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Felippe Valadão: o pastor dos Novos Começos

Com seu jeito bem-humorado, o pastor da Igreja Batista da Lagoinha compartilha suas histórias de vida e suas opiniões, fala de sua origem e de suas superações, e evidencia o valor dos recomeços

Virgínia Martin - 31/01/2019 12h40 | atualizado em 31/01/2019 21h14

Ele sempre teve o sobrenome Valadão (coincidência), antes mesmo de se casar com Mariana, uma das filhas do pastor Marcio Valadão, líder do ministério da Igreja Batista da Lagoinha, com sede em Belo Horizonte (MG). Confessa que tem déficit de atenção desde criança, o que fez com que fosse reprovado algumas vezes na escola (muitos gênios passaram por isso).

Também compartilha que sempre foi um menino articulado com as pessoas pelas ruas de São Gonçalo (RJ), cidade onde nasceu. Já era alegre, autêntico, desembaraçado e nenhuma limitação fez com que deixasse de alcançar seus propósitos de vida.

Este é Felippe Valadão, o homem que se formou em Teologia, se tornou músico, compositor, pastor, esposo, pai de Tito, Davi e Bella. O menino transformou-se em visionário, pregador com uma marca diferenciada, líder da Lagoinha Niterói (RJ) há cinco anos. Em entrevista ao Pleno.News, Felippe divide seu bom-humor e fala sobre o que tem aprendido e o que Deus tem feito em sua vida em um espontâneo bate-papo na redação.

Como era este menino acelerado durante a infância?

Tive uma infância muito saudável. Fui criado na igreja, debaixo dos princípios cristãos. Sou de São Gonçalo, uma terra onde é comum você ter liberdade de andar solto, agregado com os amigos. Sempre amei me envolver com as coisas da igreja. Acho que isso me deu uma certa segurança. Nunca fui uma criança presa emocionalmente, pelo contrário. Segundo o que meus pais falam, desde pequenininho eu era muito alegre e tinha sede de viver.

Você deu muito trabalho aos seus pais?

Dei o trabalho que toda criança dá. Meu único problema era o colégio. Sempre tive dificuldade com estudo por causa do déficit de atenção, que não era um transtorno tão conhecido e levado a sério naquele tempo. Hoje sabemos que a pessoa pode não gostar de estudar porque não consegue prestar atenção, não consegue focar. Mas há tratamento e soluções.

Não tenho vergonha de dizer que cheguei a repetir de ano por três vezes e fui expulso de dois colégios (risos). Mas nunca por mau comportamento ou falta de testemunho cristão, por incrível que pareça. Não fui expulso como um garoto odiado. Tanto que a diretora de uma das escolas de onde fui expulso esteve em nossa igreja para rever o ex-aluno pregando. Ela disse que ficou impressionada. Minha esposa fala que eu já tinha mente de gênio (gargalhada).

Comemoração de aniversário dos filhos Davi e Bella, de 4 e 2 anos, respectivamente

Como fez para prosseguir com os estudos?

Falo estas coisas até para encorajar as pessoas para que estudem e superem suas dificuldades. Eu cheguei a fazer o curso Supletivo para concluir o Ensino Médio e depois entrei na faculdade de Publicidade e Propaganda, que era uma coisa com a qual eu me identificava. Sempre fui muito conectado. Por incrível que pareça, eu vivia em uma época onde não tinha tanto uso da Internet, mas eu já me conectava com o computador e com tudo o que envolvia comunicação. E como amava música, tudo foi se interligando. E assim fiz o curso em dois anos e meio, que chamam de politécnico. Na verdade, tudo tinha que ser rápido, senão eu não aguentava ficar muito tempo.

E a decisão para se tornar um pastor?

Desde pequenininho, eu sabia que tinha que ser pregador. Minha avó, por exemplo, manteve uma fita K7 guardada em casa com uma gravação minha aos nove anos de idade. Eu estava pregando e ela me gravou. Não sou filho de pastores, mas sempre achei legal o lance de poder ajudar as pessoas e falar do poder da Palavra de Deus. Eu via isso como algo fenomenal. Então, em 2005 fui para o seminário em Belo Horizonte.

