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Opinião Russell Shedd: Cheio do Espírito

Pessoas cheias do Espírito buscam em primeiro lugar o Reino de Deus. Não se preocupam com sua própria vida, mas se entristecem com o sofrimento dos outros

Russell Shedd - 25/02/2018 08h00

A expressão “cheio do Espírito” é encontrada algumas poucas vezes no livro de Atos dos Apóstolos. Em Efésios, Paulo manda que seus leitores “deixem-se encher pelo Espírito” (NVI), a tradução certa do grego. Paulo fala aos Gálatas que ele está sofrendo “dores de parto… até que Cristo seja formado neles” (4:19). Na segunda oração, registrada em Efésios, o apóstolo culmina seu pedido com a frase: “…para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus” (3:19 b). Jesus também falou para seus discípulos, na noite de sua traição, que eles deveriam permanecer Nele, e Ele permaneceria neles. Por isso, examinemos o significado dessas palavras bíblicas e suas implicações para a vida cristã autêntica.

Em primeiro lugar, parece-me provável que todas essas frase são, senão sinônimas, pelo menos paralelas. Se alguém está cheio de Cristo ou de Deus entende-se que ele está cheio do Espírito, uma vez que este não é outro senão o Espírito de Cristo, ou o Espírito Santo de Deus. Cristo, formado num cristão, deve equivaler a alguém que goza da plenitude de Deus, “pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2:9). Acreditando firmemente que a Trindade se compõe de três pessoas numa só essência, concluímos que é razoável crer que ficar cheio de um deles significa estar cheio dos outros.

Em segundo lugar, mesmo que não faça parte de nossa maneira contemporânea de falar, estar cheio de uma pessoa comunica que ela exerce uma influência forte sobre aquele. Diríamos que um indivíduo ficou sob o domínio do outro. Uma vez cheio do Espírito, o crente não agiria de modo independente. Estaria, consciente ou inconscientemente, controlado por um “espírito” distinto do seu espírito humano. O homem cheio do Espírito pensaria, falaria, desejaria e agiria de modo distinto daquele com que ele atuaria se estivesse apenas cheio de si.

Paulo fala dessa distinção quando se refere ao “espírito do mundo” ou o indivíduo “que não tem o Espírito de Deus” (traduz a palavra psuchikos , “almal”, 1 Coríntios 2:12,14). Os espirituais podem ser os que, tendo o Espírito, se dispõem a ouvi-lo e obedecer-lhe. Todos temos ouvido falar de pessoas possessas. Quer dizer, uma pessoa dominada por um espírito que nem é humano e nem divino. A única outra opção seria um espírito imundo ou demoníaco. Jesus enviou seus discípulos numa missão em que uma de suas tarefas era a de “expulsar espíritos imundos” (Mateus 10:1). Porém, a maioria maciça dos não cristãos não é de pessoas endemoniadas. Paulo ensina que o príncipe do poder do ar, o espírito que está atuando nos que vivem na desobediência (Ef 2:2), influencia até os não cristãos. Mas isso não quer dizer que todos os que não se submetem ao senhorio de Cristo estão cheios de Satanás, ou possessos. Claro que não!

Essa distinção notável no mundo incrédulo pode nos mostrar bem o caminho para uma compreensão mais clara do enchimento do Espírito. Todos os cristãos verdadeiros, nascidos do Espírito, têm uma medida da influência do Espírito, mas parece que a maioria não está dominada por Ele.

Se alguém não tem o Espírito, tal pessoa não deve ser reconhecida como cristão! Mas ter o Espírito e ficar cheio do Espírito referem-se a distinções que podemos observar em qualquer igreja.

Por fim, gostaria de oferecer sugestões que poderão ser úteis num autoexame e dirão se somos ou não cheios do Espírito:

  1. Pessoas cheias do Espírito são as que mais se parecem com o Senhor Jesus. São imitadores de Jesus.
  2. São pessoas humildes. Jesus os chamou de “pobres em espírito”. Consideram os outros superiores a si mesmos.
  3. São membros bem integrados na igreja, o Corpo de Cristo, de maneira que a Cabeça, evidentemente, os controla. Não são nem egoístas nem independentes, mas servidores.
  4. Elas buscam em primeiro lugar o Reino de Deus, e não seu próprio reino.
  5. Elas confiam de tal maneira no controle soberano de Deus sobre todas as pessoas e eventos que não se preocupam com sua própria vida, mas se entristecem com o sofrimento dos outros.
  6. Elas procuram entender a Bíblia como Jesus a entendeu, e se comprometem em obedecer seus mandamentos.
  7. Elas são semeadores da boa semente do Evangelho e se empenham no discipulado das nações.
  8. Elas vivem na gloriosa esperança da Vinda do Senhor, de modo que não ficam desesperadas com a multiplicação da maldade no mundo.
  9. Elas perdoam em vez de se vingarem.
  10. Acima de tudo, são arraigadas e alicerçadas em amor.
Russell Shedd Era conferencista internacional, bacharel em Teologia com especialização em Bíblia e Grego, Mestre em Novo Testamento e PhD em Filosofia. Nascido na Bolívia, filho de pais missionários, veio para o Brasil em 1962. Escreveu mais de 30 livros, publicados pela Shedd Publicações e pela Edições Vida Nova, fundadas por ele. Faleceu em 2016, aos 87 anos, vítima de câncer. Neste espaço, recebe homenagem do Pleno.News, que publica textos daquele que foi conhecido como o maior teólogo do Brasil.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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