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As Velhinhas

Com amor e uma grande dose de carinho meu olhar segue as “velhas senhoras” e as descobre

Yvelise de Oliveira - 10/10/2017 11h03

Para muitos, velhinhos são chatos. Para mim, representam tanto Foto: Unsplash

Já faz algum tempo que eu dei para observar as velhinhas que passam na rua.

Tão arrumadinhas, cabelos impecáveis, meias de seda e com a sua dignidade intocada. Seus vestidos bem passados ou suas calças compridas de um tecido que dispensa o ferro. Todo o conjunto tem um ar distinto e levemente fora de moda; é como olhar atrás do espelho uma leve brisa de dias tranquilos.

Algumas andam em duas e conversam entre si de braços dados. Acho que são irmãs!

Outras, sozinhas, olham vitrines. São sempre tão empertigadinhas. Agora, com esse mundo tão violento, elas usam colares falsos e relógios de plástico. É uma pena! Ficariam lindas com suas pérolas verdadeiras e o reloginho de ouro no pulso.

Uma dor sem limites me aperta o peito. As lágrimas como que me explodem dos olhos, grossas e quentes.

Seria inexplicável entender uma mulher de meia-idade chorando sem motivo em plena Visconde de Pirajá, em Ipanema. Rápida, coloco meus óculos escuros e tento esconder o desejo imenso que uma dessas senhoras tão distintas pudesse ser minha mãezinha.

Ela, se ainda existisse, seria assim, diligente, ágil e uma graciosa dama de cabelos loiros agrisalhados. Fazendo compras, ajudando a organizar a casa dela e, naturalmente, a minha.

Assim, minha inveja é saudável. É com amor e com uma grande dose de carinho que meu olhar segue as “velhas senhoras” e as descobre nos supermercados, nos pontos de ônibus, na padaria e as acaricio de longe com meu sorriso e minhas lágrimas.

E os casais! São ainda mais adoráveis. Se amparam um no outro, é como um acordo mútuo de manterem-se como “todo mundo”.

Estão também arrumadinhos e normalmente é a mulher quem comanda e segura mais firme a mão do velho companheiro. Cabecinhas quase brancas! Mãos e braços que se unem na necessidade de sentirem-se parte da terrível cidade, do tumulto…

Para muita gente são velhinhos chatos que atrapalham os caminhos das apinhadas calçadas. Gente com pressa…

Para mim representam tanto! São parte de algo que perdi e não vou conseguir nunca.

Me controlo, olho para o céu e penso em outras coisas. A dorzinha deve sumir, é só uma questão de disciplinar os pensamentos, desviá-los para minha neta ou para as crianças nos carrinhos de bebês.

Acho que não quero mais envelhecer…

Yvelise de Oliveira é Presidente do Grupo MK de Comunicação, Yvelise de Oliveira costuma escrever crônicas sobre as suas experiências e percepções a cerca da vida. Há alguns anos lançou o livro Janelas da Memória, um compilado de seu material. Atualmente está em processo de finalização de uma nova obra, Suspiros da Alma.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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