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Opinião Vinicius Cordeiro e Bruna Franco: Zoológicos – O fim de uma era

Os zoos estão claramente ultrapassados. Devemos estabelecer uma nova forma de convivência e entendimento do que é a vida animal e de como protegê-la

Vinícius Cordeiro - 03/05/2018 11h43

O confinamento de animais em recintos fechados, obviamente, prejudica a saúde e o bem-estar deles, além de causar estresse. É preciso transferi-los para santuários, ou ainda, reservas de áreas de proteção ambientais. No seu lugar, deverão ser construídos parques ou praças para a população.

Animais como leões, tigres, cervos, zebras e elefantes, que normalmente percorrem longas distâncias em um curto período de tempo, procurando alimentação e que necessitam do contato direto com outros da mesma espécie, passam os dias entediados, solitários, ou com não mais de um companheiro de sua espécie. Suas ações “habituais” são reguladas nos zoos, como horários para a alimentação e acasalamento. O foco dado à conservação das espécies justifica tais práticas.

Os zoológicos, na verdade, promovem uma mercantilização dos animais e uma “mascotização da vida selvagem” que deforma a mensagem pedagógica, aponta a bióloga Andrea Torres. Dar nomes a orcas, gorilas ou ursos panda, ou anunciá-los no metrô como atração turística não contribui para conferir qualquer peso científico a tais instituições.

Em 2016, a Costa Rica, além de proibir a caça esportiva, tomou a corajosa decisão de fechar os seus zoos e transformá-los em santuários, decisão idêntica também tomada na Argentina. Em junho do ano passado, a prefeitura de Buenos Aires pôs fim ao zoo local. Todos os animais foram transferidos para santuários e o espaço do antigo zoo transformado em eco parque interativo. A solução resulta da intensa militância da causa animal da capital portenha.

O zoológico municipal do Rio de Janeiro teve, em tempo recente, períodos de interdição, por falta de condições mínimas de receber visitantes e mesmo animais. De acordo com a declaração de representantes do IBAMA, no período do fechamento, o estabelecimento não conseguiu isolar animais feridos e estressados, e foram constatadas as más condições no local, a partir de denúncias feitas por ativistas e organizações atuantes, como a ANDA e a GAIA. A defesa pela continuidade dos zoos na verdade esconde interesses políticos e econômicos inconfessáveis.

Argumenta-se que a exposição de animais em cativeiros permite a educação ambiental. Falácia. A visitação pública perturba muito diversas espécies de animais. O fato é que, por exemplo, grandes primatas expostos ficam perturbados; mantê-los assim não é pedagogia, não é ético e não é amor aos animais. Os zoos, da forma como são concebidos, estão claramente ultrapassados e representam o fim de uma era: a forma de como a sociedade lidava com os animais, e claramente devemos estabelecer uma nova forma de convivência e entendimento do que é a vida animal e de como protegê-la.

Vinicius Cordeiro é advogado, ex-Secretário de Proteção Animal do Rio de Janeiro.
Bruna Franco é ativista, dirigente da ONG ADDAMA e produtora executiva da ONG Celebridade Pet.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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