
O Journal of Medical Ethics decidiu excluir o artigo de sua base eletrônica.
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