Leia também:
X Conferência gospel nos EUA é marcada por música e oração

Pr. Lucas fala sobre traumas, relacionamento e restauração

Cantor compartilha suas experiências e fala da importância da família

Rafael Ramos - 25/02/2019 10h05 | atualizado em 25/02/2019 10h21

Pr. Lucas abre o coração e compartilha experiências Foto: Pleno.News

Em divulgação do Audiobless Deus de Detalhes, lançado pela MK Music, Pr. Lucas conversou com o Pleno.News sobre os temas abordados no livro e não teve medo de se abrir com o público. O conteúdo apresentado traz momentos até mesmo delicados da vida do artista.

Fases difíceis como o abandono do pai, a violência sofrida com o padastro e a traição cometida no começo do casamento não ficaram de fora do Audiobless e nem da entrevista. Apesar dos traumas sofridos, Pr. Lucas declara que é uma nova pessoa e que se tornou pastor e grande amigo de seu padastro. Através das experiências e da sua fé em Deus, ele explica que só Jesus pode transformar qualquer ferida em cicatriz.

Como viver uma nova história, apesar das cicatrizes?
Só Jesus pode fazer, não tem outra forma. A ferida só vira cicatriz depois que você trata. Se você não trata a ferida, ela pode infeccionar e matar. A minha vida teve muitas feridas abertas. Nesse Audiobless, eu decidi compartilhar meus fracassos e minhas vergonhas. Compartilhei todos os pontos principais da minha vida, incluindo os de derrota e os de feridas. Não gosto da vitimização e tentei fazer algo que pudesse estar dentro de uma verdade leal. Dou ênfase em Deus, que é o ponto central.

Como se libertou dos traumas e quebrou um ciclo vicioso em sua vida?
O ciclo se fez de muitas formas diferentes. Eu não conheci meu pai biológico, tive um sofrimento com meu padastro, que hoje é um superamigo e eu sou pastor dele. Em uma das minhas quedas, eu tive um filho fora do casamento, o Gabriel. A graça de Deus perdoa tudo, mas fica a consequência que carrego até hoje, por não poder ter o Gabriel por perto para dar a ele o mesmo que dou ao Samuel no nível de carinho, abraço e presença. A gente se vê nas férias, mas durante o ano é meio difícil. Então, você vê que o ciclo chegou até ao meu filho. Ali foi um momento de despertar e dizer que não queria continuar naquilo. Hoje, eu vivo com meus filhos uma infância que não tive.

Como essa questão da violência doméstica deve ser tratada dentro da igreja?
Nós temos um problema sério dentro da igreja. Nós tratamos só de coisas que consideramos espirituais e, às vezes, deixamos de tratar a questão do caráter, o lado comportamental, que também faz parte do que Jesus faz na vida da pessoa. A fé que salva e transforma vem de ouvir a Palavra. O problema é que, aquilo que a gente não fala, não gera expectativa de mudança. Então, a igreja tem muito tabu, não quer falar de quase nada. Quer falar de poder, avivamento, glória e de coisas concernentes ao mundo religioso. Eu sinto que dentro da igreja você tem muita gente, desde o púlpito até à porta, que é violenta com as palavras, nas ações com os filhos, com a esposa e que a igreja deixa de tratar esses assuntos.

Há uma questão cultural dentro dessa esfera de violência e machismo?
Acho que não é só isso. Também tem uma guerra dos sexos. Do outro lado você tem a mulher querendo disputar poder. O casal inicial da Bíblia não tinha diferença de patamar. Os dois juntos deveriam dominar, não tinha um que dominava mais ou menos. Foi depois do pecado que Deus submeteu a mulher ao marido e o marido ao trabalho. Essa diferença veio como consequência do pecado. A geração dos meus avós é uma geração mais rígida, mais dura, na qual a maioria não era habituada a dar carinho. Então, geraram filhos que se comportaram de igual modo. É uma tendência que você repetir se não criar um novo modelo. Então, nós temos, na verdade, uma herança cultural. O Brasil foi iniciado com a violência contra os escravos e a sede pelo poder. Então, você tem muitos fatores comportamentais, incluindo o machismo, que acaba gerando essa violência.

Pr. Lucas acredita que a igreja deve tratar de assuntos considerados tabus Foto: Divulgação

Dentro desse aspecto, as igrejas têm conseguido ser um ponto de fuga para as pessoas?
Você tem igrejas que estão focadas no ativismo, então, você tem que ser um membro produtivo, não pode ser um membro doente. Mas, a gente vê que a igreja é um lugar de gente doente que vai sarar. Agora, cada um tem uma história. Eu não posso obrigar a igreja a transformar o indivíduo. Muitas vezes, a pessoa não quer ser ajudada e este tem que ser um trabalho em conjunto. Se por um lado eu encontrei no meu sogro, o pastor Maurício Anis Rahmé, alguém que me orientou, eu preciso deixar muito claro como funcionou essa orientação. Essa ajuda aconteceu através de confrontos, nos quais tive que tocar em assuntos que não queria. Teve áreas do meu caráter em que vi que eu estava errado. Você tem que se submeter a um processo no qual, muitas vezes, a igreja quer ajudar e o indivíduo não quer ser ajudado. Então, esta é uma responsabilidade tanto de quem procura ajuda quanto de quem se propõe a ajudar.

