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Em menos de quatro meses, os insurgentes tomaram o controle de quase todo o país

Renato Vargens - 17/08/2021 18h14

Grupo de afegãos no aeroporto de Cabul Foto: EFE/STRINGER

Diante dos fatos no Afeganistão, venho usar o espaço da coluna para recomendar o texto do professor Franklin Ferreira, que publico abaixo com a sua devida autorização.

O Afeganistão tem sido considerado o “cemitério de impérios”. Alexandre, o Grande, conseguiu conquistar um território que se estendia da Europa à Índia, mas nas regiões da Báctria e Sogdiana, que equivalem ao atual Afeganistão, Uzbequistão e Tajiquistão, o grande conquistador macedônio nunca conseguiu controlar a população tribal. Entre 330 e 327 a.C., seu exército se envolveu em uma longa e sangrenta guerra de guerrilha e cercos contra os persas e as várias tribos que viviam na região. Kandahar foi fundada em 330 a.C. e era conhecida como Alexandria Arachosia. Foi nas montanhas frias e desertos áridos do nordeste que começou a dissolução moral e física de Alexandre. E estes territórios setentrionais foram perdidos por seus sucessores, logo após sua morte, em 323 a.C.

Em 1839, o Reino Unido interveio no Afeganistão para bloquear a influência do império russo na região, numa campanha militar desastrosa. Em janeiro de 1842, 4,5 mil militares e 12 mil civis britânicos, indianos e dissidentes afegãos abandonaram Cabul no inverno, apenas para serem massacrados no terreno montanhoso no caminho para Jalalabad. Pouco depois, os britânicos deixaram o território. Esta é considerada a pior derrota militar britânica da história, comparada apenas à queda de Cingapura diante do exército imperial do Japão, em janeiro de 1942.

Supõe-se que o custo econômico e militar da guerra soviética no Afeganistão contribuiu para o colapso do comunismo no Leste Europeu

O Reino Unido invadiu novamente a região em 1878, derrotando as forças tribais após seis meses de campanha. Esta deixou evidente para os políticos britânicos o alto custo de controlar um lugar altamente instável, com complexas alianças entre tribos e etnias. A ocupação britânica se encerrou em 1880, e morreram 9.850 militares do Reino Unido. O terror diante da selvageria dos afegãos nas diversas batalhas contra o exército do Reino Unido foi registrado em versos por Rudyard Kipling, em 1890: “Se você foi ferido e deixado nas planícies do Afeganistão / E as mulheres se aproximarem para cortar as tuas partes / Role em direção ao rifle e exploda os teus miolos / E vá para o Além / Como um soldado”.

Em 1919, os afegãos tentaram invadir uma área da Índia britânica, e nova guerra com o Reino Unido irrompeu na região. Ao fim, 236 militares britânicos morreram em combate, e o Afeganistão se tornou um território independente.

Entre 1979 e 1989, a União Soviética se envolveu na luta civil travada na região, combatendo contra os guerrilheiros mujahidins numa longa e sangrenta guerra. Supõe-se que o custo econômico e militar da guerra no Afeganistão contribuiu para o colapso do comunismo no Leste Europeu em 1989: 14.453 militares soviéticos morreram na guerra.

O FIM MELANCÓLICO DE UMA GUERRA SEM FIM
Por causa dos ataques terroristas perpetrados pela Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, este país, com o aval da ONU e o apoio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), invadiu o Afeganistão em 7 de outubro de 2001, na Operação Liberdade Duradoura. O Talibã surgiu em 1994, na esteira da guerra civil que ocorreu no Afeganistão após a retirada soviética. O grupo passou a governar a região desde 1996, tornou-a um santuário para o grupo terrorista Al-Qaeda e impôs a lei islâmica sobre a população. Seu financiamento vem do fornecimento de ópio a produtores de heroína, tráfico de drogas, extorsão e sequestro.

