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Marisa Lobo fala sobre os limites na educação dos filhos

Psicóloga esclarece sobre o tema em livro que será lançado pela MK Books

Virgínia Martin - 23/05/2019 17h32

Marisa Lobo apresenta seu novo livro – Limites Foto: Divulgação/MK Books

Atuando há mais de 20 anos no mercado como psicóloga, Marisa Lobo assinou contrato com a MK Books por onde irá lançar a versão digital de seu novo livro. Com o título Limites, a publicação é voltada para a família e busca traçar um caminho saudável para os pais criarem filhos equilibrados emocionalmente.

Em entrevista exclusiva ao Pleno.News, a psicóloga falou sobre o novo projeto e também tratou sobre outros temas dentro da esfera da psiquê humana. Assuntos como sexualidade, ego e desequilíbrios foram algumas das pautas, além de debater questões polêmicas como a Lei da Palmada.

Quais sintomas observados na sociedade motivaram a produção deste novo livro?
Tem sido amplamente notório que hoje existe uma educação mais permissiva, existe um pensamento de que não se pode impor limites aos filhos e que é melhor deixá-los mais livres. A autoridade dos pais está sendo banalizada e quem manda em casa são os filhos. O crescimento de transtorno psicológico em crianças e adolescentes é a prova de que esta educação está errada. A criança é um ser que nasce precisando do adulto para impor limites e dar direção. Se o adulto não der uma direção, a criança não tem noção de julgamento e não desenvolve senso crítico. E tende a ser um indivíduo que luta pelo princípio do seu próprio prazer em detrimento do outro. É óbvio que a gente tem que flexibilizar esses limites, mas deixar “correr solto” só prejudicou a educação.

E a partir de quando a criança começou a perder esses limites?
A criança tem que entender que temos regras e leis e o meu direito vai até onde começa o do outro. Isso não está mais sendo ensinado para as crianças e essa educação virou contra a própria criança e contra a própria família. Eu creio que o advento da internet afetou bastante o comportamento desta geração. Mas não é só isso. Nos últimos 50 anos, com essa desconstrução de identidade e de valores que aconteceu no mundo todo, isso vem afetando consideravelmente o meio familiar. Nos últimos 30 anos, acompanhamos o crescimento de depressão, de transtornos psicológicos e de suicídio. A educação também tem a ver com isso. Os pais precisam trabalhar fora, mas o tempo em que podem ficar com seus filhos não está tendo qualidade. Os filhos são jogados para a tecnologia, que é quem está educando. Isso tudo cria conflitos psicológicos.

E como refazer uma criança tão distorcida?
A criança não pode ser gratificada o tempo todo como está sendo. Esse tipo de criança não aprende a confrontar frustração e não consegue estabelecer um equilíbrio. Então, ela não é uma criança resiliente, não se torna uma criança independente e não respeita o outro. Os pais têm medo de impor limites e de dizer não para os filhos porque passam muito tempo fora no trabalho e se sentem culpados.

A solução são os pais assumirem o controle da educação de seus filhos. Se os pais não se conscientizarem disso, os filhos vão continuar sendo o que são e provavelmente vão ter problemas psicológicos no futuro e irão sofrer na sociedade.

Você tem que estabelecer o equilíbrio entre frustração e gratificação para que a criança se torne um adulto com um repertório cognitivo que possa enfrentar a vida. Tem muita criança que já mostra esse comportamento de “não me importo com os outros” porque os pais não ensinaram o equilíbrio.

