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Alerta: Pornografia vicia e prejudica a relação sexual

Ejaculação precoce ou tardia estão entre as possíveis consequências da prática

Pierre Borges - 28/01/2021 17h40 | atualizado em 28/01/2021 18h32

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Problemas com pornografia têm atingido homens e mulheres Imagem: Pexels/Pixabay

Um estudo feito pela Netskope Security Cloud revelou que, no primeiro semestre de 2020, o acesso a sites pornográficos aumentou em 600% com relação ao mesmo período do ano anterior. O número expressivo acende um alerta para especialistas, que afirmam que o consumo exagerado de pornografia pode levar ao adoecimento da mente e prejudicar o desempenho sexual.

A psicóloga Carla Viriato alerta que o consumo de pornografia pode se tornar um vício sério.

– Todo indivíduo que tem um vício, seja ele qual for, já traz consigo uma predisposição em depender de algo para sentir prazer de forma descontrolada. O cérebro libera a dopamina (o hormônio do prazer), e isso faz com que a pessoa tente manter o mesmo nível de dopamina para alcançar o prazer inicial novamente, e por isso a repetição [do ato]. É o que chamamos de ciclo vicioso. Muitas vezes, não importa para ela como irá conseguir tal “droga”, neste caso a pornografia – destaca Carla.

Psicóloga Carla Viriato Foto: Arquivo Pessoal

O vício pode até levar o indivíduo a preferir a masturbação em lugar da relação sexual. É o que conta Filipe Bentle, pastor que há 5 anos lidera um ministério de aconselhamento a viciados em pornografia, que atende a todo o país.

– Tratamos com centenas de homens e mulheres que preferem se masturbar, em vez de terem relação sexual com seu cônjuge. […] Todas essas dopaminas não podem ser exauridas para fora do corpo, sendo absorvidas pelo cérebro. Desse modo, novos caminhos neurais são criados em nosso cérebro, desenvolvendo um novo hábito, o vício – revela Filipe.

Em 2018, a empresa Quantas, especializada em pesquisas e consumo de mercado, concluiu que 22 milhões de brasileiros já assumiam consumir este tipo de conteúdo. Carla afirma que o vício se caracteriza “quando a pessoa não tem mais controle da situação e começa a priorizar aquilo que a estimula a ter essa sensação de prazer, liberdade e satisfação de forma compulsiva” e que a situação pode levar a problemas em relações sexuais reais.

– Ela [a pessoa viciada em pornografia] pode transferir suas fantasias sexuais para seu parceiro e ter dificuldade para distinguir o real do virtual, levando-se em conta que, nos dias atuais, o maior acesso à pornografia é feito pela internet. Na questão física, ela pode apresentar ejaculação precoce ou tardia – explica a psicóloga.

No primeiro semestre de 2020, o acesso a sites pornográficos aumentou em 600%

Com os alertas para os malefícios que a pornografia causa no corpo e na mente das pessoas, surgem dois grupos entre os que consomem o material: o dos que naturalizam a prática e o dos que procuram ajuda.

– Infelizmente, ainda temos uma cultura machista, tanto que a maioria de casos de vício em pornografia são de homens. Em nosso país, as mulheres ainda são vistas como objeto de prazer, apesar desse quadro estar mudando. Geralmente, isso [o vício em pornografia] é tratado como algo normal ao comportamento do homem (afinal, quem nunca viu ou assistiu à pornografia?). Porém, do outro lado, estão aqueles que sofrem com a culpa, [as] frustrações e [as] decepções por não terem autocontrole sobre o vício e sofrem os prejuízos sociais: isolamento, falta de atenção e dificuldade nos relacionamentos – destaca Carla.

Atualmente, o grupo que procura deixar o vício pode acessar páginas da web que falam sobre o tema e até mesmo organizações dispostas a ajudar quem estiver emitindo sinais de socorro.

É o caso do Ministério Vida Pura, criado em 2016 pelo pastor Filipe Bentle, que assume ser, ele mesmo, um ex-viciado em pornografia. Segundo Bentle, em quatro anos, mais de 13 mil pedidos de ajuda foram feitos ao Vida Pura.

– Entre nossos alunos (presenciais e à distância), alcançamos uma média de 2.600 pessoas. Não sabemos exatamente o número, pois a demanda diária é muito grande – conta.