Meu maior desafio hoje é não deixar minha identidade ser contaminada por nada.

Como conheceu sua esposa Mariana?

Conheci por causa de amigos em comum que nos apresentaram e passamos a nos falar pela Internet. Quando perguntavam sobre alguma possibilidade, eu dizia: “Tá louco, essa menina é famosa!”. E olha que meu sobrenome sempre foi Valadão (risos).

Aliás, a coincidência do sobrenome foi um ponto de abertura entre nós, gerou uma conexão. E fomos desenvolvendo uma amizade por uns oito meses. Até que ela veio cantar no Rio. Naquela época, eu era backing vocal da Cassiane.

O relacionamento foi dando certo, mas eu não queria namorar à distância. Falei para os meus pais que iria me mudar para Minas, que queria estar perto dela e ainda fazer o seminário. E fui pedir aos pais dela a permissão para namorar a Mariana. Dois anos depois, em 2007, me casei com ela.

Como foi sua fase como backing vocal?

Cheguei até a gravar algumas coisas com a MK. Com a Cassiane, cheguei a viajar em turnês com o grupo. Gravei muita coisa no estúdio do Jairinho Manhães. Fiz back do Chris Duran, da Nívea Soares, do Juliano Son.

Em 2008, já casado, Mariana gravou o primeiro CD. Em 2009, veio o segundo. E eu fui cuidar da carreira dela. Naquele tempo eu era pastor dos jovens da Lagoinha em BH e me afastei para dar suporte ao trabalho dela. Confesso que sempre tive medo de ser confundido como o marido da cantora. Fui tendo o cuidado em aprender, em não atrapalhar e ela seguiu muito bem.

E como foi perceber que o pregador mirim passaria a ter a responsabilidade como pastor?

Sempre achei que seria um pregador, mas nunca me imaginei como pastor de igreja. Porque são coisas completamente diferentes. Lidar com o dia-a-dia da igreja é um desafio. Se você não tem um chamado para isso, não faça.

Mas desde cedo, nunca gostei de fazer as coisas sozinho. Gosto de gente, de pessoas. Nunca gostei de ser só eu. Sempre gostei do nós, que é bem mais legal do que o eu sozinho. Sempre vi vantagem nisso. Por que tentar sozinho se posso tentar com mais pessoas? Isso pode ser muito mais leve. E faz diferença no pastorado.

E falei para o porteiro: “Você vai pedir o nome da pessoa e da igreja dela. Se ela disser o nome da igreja, você barra”.

Mas como o Felippe Valadão consegue dar conta de uma igreja da dimensão da Lagoinha de Niterói?

Não penso que eu tenha que dar conta de alguma coisa. Deus está na frente. Nunca pedi a Ele para me dar uma igreja grande. Voltei para Niterói para ajudar meus pais que passavam por uma fase difícil. Nunca imaginei que tudo isso fosse acontecer em meu ministério pastoral.

Eu vou dar conta de ser quem eu sou. Qual o nome disso eu não sei. Se o nome disso é ser popular, ser do povo, eu não sei. Eu sou quem eu sou. Meu maior desafio hoje é não deixar minha identidade ser contaminada por nada. Então, eu protejo minha identidade. Casei com uma pessoa que me ajuda a proteger isso, sou rodeado de pessoas que me ajudam. Dos 70 funcionários de nossa igreja, talvez 50 me viram criança. Eu me rodeei de pessoas que me viram crescer, que não me chamam de apóstolo ou de pastor, me chamam “Felippinho, vem cá”. Sou rodeado por gente que lembra quem sou e de onde eu vim e por que eu voltei.

Aliás, sou de São Gonçalo, né! Sou da rua, sou do povo. Vim de lá. Eu não me aceitaria ser diferente disso. Não aceitaria me olhar no espelho e falar: “Que coisa esquisita você virou”.

E por qual razão deixou Belo Horizonte para trás e voltou para o RJ?

