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Augusto Cury fala ao Pleno.News

Escritor mais lido desta década destaca seus livros que vão se tornar filme e fala sobre como lidar com as perdas

Virgínia Martin - 25/02/2019 17h19 | atualizado em 25/02/2019 17h27

“Quem tem sido o centro das famílias é o aparelho celular”, diz Cury

O nome Augusto Cury tornou-se uma marca. E uma boa marca. Médico psiquiatra, psicoterapeuta, pesquisador e escritor, dr. Augusto Cury é conhecido em todo o mundo, já que seus livros são publicados em 70 países. Apenas no Brasil, Augusto Cury vendeu 25 milhões de cópias.

Ao longo de seus 30 anos de carreira, o escritor mais vendido nesta última década – segundo Folha de São Paulo, revistas Veja e IstoÉ – é também o autor da teoria Inteligência Multifocal. Recebeu muitos prêmios, teve livros transformados em filmes e séries e criou programas, como o de prevenção ao suicídio.

Ele recebeu o Pleno.News para uma entrevista exclusiva, quando revelou um pouco mais sobre suas percepções a respeito de temas atuais e sobre projetos e crises emocionais da atualidade.

Sobre o recente episódio em Brumadinho, como acha que os atingidos pela tragédia podem lidar com as perdas?

Em primeiro lugar, eu quero dizer que cada ser humano não é mais um número na multidão. Ainda que não esteja debaixo dos holofotes da mídia, ainda que não tenha grandes recursos financeiros, cada ser humano é uma estrela viva no teatro da existência. Portanto, abraçar mais, dar nosso ombro para que eles chorem e para apoiar é muito importante.

O senhor também passou por uma grande perda em sua vida. Então, fale como administrou emocionalmente a sua tragédia particular?

Sou um ser humano que também perdeu pessoas em situação lastimável. E, praticamente, também não consegui enterrar quem amo.

Que situação foi essa?

Perdi uma cunhada e dois sobrinhos que tinham quatro e seis anos de idade, e eram como meus filhos. Eu os beijava todos os dias. Certa vez, sua mãe foi em uma cidade vizinha, mas no retorno, ela perdeu o controle do carro, que pegou fogo. Nem pudemos ver as crianças. Nem eu, nem o pai, nem toda minha família.

Então, quero que, se possível, todas as pessoas que perderam seus entes queridos me ouçam: as lágrimas que não conseguimos chorar são as mais inenarráveis e as mais doloridas. Há pessoas, como as de Brumadinho, que podem ter perdido pais, esposas, maridos, irmãos, que não conseguiram ver. Mas, por favor, eles até podem estar enterrados na lama, naquele rejeito, mas não podem estar enterrados no solo da sua emoção.

Eu vivi e ensinei isso a todos os meus familiares. Ensinei isso ao longo de mais de vinte mil sessões de atendimento psiquiátrico que fiz. A melhor maneira de homenagear a quem nós perdemos é sendo mais felizes. É gritar no solo da nossa mente, que nós seremos mais felizes. E dizer: “Meu pai, minha mãe, meu irmão, eu vou ser mais feliz e vou dar o melhor de mim para que a sociedade seja feliz e eu honre a você que partiu”. Quando tomamos essa postura, ao invés de desenvolver um quadro depressivo, autopunitivo, achando que a vida é injusta, nós passamos a aplaudir as pessoas que perdemos.

Então, por favor, não vamos desistir da vida e nem vamos nos dobrar à dor. Vamos fazer de cada lágrima um momento para sermos mais fortes. Assim, certamente, vocês de Brumadinho vão, mesmo diante dessa perda, usar a história de quem vocês perderam para serem mais saudáveis emocionalmente, mais livres mentalmente e terão uma história onde as pessoas que estarão diante de vocês serão beneficiadas, porque vocês serão mais resilientes, mais fortes, mais amáveis.

Com toda sua experiência e conhecimento, o que mais abala e inquieta o Augusto Cury?

Sou abalável, simples e mortal. Tenho traçado o tempo em busca do mais importante endereço, que é o endereço de mim mesmo. Todo os dias, reflito sobre o fim da existência, literalmente. Percebo que a vida é assombrosamente breve para ser vivida e dramaticamente longa para se errar.

Nós erramos frequentemente e não relaxamos quando erramos. Não relaxamos diante dos nossos filhos quando eles falham. Cobramos demais, criticamos demais. E uma pessoa que cobra e critica demais, está apta para consertar aparelhos, mas não para formar mentes brilhantes e emocionalmente saudáveis.

Por isso, por favor, viva um romance com a sua própria vida. Abrace mais! Dê tantas chances quanto forem necessárias para quem você ama. É por isso que o Mestre dos mestres, o homem mais inteligente da história, Jesus, achava que cada ser humano era uma estrela viva e, por isso, transformava prostitutas em rainhas e leprosos em príncipes.

Que percepções tem sobre o caos emocional em que vive o mundo?

A humanidade se converteu em um manicômio global. Nunca adoecemos tanto no território da emoção. Uma em cada dez pessoas tem ou está desenvolvendo um transtorno psiquiátrico. São mais de três bilhões de seres humanos e talvez nem 1% se trate.

Há várias causas para isso. Uma dessas causas já foi a televisão. No século passado, ela se tornou o centro das famílias. Pais e filhos ouviam os personagens da TV, mas não conseguiam ouvir uns aos outros.

Hoje, quem tem sido o centro das famílias é o aparelho celular. A intoxicação digital mexe com a dopamina, mescla sentimentos de frustração e de prazer e gera uma dependência nos níveis de uma droga como a cocaína. Isso está asfixiando a alegria, o encanto e a suavidade. Há uma dificuldade atroz de pais e filhos se colocarem como seres humanos em construção, onde pais sejam capazes de falar de suas lágrimas para que seus filhos possam chorar as deles.

Além disso, o sono está sendo fragmentado. Grande parte das pessoas tem dormido mal, não tem tido um sono reparador e está desenvolvendo doenças psicossomáticas, inclusive o risco para o suicídio. Foi por isso que desenvolvi o programa “Você é insubstituível”, que é uma vacina emocional contra o suicídio e o transtorno psíquico. É 100% gratuito e, tanto a Polícia Federal, como a Associação de Juízes no Brasil, são meus embaixadores. Basta acessar www.voceeinsubstituivel.com.br.

Qual foi o livro mais difícil de escrever? E quais têm projetos para virar filme?

O Futuro da Humanidade foi um livro que mexeu com as raízes da minha mente. Ele vai ser filmado pela Warner e pela Fox, talvez agora no meio do ano de 2019. O Vendedor de Sonhos já se tornou filme.

Um livro muito importante que eu gostaria que todos os leitores tivessem acesso o mais rápido possível é Prisioneiros da Mente. É um livro que fala que, na mente humana, podemos construir mais cárceres do que na cidade mais violenta do mundo.

 

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