“A criança tem que entender que temos regras e leis” Foto: Divulgação/MK Books

O que você acha sobre a Lei da Palmada?
É agressão bater em criança, mas não serão umas palmadas que vão traumatizar seus filhos. As palmadas representam o último recurso. Mas, se você, pai ou mãe, está educando e seu filho está impossível de corrigir e você diz para ele: “Eu vou te dar umas palmadas se isso acontecer de novo” e ele erra para te confrontar, você vai ter que dar essas palmadas. Se você não der, você perdeu o respeito. O certo é não ameaçar com palmadas. O diálogo sobre limites é o melhor remédio. Se eu não posso bater na criança, porque reconheço que bater é uma violência, eu posso restringir acesso a muitas coisas como forma de punição. A criança vive em busca do prazer e cabe ao adulto dizer para ela como conquistá-lo sem precisar ofender ou machucar as pessoas e a si própria. Todo mundo tem que desenvolver um ego que entenda o princípio do prazer e entenda o princípio da realidade.

Das 322 milhões de pessoas que tem depressão no mundo, 8% são crianças de 5 a 9 anos

Como é o desenvolvimento de um ego saudável?
Por meio de um equilíbrio na educação a criança vai desenvolvendo um ego saudável. Ela tem que ter aquele super ego, que é aquele “não”. O problema é a forma como você diz esse “não”. Você pode muito bem explicar esse “não” olhando no olho, de forma afetiva. Ela tem que entender a razão pela qual está sendo punida ou porque estão restringindo algumas coisas. Ela tem que ser educada por meio da mente e do coração.

Com essas configurações emocionais, em que tipo de pais essas crianças vão se transformar?
Totalmente liberais e permissivos ou o efeito contrário, totalmente restritivos. Uma parte tende a liberar tudo porque se revoltou. As pessoas que sofrem mais na vida não são as que tiveram restrição, mas as que nunca tiveram limites e que não sabem até onde podem ir. Isso causa ansiedade, estresse e depressão. Excesso de gratificação e de punição são ruins e geram transtornos e conflitos psicológicos. O equilíbrio é o ideal.

Quais são os maiores desequilíbrios psicológicos?
Hoje tem muita criança que fala em suicídio. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), das 322 milhões de pessoas que tem depressão no mundo, 8% são crianças de 5 a 9 anos. Dentro deste meu novo livro – Limites – fui obrigada a abordar sobre depressão infantil com dados e os índices de suicídio na adolescência. É inimaginável que há alguns anos uma criança de 5 anos pudesse dizer que queria morrer ou tentar suicídio. Falta esperança, falta afeto. Impor limites para uma criança é mostrar afeto.

O que vai acontecer com essa criança quando crescer? Vai desafiar autoridade, vai ter comportamentos agressivos, até que ela encontre no mundo alguém que a enfrente. E é aí que podem acontecer casos de violência física e até morte. A criança que não tem limites é fadada a usar drogas, bater, agredir pessoas. Necessário é que essa criança entenda que os valores são importantes.

“A criança precisa entender que os valores são importantes” Foto: Divulgação/MK Books

E a questão da sexualidade?
Sexualidade exacerbada e sem controle é resultado de uma criança exposta a fatores erotizantes. Normalmente, a criança que tem sexualidade exacerbada está sendo exposta ou pode estar sendo abusada. Ela não tem senso de julgamento. Ela sente prazer em ver aquilo, mas não um prazer erótico como o do adulto. Como ela vai entender se ninguém diz? Os pais não falam sobre sexualidade com a criança porque vivem com muito tabu e assim ninguém discute. Então, ela vai aprender na rua ou na escola.

Uma criança de 12 anos, por exemplo, que manda nudes, está sendo exposta e pode sofrer bullying, caso as imagens caiam na grande rede e ela não tenha suporte psicológico para aguentar o prejuízo. O Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial de consumo de fotos pornográficas na internet. Isso é uma vergonha para o nosso país. A cada 18 segundos, uma criança é abusada e morta. Essa criança tem que ser tratada como criança e os pais têm que monitorar, tirar o celular e conversar bastante porque, se ela chegou a mandar uma foto aos 12 anos, é porque ela está exposta com pessoas e situações que já são “normais” na vida dela.