O canal do Ministério Vida Pura já conta com mais de 45 mil inscritos Foto: Reprodução

Um fator preocupante é a idade/fase com que as pessoas têm o primeiro contato com pornografia: em geral na infância. O fato chama atenção para a necessidade de supervisão dos pais com relação ao conteúdo que os filhos acessam na internet – tanto em casa quanto fora dela – junto aos amigos.

– A média do primeiro contato com a pornografia, entre os nossos alunos, é de 11 a 13 anos. Porém, devido ao avanço da tecnologia e a facilidade ao acesso à pornografia, a média mundial hoje para o primeiro contato com pornografia é entre 6 e 8 anos de idade. Já recebemos um pedido de ajuda de uma mãe de uma menina que tinha 12 anos de idade e que consumia pornografia desde os 8 anos – alerta o líder do ministério Vida Pura.

Embora o líder do projeto seja um pastor, o trabalho atende pessoas com crenças diversas e garante que a necessidade de interromper o consumo de pornografia vai muito além de qualquer religião.

Já recebemos um pedido de ajuda da mãe de uma menina que tinha 12 anos de idade e que consumia pornografia desde os 8 anos

– Hoje as pessoas, mesmo não seguindo princípios cristãos, já reconhecem os males da pornografia e procuram ajuda. O Vida Pura aborda o problema da pornografia tanto no âmbito científico quanto [no] teológico – informa o pastor Filipe.

Filipe Bentle, líder do Ministério Vida Pura
Filipe Bentle, líder do Vida Pura

Carla Viriato confirma que todas as esferas da vida de uma pessoa podem ser prejudicadas com a dependência dela de conteúdo pornográfico.

– [O viciado] pode desenvolver uma mente fantasiosa e doente. Apesar de não termos nenhuma definição nem classificação específica no DSM (Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais) para o consumo exagerado da pornografia, estudos mostram os prejuízos psicológicos, físicos e sociais – afirma Carla.

O tema está em alta e tem atraído até mesmo famosos internacionais a falar sobre o assunto, como Terry Crews e Robert Downey Jr. Em 2015, o astro de Hollywood Hugh Grant afirmou, em um programa de auditório norte-americano, que havia decidido parar de consumir pornografia há três anos.

– Ah, eu estou muito orgulhoso disso! Faz uns três anos. É, eu decidi parar. […] Eu agora tenho três filhos. Acho que há uma ligação – confessou o artista.

O ator Hugh Grant já teve problemas com pornografia e decidiu parar Foto: Watch What Happens Live/Reprodução

Entretanto, ainda há um grande foco apenas sobre os homens atingidos por este vício. Segundo o pastor Filipe, este problema já atinge pessoas de todos os sexos. Ele afirma que 40% do público que procura a ajuda do Vida Pura é composto por mulheres.

– Mas isso se dá pelo fato de que atualmente não temos nenhuma conselheira na equipe, se não, acredito que seria 50% de cada gênero. Para se ter uma ideia, atualmente temos mais mulheres nos seguindo no Instagram do que homens – informa o líder do Vida Pura, que hoje conta com seis conselheiros, sendo a metade composta por ex-alunos do ministério.

Em meios que tendem ao progressismo, embora também haja críticas à indústria pornográfica, é comum ver o incentivo à masturbação feminina, ignorando os males que a prática pode causar. O pastor destaca os riscos para doenças psicológicas que a prática pode gerar.

– Todos aqueles que são viciados em pornografia/masturbação desenvolvem ansiedade, depressão. Uma das maiores lutas do nosso ministério é contra essa questão ideológica progressista, que levanta a bandeira da imoralidade, entre outras questões – alerta Felipe.

Ele também afirma que o abandono da pornografia não é imediato. Trata-se de um processo que pode ser alcançado com a dedicação necessária.

– Infelizmente, não existe essa questão de abandonar o vício e nunca mais sentir vontade. A pornografia é igual ou até pior que as drogas químicas e o álcool. Porém, nossos alunos começam a andar em liberdade em alguns meses. Tudo depende da dedicação de cada um no processo de renovação da mente. Muitos deixam de ser escravos da pornografia e passam a experimentar uma nova vida, baseada no domínio próprio. A vontade pode até bater à porta, porém, após o processo de renovação da mente, é totalmente possível dizer não – conclui.

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