Como alguém que começou como pregador mirim, qual deve ser o equilíbrio entre o lúdico e a questão ministerial/espiritual?
Quando vejo pregador ou cantor mirim, eu sempre fico preocupado porque esta é uma tendência atual. Eu sou um cara adulto, tenho um pouco de equilíbrio e, de vez em quando, eu me vejo em um ativismo que, se eu não colocar limites, paro de viver e fazer outras coisas. Se alguém vai deixar a criança ser um pregador, não pode esperar dela um comportamento espiritual de um adulto. Você pode esperar que ela saiba pregar e seja usada por Deus. O que não pode é esperar dessa criança que ela seja um mini pastor. No púlpito, ela vai ter aquele comportamento que ela aprendeu construindo um formato de chamado dela, mas, ao descer do púlpito, ela vai brincar, vai ser uma criança. O grande equilíbrio que os pais precisam ter é para não permitir que nenhum chamado ministerial interfira na vida familiar e nas fases pelas quais cada indivíduo precisa passar. Do contrário, vamos ter, no futuro, um pregador desequilibrado, que não viveu suas fases corretamente.

Em relação à depressão: é possessão demoníaca, doença na alma, um pouco dos dois ou tem algo a mais?
Depressão não é demônio e nem vou dizer que é uma doença no campo da alma. Na verdade, a depressão tem primeiro um desgaste biológico. Você tem um cérebro com um problema nas informações químicas e uma ordem biológica vinda de um desgaste, um cansaço, uma condição externa. Além disso, você pode ter condições hereditárias. Uma vez que você está com um desgaste biológico, automaticamente desenvolve uma emoção desequilibrada e tem um campo aberto para o diabo ampliar a dor e o sofrimento. Não acredito que a depressão seja uma doença espiritual. Ela pode ser um campo de ação de Satanás, mas ela parte de um princípio biológico.

Tem muita gente se desviando da igreja porque entrou num nível de desgaste físico muito violento, causado pelo ativismo na igreja, que a levou a parar de viver, de tomar sorvete com o filho, de passear. Ela é cobrada o tempo inteiro e não há equilíbrio nessa troca. O cara não pode faltar uma Santa Ceia que parece que ele desviou da igreja. O cara já tem todas as pressões e o lugar onde era para encontrar refúgio e prazer, encontra mais opressão. Este é um assunto que a gente precisa olhar com carinho. Se eu pudesse, teria um psicólogo e um psiquiatra na minha igreja para atender os membros. Você tem muita gente doente dentro do casamento e que se separa porque está vivendo esse tipo de doença enquanto o outro acha que é frescura.

E como equilibrar vida ministerial e vida em família?
Eu acho mais fácil para um membro comum. Como pertenço a uma família de pastores, de vez em quando a gente comete excessos. É uma coisa que preciso sempre estar pontuando e observando. Se o ministério de cantar, pregar e ser pastor for interferir seriamente na minha família, eu paro. Deus pode levantar outro cantor ou outro pastor, mas não pode levantar outro pai nem outro marido. Isso é ministério vitalício.

A gente comete excessos de vez em quando, mas, quando perceber que isso vai interferir, é a hora de repensar. Eu não posso construir uma igreja e com isso destruir uma família. O processo é inverso: uma família bem construída e alicerçada é que pode alicerçar a igreja. Agora, os membros precisam ter consciência de que o pastor não é escravo dos problemas pessoais deles. Os membros precisam aprender a ouvir não do pastor, porque ele é limitado. Os problemas são amplos, mas o grande ponto de equilíbrio realmente é ser inclinado para a família.

Pr. Lucas e Thaisa estão casados há 13 anos Foto: Reprodução

Através de suas próprias experiências, como o casal pode recomeçar, após uma traição?
Primeiramente é preciso haver muita disposição de quem vai perdoar, para entender que não vai existir uma amnésia. Às vezes a igreja impõe que o perdão tem que ser uma amnésia total. Não tem como esquecer e é notório que, em algum momento, isso vai arremeter para alguma lembrança. A disposição de continuar e perdoar é uma decisão, não uma emoção. Por outro lado, aquele que violou o casamento precisa ter humildade porque ele vai ter que construir um resgate de confiança. Durante um período ele terá que entender que foi ele quem desconstruiu a confiança. É preciso ter humildade bastante para se submeter a um tempo de cura que não é só dele. Mesmo quem errou tem a tendência a considerar a sua dor maior do que a de quem ele feriu.

