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Coluna Russell Shedd: Vocês foram comprados

Deus comprou pessoas para adquirir a imagem do seu Filho

Russell Shedd - 04/02/2018 08h00

O costume de comprar pessoas sumiu quase por completo com o fim da escravatura. Hoje, encontrar um mercado que comercializa humanos como mercadoria, só em cenas do passado ou de filmes. Valores monetários estipulados de acordo com a aparência, idade e habilidades de seres humanos, felizmente não existem mais no mundo civilizado. Gado e carros podem ser avaliados de acordo com o mercado, um ser humano não. Trocar uma filha por um valor monetário nos parece fundamentalmente errado. A consciência rejeita a ideia como injusta, iníqua e como violação de algo sagrado.

Esta verdade não desmente a veracidade da frase que Paulo escreveu para os coríntios há séculos. O apóstolo declara que eles foram comprados por alto preço e que não pertencem a si mesmos. Uma afirmação como essa seria chocante no contexto contemporâneo caso se tratasse da aquisição por um chefe ou dono de uma indústria. Mas no contexto bíblico parece natural. Quem fez a transação foi Deus, e o alto preço foi a entrega do seu Filho unigênito para morrer no lugar de devedores totalmente incapazes de saldar suas dívidas morais e espirituais. Os 24 anciãos do Apocalipse concordam, cantando: “Foste morto, e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação” (5:9, NVI).

Algumas implicações

Pertencer a outra pessoa tem implicações sérias, e Paulo não omitiu algumas das mais óbvias para aqueles que pertencem a Deus.

1. Imediatamente após ele ter informado aos coríntios que os cristãos não eram donos de si mesmos, Paulo apela à lógica: “Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo” (1 Co 6:2, Gb). Quanto mais alto o preço pago por um artigo ou, neste caso, uma pessoa, ficava certo que aquele que o comprou tinha um propósito especial em desembolsar o altíssimo valor.

Quando o Unigênito Deus (o Logos) se fez carne e viveu entre os homens, “eles viram sua glória … cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14). João disse que os discípulos não deixaram de observar sua mansidão, bem como o seu cuidado com as pessoas excluídas da sociedade. Notaram sua completa honestidade, bondade e amor. A reflexão do caráter de Deus nas suas decisões e ambições foi clara. Acima de tudo, perceberam a glória de Deus em sua disposição de sofrer as mais inconcebíveis agonias em favor de todos os que Nele confiassem. Deus comprou pessoas para adquirir a imagem do seu Filho.

2. Se não sou dono de mim mesmo, sou sujeito à vontade de quem me comprou. Dar plena atenção à vontade Dele teria prioridade. Paulo orou pelos colossenses pedindo que “sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual” (Cl 1:9). Lembrou aos romanos que os que são guiados pelo Espírito são realmente filhos de Deus (8:14), e não apenas os que se pronunciam membros da sua família. O protesto de Jesus em Lucas 6:46: “Por que vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?”; revela seguidores professos, mas não verdadeiros. Pertencer a Deus significa obedecer às suas ordens.

3. Prostituição e toda prática sexual impura nega a relação de posse por parte de um Deus três vezes santo. “A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual” (1 Ts 4:3). Assim, o apóstolo reitera a rejeição divina de todo e qualquer relacionamento ilícito nessa área. “Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça: pois essas coisas não são próprias para os santos” (Ef 5:2).

4. Em todos os que não pertencem a si mesmos, precisa existir uma consciência clara de que todo serviço prestado e toda atividade praticada, seja no campo “secular” ou no espiritual, deve ser em favor do seu dono. O valor, para Deus, de todo esforço e tempo investido por parte dos seus servos deve ser para a alegria Dele. Deve visar o seu inteiro agrado. Comer, beber ou fazer qualquer coisa para a glória de Deus (1 Co 10:31) não exclui o prazer humano experimentado em todas essas atividades. Porém, o propósito prioritário precisa ser o prazer do Senhor: sempre.

Não acredito que haja qualquer novidade nessas linhas. Mas quando pensamos nos planos que traçamos, nas ambições e alvos almejados, detectamos desvios e falhas. Tanto a leitura da Palavra, a assistência aos cultos, a pregação do pastor, o meditar sobre o significado da vida, tudo pode falhar se não produzir uma submissão contínua ao Espírito Santo regenerador para responder à questão principal: que alvo tem essa atividade?

Russell Shedd Era conferencista internacional, bacharel em Teologia com especialização em Bíblia e Grego, Mestre em Novo Testamento e PhD em Filosofia. Nascido na Bolívia, filho de pais missionários, veio para o Brasil em 1962. Escreveu mais de 30 livros, publicados pela Shedd Publicações e pela Edições Vida Nova, fundadas por ele. Faleceu em 2016, aos 87 anos, vítima de câncer. Neste espaço, recebe homenagem do Pleno.News, que publica textos daquele que foi conhecido como o maior teólogo do Brasil.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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