A greve dos caminhoneiros e o apocalipse animal
A greve afeta diretamente as atividades econômicas e é preciso repensar o bem-estar de milhares de animais
Vinícius Cordeiro - 29/05/2018 12h33
Independentemente do que se pense das razões e rumos da greve dos caminhoneiros e suas justificativas, o fato é que o país está assistindo a um grave problema ambiental, que atinge diretamente o rebanho brasileiro.
Em apenas uma semana da paralisação, já se estimava à “perda” (morte) de mais de 64 milhões de aves e de 200 mil suínos. Isso de um rebanho nacionalmente estimado em 1 bilhão de aves, e cerca de 20 milhões de suínos (porcos).
O motivo está no impedimento de se chegar aos empreendimentos granjeiros, ração suficiente para as aves e os suínos brasileiros. A população assiste, perplexa, o triste espetáculo de milhares de aves mortas nas granjas, e mesmo a morte de cargas vivas. Logo após o início da paralisação das estradas, houve uma grande mobilização das ONGs de defesa animal para a liberação de cargas vivas, mas não houve sucesso em relação à liberação de rações.
Com a greve afetando diretamente as atividades econômicas, com 152 plantas industriais e 220 mil trabalhadores com as atividades laborais suspensas, e sobretudo a saúde pública, há uma relativização desse verdadeiro apocalipse animal. E, da mesma forma que se repensa a concentração nos modais de transporte rodoviário, a população deve também repensar seus hábitos alimentares, e a necessidade de se mitigar o grande consumo de carne animal, incentivado pela mídia e pelo que se convencionou de “cultura”, sobretudo em estados sulinos.
O prosseguimento do movimento paredista põe em risco a vida de todo o rebanho avícola e suíno,e pode resultar, certamente, em alta de preços, o que afeta o custo de vida de milhões de brasileiros, sobretudo os mais pobres. Podem ser mais de 3 bilhões de prejuízo no setor econômico diretamente afetado e a perda de milhares de empregos.
Só que não se trata somente da questão econômica, ou sanitária em jogo: mas de vidas, do bem-estar de milhões de animais. A sociedade tem de se sensibilizar e se conscientizar para o problema, e deve-se agir em contingência para a liberação de rações.
Vinicius Cordeiro é advogado, ex-Secretário de Proteção Animal do Rio de Janeiro. | |
Bruna Franco é ativista, dirigente da ONG ADDAMA e produtora executiva da ONG Celebridade Pet. |