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Coluna Yvelise de Oliveira: Árvores urbanas – não as deixem morrer

Cortaram uma árvore imensa com um tronco grosso que “sangrou” sua seiva por dias, como um protesto por morrer assim, sem motivo; só por ser cheia de vida, grande e bela

Yvelise de Oliveira - 16/01/2018 08h00

Moro em Ipanema e tenho visto, por conta do nada, as árvores sendo cortadas. Árvores centenárias, lindas, frondosas.

Costumo andar a pé e, ao encontrá-las, converso mentalmente com elas e com os passarinhos que não são mais tantos. Onde irão morar se cortam suas casas?

Quando era menina, via pardais por todo lado. Bandos deles ciscando as folhas. Nunca mais vi um pardal aqui em Ipanema.

Assassinam árvores todos os dias e se esquecem que elas levam de 25 a 30 anos para atingirem o ponto de plenitude, para que seus troncos se tornem assim: soberbos, lindos; e elas, tão magníficas. Fica lá o vazio da sombra acolhedora que a rua tinha; como se, realmente, ainda se pudesse sentir sua falta já que o buraco no chão mostra tão bem o local do crime ecológico.

Quando as raízes são muito profundas, o piso é cimentado, mas fica lá o calombo — a prova do crime e da impunidade, e da falta de respeito com nossas árvores, que viram muitos de nós nascerem, crescerem e deram sombra para gerações brincarem nas ruas.

Tenho vontade de chorar ao ver assim um tronco despido de sua elegância de árvore, abrigo de tantos seres vivos: pássaros e, até mesmo, alguns miquinhos, que vêm pulando pelo caminho aéreo que elas fazem. Quase não se escuta mais as cigarras no verão, cantando seu canto irritante e intrigante ao anoitecer.

Recentemente, na rua Almirante Pereira Guimarães, no Leblon, bairro bem elegante do Rio, cortaram uma árvore imensa com um tronco grosso que “sangrou” sua seiva por dias, como um protesto por morrer assim, sem motivo; só por ser cheia de vida, grande e bela.

Meus olhos atentos vão percebendo os troncos sem vida das ruas do bairro onde vivo.

O metrô é o vilão de tudo. “É o progresso”, me dizem, “é o progresso”. Mas não é possível que tantas árvores estejam no caminho do metrô ou do BRT. São cortadas porque não há uma lei que as proteja de verdade.

Me pergunto o que vão dizer, se fizermos um escarcéu pelas centenas de árvores que são cortadas todos os dias pela cidade.

“Era só uma árvore”, é isso que vou ouvir e é isso que me dói.

Árvores não falam, temos que falar por elas: “Não deixem cortar nossas árvores! Árvores urbanas, vamos salvá-las”. Elas são nossa responsabilidade, são parte da nossa vida — flor, perfume e abrigo.

 

Yvelise de Oliveira é Presidente do Grupo MK de Comunicação; ela costuma escrever crônicas sobre as suas experiências e percepções a cerca da vida. Há alguns anos lançou o livro Janelas da Memória, um compilado de seu material. Atualmente está em processo de finalização de uma nova obra, Suspiros da Alma.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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