A internet está “emburrecendo” as pessoas? Especialista explica
Neurocientistas apontam relação entre a internet e a diminuição do QI
Monique Mello - 30/11/2020 16h04 | atualizado em 30/11/2020 16h34
O diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, neurocientista Michel Desmuget, publicou recentemente o livro “Fábrica de Cretinos Digitais”. Na publicação, ele apresenta provas de que os dispositivos digitais estão afetando seriamente o desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes.
O artigo de Desmuget ganhou repercussão mundial. Segundo ele, o QI é medido por um teste padrão.
– No entanto, não é um teste ‘estático’, sendo frequentemente revisado. Meus pais não fizeram o mesmo teste que eu, por exemplo, mas um grupo de pessoas pode ser submetido a uma versão antiga do teste – conta.
Para o pesquisador, o que se sabe com certeza é que, mesmo que o tempo de tela de uma criança não seja o único culpado, isso tem um efeito significativo em seu QI.
– Os principais alicerces da nossa inteligência são afetados: linguagem, concentração, memória, cultura (definida como um corpo de conhecimento que nos ajuda a organizar e compreender o mundo). Em última análise, esses impactos levam a uma queda significativa no desempenho acadêmico – acrescenta.
NEUROCIENTISTA LUSO-BRASILEIRO AVISOU ANTES
Fabiano de Abreu, neurocientista, já havia publicado em dezembro de 2018 um artigo científico com o nome ‘A internet está deixando as pessoas menos inteligentes’ no Brazilian Journal of Development que chegou a ser divulgado em apenas um veículo de comunicação em Portugal e um em Angola.
Segundo o neurocientista, diversos fatores publicados no seu artigo científico comprovam essa afirmação. Ele garante que estamos modificando nosso cérebro, que aumentava o seu QI com a evolução.
– Com a tecnologia, fomos “desmamados” do nosso ambiente e território. O nosso esforço para o alcance diminuiu, mudamos a chave evolutiva de forma abrupta e condicionamos o cérebro numa evolução distinta da que estava a discorrer, formatando assim “tipos” de inteligências com novas vertentes. O meio ambiente deixou de desafiar o homem e passou a absorvê-lo. Pela primeira vez na história evolutiva, não há a necessidade de batalhar para dar o passo à frente, mesmo que a condição seja a mesma referente ao cérebro que ainda é primitivo – explica ao Pleno.News.
Segundo o pesquisador, que também é Mestre e Doutor em Psicologia, o objetivo do artigo é demonstrar que a internet é um mundo aberto ao facilitismo, pois com ela as pessoas deixam de usar o cérebro como deveriam ou poderiam. Ele afirma também que as crianças de hoje vêm a maior das dificuldades em tarefas tão banais como a leitura ou a pesquisa e estão viciadas no mundo on-line, que lhes garante elevada dose de dopamina num único clique. As conquistas são fáceis e alcançáveis em quase todas as aplicações, seja um like numa rede social ou uma meta de um jogo.
A Internet simplificou a busca pela informação; é como se não precisássemos mais de mastigar, apenas engolir
– Este tipo de rotina cria um ciclo vicioso, a necessidade de dopamina gera mais ansiedade e esta leva ao cansaço devido ao cortisol e outros hormônios liberados que resultam na fadiga. Armazenamos com a emoção e não há mais emoções para armazenamentos que façam a diferença. As emoções estão condicionadas às realidades virtuais. O ciclo de conquistas nos coloca numa ansiedade que prejudica a atenção e na falta de foco não há memorização e, sem memorização, não há aquisição de conhecimento, voltamos à um ciclo vicioso, e é para quebrar esse novo paradigma – finaliza o especialista.
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