Julgamento final
Eurico Miranda fez história no futebol. Eu prefiro julgá-lo pelos números. O homem, não cabe a nós julgar
Sergio du Bocage - 13/03/2019 18h13
“Não julgueis, e não sereis julgados” (Lucas 6:37).
O texto acima se aplica muito bem ao ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda, que morreu na última terça-feira, dia 12. Amado e odiado por igual quantidade de fãs e desafetos, certamente entra para a história do futebol pela dedicação e amor ao Vasco, mas também por certas posturas polêmicas e, por que não dizer, repressivas e censoras, quando impedia certos jornalistas e veículos de imprensa de entrarem em São Januário para acompanhar o dia-a-dia do clube.
Para Eurico, o Vasco era mais importante que a família e não escondia que “só Deus” estava acima do clube. Era um amor que não se via, e nem se vê, em outros dirigentes. Um amor que o fez ultrapassar o limite e se achar tão ou mais importante que o próprio Vasco. Eu diria que esse foi seu grande erro.
Ele soube trabalhar a rivalidade com o Flamengo. Até o surgimento dele no futebol do Vasco, o Fluminense era o adversário histórico do rubro-negro. Eurico acirrou a disputa contra o Flamengo, dizendo que “cada jogo é um campeonato à parte”. Errou na dose e hoje o clássico é marcado por violência entre as torcidas. Mas, sem dúvida alguma ele pôs o Vasco como o maior rival do clube de maior torcida do país. Indiretamente deu valor ao Flamengo, para fazer crescer também a importância do Vasco no futebol carioca.
Nos números, não foi mal contra o Flamengo. Ele foi diretor e vice-presidente de futebol, e depois presidente do clube, de 1986 a 2008. Depois foi novamente presidente, de 2015 a 2017. Nesse período, Vasco e Flamengo se enfrentaram 118 vezes, de acordo com o site NetVasco. Foram 43 vitórias de cada um e 32 empates. Perdeu nas disputas diretas de título, já que o Vasco venceu o Flamengo nas decisões dos Estaduais de 87, 88 e 92, mas perdeu nas de 86, 96, 99, 2000, 2001 e 2004 e também na Copa do Brasil de 2006.
No geral, o Vasco ganhou uma Copa Libertadores, uma Mercosul, um Rio São Paulo, três Campeonatos Brasileiros e nove Estaduais com Eurico em alguma função no clube. No mesmo período, o Flamengo ganhou uma Mercosul, uma Copa dos Campeões, uma Copa Ouro Conmebol, duas Copas do Brasil, dois Campeonatos Brasileiros e dez Estaduais. Eurico ainda amargou um rebaixamento para a Série B, em 2013.
Se foi bom ou mau, se errou ou acertou, não cabe a nós julgar. Que os números decidam.
Sergio du Bocage é carioca e jornalista esportivo desde 1982. Trabalhou no Jornal dos Sports, na TV Manchete e na Rádio Globo. É gerente de programas esportivos da TV Brasil e apresenta o programa “No Mundo da Bola”. |