Leia também:
X De cientista e engenheiro a parlamentar e empreendedor

Aborto: o pastor da CBB diante do Supremo Tribunal Federal

Especialista em Bioética, que participou de audiência no STF, explica seus argumentos dados à ministra Rosa Weber

Virgínia Martin - 20/08/2018 12h47 | atualizado em 20/08/2018 15h12

“Justamente os defensores dos “direitos humanos” desconsiderem o lado humano com o direito do embrião”, argumenta Lourenço Foto: Reprodução Facebook

Lourenço Stelio Rega é professor e especialista em Bioética. Recentemente, participou da segunda audiência pública realizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, no dia 6 de agosto. O especialista representou a Convenção Batista Brasileira (CBB) e expôs sua argumentação contrária à descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, tema da consulta pública.

A audiência contou com preletores de variados segmentos, dentre especialistas e ativistas sociais, sejam favoráveis e contrários. Como teólogo e diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Lourenço foi contundente em suas colocações, reafirmando a origem da vida na concepção com o início da identidade genética da pessoa.

Nesta segunda-feira (20), Lourenço segue novamente para Brasília para mais uma jornada sobre o abortamento. Desta vez, como preletor da aula Magna na Faculdade Teológica Batista de Brasília.

Veja os principais pontos discutidos pelo especialista:

Qual a percepção que teve sobre os representantes a favor do aborto nesta segunda audiência?

Um dos dilemas fundamentais é a desconsideração sobre o fato científico médico por meio da embriologia e da genética sobre a existência de vida a partir da concepção, com o marcador da origem do código genético que vai identificar a pessoa em toda a sua história.

É meio contraditório que justamente os defensores dos “direitos humanos” desconsiderem o lado humano com direito do embrião. Mas entendo que esses defensores partem de um outro pressuposto que tem surgido nos últimos 20 anos, mais ou menos, em que o conhecimento, portanto a interpretação da realidade, é socialmente construído. Este é o transfundo deste pensamento e ninguém está discutindo isso. Então, para eles, a ciência, seja a medicina, seja a genética, é apenas um modo de conhecer a verdade.

Como estamos num processo de hipermodernidade, e vale o triunfo do indivíduo. Isto é, o indivíduo é a fonte da verdade, então, o mais importante é o que as pessoas estão sentindo, sofrendo, pensando e decidindo conforme suas próprias percepções, sentimentos e paixões. A ciência deixa de ser a dona absoluta da verdade. Há aqui, para mim, alguns equívocos.

Em primeiro lugar, a vontade humana e a construção social já nos deram exemplos terríveis de desprezo à vida (holocausto, ditaduras, escravidão e a própria situação degradante da mulher em muitas culturas.

Mas, além de tudo, temos de fazer diferença entre opinião (o que se pensa e se sente etc) e fatos (o que é possível comprovar). Isso afeta até mesmo o modo como a imprensa trabalha. O que me assusta é que ficamos disputando com este grupo e não discutimos o que está por trás dos argumentos.

 

– Como se deu a sua participação como expositor nesta oportunidade? De que forma pleiteou esta função?

Na realidade, soube do movimento no STF, pois sempre estou antenado com os temas de ética e bioética e comentei com os pastores Silvado (presidente da CBB) e Sócrates (secretário-executivo da CBB) e me coloquei à disposição. Dentro do prazo estabelecido pela Ministra Rosa Weber, os dois enviaram carta em nome da CBB, manifestando o desejo de participar e indicaram meu nome, como professor da área. Dentro dos quase 200 pedidos de participação, recebemos aval.

– Quais foram seus argumentos durante sua exposição?

Como há forte apelo contra a religião, contra a Bíblia, contra Deus etc, trabalhei focalizando fatos sobre a origem da vida na concepção, me valendo de dados da embriologia e genética. Depois trabalhei com argumentos a partir de fundamentos do biodireito. Deu um trabalho escrito de 30 páginas, enviado à ministra no final de junho. A audiência foi apenas uma formalidade em que tive de resumir tudo isso em 20 minutos.

– Acredita que o projeto encabeçado pelo PSOL tenha chance de ser aprovado? É difícil dizer. A própria ministra informou que é possível uma entre três decisões serem tomadas: (1) a ação não é descumprimento de preceito fundamental; (2) é descumprimento e aí terão de decidir pelas 12 semanas; (3) não é assunto do STF.

 

– Mesmo que a maioria da população do Brasil seja cristã, o movimento Católicas pelo Direito de Decidir atua na contra-mão dos preceitos cristãos e bíblicos a favor da vida. Acha que tal manifestação já abre precedente para fortalecimento de futuras reações cristãs a favor do aborto?

Na realidade, já conheço o movimento há muito tempo. A líder deu algumas aulas para mim no meu doutorado na PUC. Este movimento não tem nada a ver com a Igreja Católica. A Zeca (a líder que falou no STF) é socióloga por Harvard e segue aqueles fundamentos sobre os quais falei na primeira resposta.

Em geral, o pessoal pró-aborto faz um bom barulho, mas precisa enfrentar o tratamento daquele fundamento que mencionei. É um fundamento frágil.

– Como avalia a exposição das 17 instituições representativas que se opuseram à legalização? As argumentações foram suficientemente convincentes?

A quantidade de pró ou contra não pesa, pois a própria ministra informou que o que levará em conta na decisão é a racionalidade jurídica. Então, o maior peso não é a quantidade, mas a profundidade e a segurança nos argumentos. Por isso, optei por abordar a área científica e não religiosa.

Aliás, fui criticado por algumas poucas pessoas por isso. Só que estes não estavam lá na linha de frente para reconhecer a estratégia que utilizei. É fácil criticar e dar opinião sentado diante de um teclado e de uma tela. É o que chamo de “síndrome do comentarista esportivo”. Ao mesmo tempo, o volume de gratidão e de reconhecimento que recebi foi tal que fiquei muito agradecido a Deus e à Convenção Batista Brasileira por participar. Faria novamente e do mesmo jeito.

– O que podemos prever para as próximas audiências?

Não sei. Será preciso que aconteçam mais audiências. Creio que a ministra já teve o material que esperava ter.

Leia também1 Pastora Sarah Sheeva fala contra aborto e pena de morte
2 Bolsonaro sobre o aborto: "Eu veto com a caneta do povo"
3 Igreja Luterana diz que aborto não é uma opção moral viável

Siga-nos nas nossas redes!
Telegram Entre e receba as notícias do dia Entrar no Grupo
O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.