A tragédia do Ninho
A tragédia de Mariana acaba de se repetir em Brumadinho. Será que a tristeza vai se repetir também no futebol?
Sergio du Bocage - 13/02/2019 17h59
Faz uma semana que o futebol ficou de luto. Uma tragédia, daquelas impensadas, provocou a morte de dez jovens das divisões de base do Flamengo. Um incêndio, ainda sendo apurado, interrompeu a carreira de dez promessas que poderiam ou não se transformar em jogadores, e acabou com sonhos e, pior, com vidas.
A partir de então, uma avalanche de denúncias contra o Flamengo toma conta do noticiário. Multas, falta de alvará e de autorização do Corpo de Bombeiros, projetos sem a previsão de um dormitório para os jovens. O Clube se defende, apresenta documentos, fala dos valores que foram investidos, promete atender e indenizar as famílias e atender aos três jogadores que se feriram no incêndio. Nada mais do que o mínimo a ser feito. No entanto, a tragédia do Ninho serviu para mostrar que nossos jovens não recebem o devido tratamento do mundo do futebol.
Mas, e agora? A tragédia de Mariana acaba de se repetir em Brumadinho. Será que a tristeza vai se repetir também no futebol? Ou vamos tentar aproveitar o fato para evoluir no atendimento a crianças e adolescentes que sonham em jogar futebol e vencer na vida?
Nesses dias, ainda próximo do que aconteceu, autoridades se movimentam país afora. Resolveram investigar os centros de treinamento de clubes grandes e pequenos que hospedam, sabe-se lá como, jovens em suas dependências. E já houve caso de interdições, como no Botafogo, do Rio de Janeiro. O Corinthians, de São Paulo, assumiu que usa um imóvel de forma irregular; o São Paulo retirou os jovens de seu CT. Estamos falando de quatro clubes grandes, de alto investimento. Nem é bom imaginar o que pode ser encontrado em outros estados.
Nada que diminua a responsabilidade do Flamengo, muito menos a tristeza. Mas isso demonstra o descaso – mais um – com algo tão importante: a bilionária indústria do futebol, que ocupa espaço em todas as mídias, que mexe com paixões, que gera receitas para o país, que educa, permite sonhos, cria ídolos, traz alegria e une famílias.
O campeonato perdeu a graça.
Sergio du Bocage é carioca e jornalista esportivo desde 1982. Trabalhou no Jornal dos Sports, na TV Manchete e na Rádio Globo. É gerente de programas esportivos da TV Brasil e apresenta o programa “No Mundo da Bola”. |