Do que mais o seu novo livro trata?
Limites ensina como educar os filhos, mas de uma forma equilibrada pela via do amor e do conhecimento. Mas, principalmente, com a educação com limites. Ensino também sobre a incoerência do comportamento dos pais e como eles tentam ensinar aos filhos. Na educação, ninguém nunca vai aprender pelo que você fala, vai aprender pelo que você faz. Um pai ensina o tempo todo com suas atitudes. O livro traz dicas claras e objetivas de cada ato que os pais podem fazer para melhorar a auto-estima e a educação e que não devem ser abusivos e tóxicos.

O Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial de consumo de fotos pornográficas na internet

E quando o pai quer que o filho vá para a igreja, mas a criança não quer?
A criança é responsabilidade dos pais e os pais têm que conduzi-la. Mas como levar essa criança para a igreja, por exemplo? Tem que criar amor na criança pela igreja. Não chegar na igreja e parecer que é punição, senão a criança vai entendendo que aquilo é ruim. O dia da igreja tem que ser um momento de alegria. A criança deve entender que faz parte da tradição familiar. Se mais tarde ela quiser se desviar, será uma escolha dela. Mas enquanto os filhos estão com os pais, estes têm que fazer com que essa tradição de ir para a igreja seja prazerosa. Psicologicamente falando, a criança ao crescer pode até se desviar da igreja, mas quando ela montar sua família, o que foi enraizado na tradição da família de origem também afetará a nova família formada. Essa memória fica.

Marisa também falou sobre seu novo livro Superação Foto: Divulgação/MK Books

E sobre seu próximo livro – Superação?
Superação, depressão, ansiedade e suicídio andam muito juntos. Neste livro falo de vários tratamentos oficiais e também dos alternativos e várias dicas de como você pode se livrar da ansiedade e da depressão e como entender o suicídio. É um livro que motiva a pessoa a viver, a enfrentar os seus medos, suas angústias e sua depressão. Com todos seus transtornos psicológicos, você precisa entender que a vida é importante e que você pode superar e administrar isso. É importante manter o ser humano vivo e com esperança de que, na eternidade, ele vai se beneficiar de tudo o que conquistou durante a vida.

Deus fala em Tiago 5.16 – “Confesseis as vossas culpas uns aos outros para serem curados”. Ele deu a dica. No livro, ensino cientificamente o que acontece com o cérebro daquela pessoa e com seus neurotransmissores. Mas também ensino quais os tipos de hábitos que você deve ter para liberar certos hormônios que vão resultar em determinados comportamentos. Ensino também sobre ajuda médica, psicológica e psiquiátrica. Enfoco em como a Palavra de Deus pode ajudar cientificamente a superar a depressão. E como é libertador conhecer as doenças e saber que elas existem. Minha preocupação foi falar de uma forma que o leitor entenda que tudo é evitável.

O workaholic é um detentor da síndrome de Burnout?
A pessoa que tem síndrome de Burnout se acha a mais incompetente do mundo. Ela se cobra demais e não consegue deixar nada nas mãos de ninguém. Ela tem um desespero de sempre agir. Não cuida do corpo nem da mente e só foca no trabalho. Muitos pastores têm esta síndrome e não sabem.

No livro, uso o exemplo da depressão de Elias como síndrome de Burnout. Ele tinha uma depressão, mas não tinha uma razão. Ele olhava para tudo o que tinha feito e não via os frutos. O Burnout não tem um argumento que explique a existência da síndrome. O cansaço e o estresse vão gerando ansiedade e tudo mais. Mas ele não tem uma razão específica.

Eu tive síndrome de Burnout, mas como sou psicóloga e muito crítica, percebi meus defeitos. Aí respirei e parei tudo o que estava fazendo e assim fui conseguindo melhorar. Procurei atividades que me causassem bem-estar. Alguns comportamentos como caminhada, alimentação, dar mais risadas, abraçar mais as pessoas, conversar mais, têm efeito impressionante. Não é uma coisa só psicológica, envolve química no cérebro.

 

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