Em 2011, meus pais estavam em crise, na beira de uma separação. Meu pai tinha uma amante e tudo ia evidenciado uma estratégia diabólica na minha família de origem. Por outro lado, eu estava vivendo a melhor fase do meu ministério com Mariana. Estava pregando, ganhando famílias para Cristo, falando do poder de Deus.

Só que, ao mesmo tempo, tudo aquilo era quase uma afronta contra a minha vida, contra o projeto de Deus para mim. Como eu podia ajudar a salvar famílias, se a família de meus pais estava sendo destruída? Foi quando me senti com a responsabilidade de voltar e salvar meus pais daquilo. Não somente o casamento deles, mas a vida deles.

Meus pais estavam desviados. Meu pai começou a fumar e a beber. E um abismo foi puxando outro abismo. E eu falei: “Cara, não faz sentido viajar o mundo inteiro, ganhar todo mundo e perder as pessoas que eu mais amo”.

E assim, eu e Mariana concordamos em voltar para Niterói. A gente “sentiu um frio na barriga” porque nossa vida era o ministério, era a estrada, eram os shows. Tudo estava bem e a gente vivia de tudo aquilo. Como seria em Niterói? Largar tudo e viver de que? Foi quando Deus chegou e sinalizou: “Vai que eu vou te dar a tua família de volta”.

Voltei por isso. Não sabia que ia ter essa ou aquela igreja. Deus foi me dando as estratégias, Deus foi falando…

Não aceitaria me olhar no espelho e falar: “Que coisa esquisita você virou”.

E quais foram as primeiras estratégias?

A primeira foi alugar uma casa com uma sala grande em Niterói. Liguei para todos os meus amigos que não estavam na igreja ou que estavam no mundo, no pecado, na maior lama possível, e convidei para um churrasco na minha casa. Ninguém sabia que seria um culto.

Meus amigos crentes souberam da reunião e quiseram ir. Mas barrei todo mundo na porta do condomínio. E falei para o porteiro: “Você vai pedir o nome da pessoa e da igreja dela. Se ela disser o nome da igreja, você barra”. Foi a estratégia que usei. Vários amigos e pastores ficaram magoados e com o tempo foram entendendo o propósito.

Naquela noite de 31 de maio de 2013, entraram 95 pessoas na minha casa. E foi com este grupo que comecei uma igreja. Naquela ocasião, todos choraram, se voltaram para Jesus… Quando vi todo mundo levantando a mão, chorando, lembrando de Deus e o churrasco rolando, eu falei: “O que vocês acham da gente fazer isso aqui semana que vem de novo?” E eles toparam. Foi aí que abri para outros e pedi que cada um convidasse outras pessoas. E passamos para 120 pessoas, depois 220. E só crescia. Até a administração do condomínio mandar parar porque ia gente demais na minha casa toda sexta-feira.

Mas não era uma igreja. Apenas uma reunião entre amigos que estavam com saudades de Deus, com saudades um do outro, comendo churrasquinho, sempre com Bíblia e louvor.

E quando se tornou igreja?

E aí, uma loucura aconteceu. Um pastor de Niterói, muito meu amigo, que me viu crescer, amava esse meu jeito de molecão e sabia da minha alegria de servir a Deus, me ligou. Ele disse: “Cara, quando você tinha 15 anos você falou na minha frente que um dia ia ser pastor na minha igreja. Eu nunca esqueci disso e quando vi sua casa lotada percebi que chegou sua hora”. Esse pastor pegou a chave da igreja dele e me deu. Era ali na rua Miguel de Frias, no bairro de Icaraí, em uma igreja que se chamava Operação Resgate.

Hoje este pastor amigo mora no Estados Unidos. E ele completou: “Felippe, é tua hora”. E me passou a igreja dele. Durante oito meses quem pagou o aluguel da igreja foi ele. E ali começamos. Esse foi o início de tudo. Depois nos transferimos para o bairro Charitas, com Deus sempre nos surpreendendo.

Sempre enfatizo que um de nossos desafios é não deixar ninguém ficar acostumado com aquilo ali e ainda achar que foi coisa feita por nós. Foi tudo efeito da mão de Deus em nossa vida.