A tendência, quando você erra, é pegar o seu erro e deixar no esquecimento. Isso só acontece no campo da eternidade. Deus apaga, mas as pessoas não têm amnésia. Muitas vezes, estou no meio de pessoas que têm uma história íntegra e imaculada e isso me remete a uma dor. Eu tenho uma mancha que não posso apagar e não adianta eu querer esconder. Desde os meus primeiros discos, eu faço questão de colocar o nome do Gabriel. Agora, ele tem uma vida pessoal com a mãe dele e eu sou uma pessoa pública. Não posso expor meu filho o tempo inteiro e recontar a história para quem acabou de chegou. Não me orgulho do que fiz e não queria que fosse dessa forma, mas não posso alterar. O que eu posso mudar é o meu comportamento de lá para cá.

Já são 13 anos que tenho andado firme no Senhor. Eu me policio nas minhas redes. Você não vai me ver fazendo fotos com a intenção de abrir qualquer oportunidade nesse sentido. Eu não viajo sozinho. Não por imposição da família, mas por uma escolha pessoal. Quero me cercar de todas as maneiras para que não venha a fraquejar de novo. Não quero dar ocasião ao pecado. Então, tento me preservar.

E como é sua relação com o Gabriel?
Ele mora em São José de Rio Preto. Um dia estávamos no carro e ele falou do padrasto dele. Ele o chamou de pai e ficou sem jeito. Expliquei que ele não precisa ter reservas em relação a isso. Primeiro porque o papel que era para eu fazer, quem está fazendo é ele. Então, expliquei que ele deve considerá-lo como pai também. Eu não posso ter um amor egoísta que tenta disputar um espaço no qual não posso marcar presença. São marcas e consequências que ficam.

Pr. Lucas ao lado dos filhos, Samuel e Gabriel Foto: Reprodução

Como você vê essa questão da ideologia de gênero com as crianças, assunto que você vai abordar em sua próxima canção com a Vaneyse?
É um assunto delicado. A música vai destacar o primórdio que existe: menino e menina. Nada realmente contra quem decide ser qualquer outra coisa que fuja do processo natural. O Evangelho é uma verdade inviolável e imutável. Deus nos aceita como somos, mas nos transforma no que Ele é. Quando a gente faz uma música falando sobre menino e menina, a gente não quer atacar quem pensa diferente, mas quer proteger os iguais. Fico preocupado quando uma música ou um filme são feitos valorizando o homossexualismo. Eu não tomo aquilo como um ataque contra mim, mas penso que ele está fortalecendo aquilo no que acredita. Assim, eu não tenho a intenção de atacar ou montar uma oposição contra esse público. Na verdade, estou protegendo meus iguais, as crianças da igreja para quem eu prego. Eu não sou homossexual, eu não discrimino, mas também não é esta a minha bandeira. Eu vou cantar e pregar a minha bandeira, como eles fazem com a deles. É isso que tem que ficar muito claro.

Existe uma ideia no universo jurídico denominada patamar civilizatório mínimo. Por que existe a necessidade de se colocar uma faixa para idosos no estacionamento do shopping? Porque, se todo mundo pensasse: “Eu sou novo. Vou estacionar aqui no fundo porque pode ser que chegue um idoso ou uma gestante”, isso não seria necessário. Como a gente não tem, naturalmente, essa capacidade de patamar civilizatório mínimo, a gente tem que estabelecer a ordem através de mecanismos. Eu tenho toda a liberdade, pela lei, de andar com meu animal em via pública, mas pode ser que eu não esteja prevendo que ele pode fazer suas necessidades em um estabelecimento privado. Por isso o dono do lugar coloca uma placa dizendo que é proibido entrar com animal. Ele não está me atacando, mas está protegendo o seu ambiente e, se eu quiser entrar, tenho que me submeter àquele patamar mínimo civilizatório estabelecido. Jesus obriga as pessoas a serem diferentes? Não, mas, uma vez que elas concordarem em andar com Jesus, elas precisarão andar nos padrões Dele.

Pr. Lucas e Vaneyse vão lançar música juntos Foto: Reprodução

Leia também1 "Deus foi agindo e construindo um propósito", diz Pr. Lucas
2 Vaneyse e Pr. Lucas se unem contra a ideologia de gênero
3 Pr. Lucas lança nova versão de Pintor do Mundo para crianças

Siga-nos nas nossas redes!
WhatsApp
Entre e receba as notícias do dia
Entrar no Canal
Telegram Entre e receba as notícias do dia Entrar no Grupo
O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.