Nunca gostei de ser só eu. Sempre gostei do nós, que é bem mais legal do que o eu sozinho.

E qual a razão da igreja ter a marca “Um lugar de novos começos”?

Não foi um slogan escolhido publicitariamente. Quando compartilhei o que a família de meus pais estava vivendo e que eu precisava de uma nova história, um grande pastor amigo soltou essa frase: “O que vocês estão precisando é de um novo começo”.

Aquilo me deu um estalo: “É isso! Eu e minha casa precisamos de um novo começo”. E toda aquela história serviu de aprendizado e de motivação para a igreja. O que todo mundo precisa ali é recomeçar.

Percebi que minha casa deveria ser um lugar para novos começos, minha família era um ambiente para novos começos, eu sou um pastor para novos começos. Mas é preciso um ambiente favorável para que os novos começos aconteçam. E nossa igreja é projetada, desenhada para acreditar e apoiar recomeços.

E o Felippe Valadão nunca fica zangado?

Fico! O que me deixa irritado é coisa feita com desleixo. Quando vejo pessoas que vivem de qualquer forma, que servem a Deus de qualquer forma, que fazem as coisas na igreja de qualquer forma… Isso me deixa chateado.

No Pleno.News, pastor Felippe passa um tempo relatando sua trajetória e opiniões Foto: Pleno.News

Suas pregações chamam atenção pela forma escancarada como fala sobre tudo. Comente sobre essa sua característica.

Em nossa família, somos três homens pregadores: pastores Márcio, Gustavo e o André Valadão. Os três são excelentes oradores. O maior desafio para o garoto de São Gonçalo, que repetiu de ano tantas vezes, era tentar não frustrar as pessoas e a família. Eu falava: “Deus, o que vai ser de mim quando eu pregar perto desses caras?”

Minha maior dificuldade era estar diante do meu sogro e saber como ele aceitaria esse meu jeito de ser e de falar. Eu sempre fui engraçado, espontâneo, leve, mesmo sem perder a responsabilidade da mensagem. Eu queria respeitar o pastor Marcio Valadão, seja como sogro, seja como pastor. Afinal, ele acreditou no menino que não tinha descendência alguma para casar com a filha dele.

Até que um dia o procurei. Disse que queria aprender e pedi ajuda: “A forma como falo incomoda o senhor em alguma coisa?”, “O senhor tem algum conselho para me dar?” Daí ele me olhou e disse: “Filho, a nossa família precisava de alguém exatamente como você. O seu jeito único era o que faltava na gente”.

A partir de então, eu ganhei confiança. A opinião dele era fundamental para mim. “Filho, seja você, não imite ninguém. Você nasceu para alcançar um público que vai precisar disso que você carrega”. Eu precisava ouvi-lo como pastor, como pai espiritual, como meu líder. E suas palavras me trouxeram segurança.

Sei que estou amadurecendo. Algumas vezes, falo na igreja para terem paciência comigo porque ainda estou aprendendo. Como também sei que fui chamado para pessoas que cansaram de um modelo frio e formatado.

Eu não fui chamado para converter pessoas. Fui chamado para amá-las. Quem converte é o Espírito Santo. Tem dado certo porque entendi a forma como Deus me usa e mantenho minha identidade preservada.

Já passei por situações em que empresários, que até ajudam a igreja financeiramente, tentaram me mudar. Eles têm o direito de não gostar do meu jeito de ser, mas não podem alterar quem sou só porque contribuem. E eu sigo na fé, recomeçando e ajudando a recomeçar.

É preciso um ambiente favorável para que os novos começos aconteçam.

Qual é sua postura diante da política?

Eu me posiciono como o Felipe cidadão, que declara sua opinião. Em todo ano de eleição digo abertamente em quem acredito. Em 2018, apoiei Bolsonaro declaradamente. E tenho apoiado.

Acredito no poder da política. Acho que ela não vai mudar o Brasil, mas tem um papel importantíssimo. O que vai mudar o Brasil é o brasileiro, a mente do brasileiro.

 

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