Sem conseguir o fim da guerra no Afeganistão, tropas da Otan começaram a ser retiradas em agosto de 2010. Saíram militares dos Países Baixos e do Canadá, demonstrando, segundo um jornalista, uma quebra na “solidariedade entre os membros da Otan”. Os poloneses se retiraram em 2012; tropas do Reino Unido e dos Estados Unidos, em 2014, quando um exército nacional afegão já estava estabelecido. Entre 2018 e 2019, durante o governo Donald Trump, houve uma tentativa de se estabelecer uma paz por vias diplomáticas. Assim, os Estados Unidos concordaram com uma redução de sua força de 13 mil para 8,6 mil militares até julho de 2020, seguida por uma retirada total até 1º de maio de 2021. Mas, em março deste ano, já no governo de Joe Biden, o Talibã voltou à ofensiva. Ainda assim, Biden anunciou em abril que continuaria a retirada, estipulando uma previsão de retirada total até 31 de agosto, encerrando assim uma guerra que já durava 20 anos. Mas, diante da rapidez da ofensiva começada em 1.º de maio, 5 mil soldados norte-americanos foram enviados ao país para proteger a retirada de cidadãos ocidentais e apoiadores afegãos.

Neste último domingo, 15 de agosto, a capital Cabul já estava ocupada por combatentes do grupo islâmico, que entraram inclusive no palácio presidencial. Um porta-voz do Talibã disse que eles esperavam uma “transferência pacífica” da capital do Afeganistão para seu controle. Em menos de quatro meses, os insurgentes tomaram o controle de quase todo o país, reconquistando com facilidade aquele território do qual foram expulsos anos antes pelas forças da Otan lideradas pelos Estados Unidos.

Os afegãos que prestaram algum serviço para os Estados Unidos e a Otan foram “marcados” para morrer pelos talibãs

No domingo já circulavam vídeos e fotos que retratam o desespero dos afegãos no aeroporto de Cabul, com milhares de pessoas tentando entrar nos aviões de transporte Boeing C-17 Globemaster III dos Estados Unidos que estão saindo do país. Há vídeo de pessoas caindo de uma aeronave que decola. Centenas de afegãos derrubaram os portões do aeroporto da capital na esperança de conseguirem um lugar em algum dos voos, ao som de tiros cada vez mais próximos. O aeroporto é protegido por tropas dos Estados Unidos e da Turquia. Há um vídeo de um avião da KamAir tentando decolar de Cabul com destino a Istambul, na Turquia; apesar de ele estar completamente cheio, as pessoas em desespero ainda tentavam entrar para fugir da capital. Quem sai do aeroporto é preso pelo Talibã sob acusação de traição. Os que prestaram algum serviço para os Estados Unidos e a Otan foram “marcados” para morrer pelos talibãs.

Com a fuga do presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, para o exterior, o ex-ministro do interior Al Ahmad Jalali assumiu a administração da transição, mas a presidência do Afeganistão já foi transferida para o líder do Talibã, o mulahh Abdul Ghani Baradar. Enquanto isso, um líder do Talibã afirmou para a CNN: “Acreditamos que um dia venceremos e que a sharia [a lei islâmica] será imposta não apenas no Afeganistão, mas sim em todo o mundo! Não temos pressa. Acreditamos que esse dia chegará. A jihad [guerra santa] só terminará no último dia!” Ao assumirem o controle do Palácio Presidencial de Cabul, uma das primeiras atitudes dos talibãs foi recitar o Alcorão. Agora, os talibãs preparam-se para proclamar o Emirado Islâmico do Afeganistão.

Também circulam vídeos mostrando o momento em que centenas de presos foram libertados indiscriminadamente pelos talibãs da prisão de Cabul, causando ainda mais temor na população. Entre os soltos estavam terroristas da Al-Qaeda e do Estado Islâmico. Há relatos de que mais prisões foram abertas em outras regiões do país. Também há imagens das vitrines das lojas em Cabul sendo pintadas para esconder imagens ou desenhos de mulheres que não estejam totalmente cobertas. De acordo com a BBC, nas zonas ocupadas do país os talibãs já proibiram as mulheres de estudar ou trabalhar. Segundo a imprensa canadense, já ocorrem execuções civis, decapitações de adversários e raptos de meninas. De acordo com relatos, “o Talibã já ordenou que todas as meninas que têm 15 anos e ainda não se casaram serão distribuídas entre os seus soldados para engravidar […] novos soldados do Islã”. Uma segunda fonte escreveu que “muitos pastores locais [afegãos] têm muita dificuldade em sair, algumas igrejas no Tajiquistão estão a receber muitos pastores e cristãos afegãos que conseguem fugir”. De acordo com outra fonte, “uma pessoa que trabalha com redes de igrejas [cristãs] domésticas no Afeganistão relata que seus líderes receberam cartas […] do Talibã avisando-os de que sabem onde estão e o que estão fazendo. Os líderes [cristãos] dizem que não vão a lugar nenhum”. Missionários cristãos ocidentais saem do país apenas com a roupa do corpo. A primeira fonte faz um apelo dramático: “Vamos orar e jejuar pois nossos irmãos [afegãos] vão sofrer horrores”.

A HUMILHAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS
Em meio a esta imensa tragédia, um grupo de mais de 50 veteranos norte-americanos da guerra, incluindo os generais da reserva David Petraeus e Stanley McChrystal, pediram a Biden que evacuasse os milhares de intérpretes afegãos da região, em face da ameaça de vingança do Talibã: “A retirada iminente das tropas dos Estados Unidos e da Otan do Afeganistão torna esse imperativo moral e de segurança nacional mais crítico do que nunca”, dizia a carta. “Pedimos humildemente que você tome medidas extraordinárias para evacuar os afegãos devidamente examinados para um local seguro fora do Afeganistão para processamento de vistos, nomeie um líder Interagência sênior e aloque recursos significativos para o planejamento e execução da missão”. Temendo por suas vidas, mais de 18 mil afegãos solicitaram um Visto Especial de Imigrante (SIV) para buscar refúgio nos Estados Unidos, mas o processamento de seus vistos pode levar anos. Em virtude da rapidez do avanço do Talibã, um apoiador da petição reconheceu, ainda na semana passada, que “não há mais tempo” para o assunto ser considerado.

Na quarta-feira, 11 de agosto, os serviços de inteligência dos Estados Unidos afirmavam que os combatentes do Talibã poderiam tomar Cabul em 30 dias e, possivelmente, dominá-la em 90 dias. Neste domingo, 15 de agosto, podia-se ver à distância uma longa coluna de fumaça saindo da Embaixada dos Estados Unidos em Cabul, provavelmente o resultado da destruição de equipamentos e documentos confidenciais. Ao mesmo tempo, fotos mostraram helicópteros Boeing CH-47F Chinook, do Exército dos EUA, pousando na embaixada no domingo, para retirar funcionários diplomáticos do complexo. Esta imagem evoca a trágica retirada desesperada da equipe diplomática e de refugiados da embaixada dos Estados Unidos em Saigon, a antiga capital do Vietnã do Sul, em 30 de abril de 1975, na Operação Vento Constante, o momento que selou a vitória dos comunistas do Vietnã do Norte em uma longa guerra que durou 30 anos. Curiosamente, três semanas atrás, Biden havia dito que “os talibãs não podem ser comparados aos norte-vietnamitas. Em nenhuma circunstância veremos helicópteros retirando funcionários diplomáticos de uma embaixada sitiada em Cabul como aconteceu em Saigon!”

No fim, encerra-se um período de 20 anos de uma guerra inútil e inglória. De acordo com um estudo do Watson Institute, da Brown University, um total de 2.298 militares dos Estados Unidos morreram no Afeganistão e 20.066 ficaram feridos desde 2001. Outros 1.145 militares da Otan foram mortos no país, inclusive 457 britânicos. O número de mortes de civis foi estimado em 43.074, e cerca de 64.124 militares afegãos tombaram em combate. O Talibã e a Al-Qaeda perderam 42,1 mil mortos. O custo das operações militares foi estimado em US$ 824 bilhões. Batalhas selvagens lutadas e vencidas pelas forças dos Estados Unidos e Otan em locais como Tarin Kowt, Qala-i-Jangi, Tora Bora, Lashkagar, Panjwaii, Sangin, Now Zad, Musa Qala, Chora, Arghandab, Garmsir, Shewan, Shok Valley, Wanat, Dahaneh, Alasay, COP Keating e Ganjgal se revelaram fugazes. Em outra reminiscência da Guerra do Vietnã, as forças ocidentais venceram as batalhas contra os guerrilheiros islâmicos, mas perderam a guerra.

Com sua vitória, o Talibã herdou dez aviões de ataque leve Embraer A-29B Super Tucano, adquiridos pelos Estados Unidos para a Força Aérea do Afeganistão. Centenas de helicópteros, blindados e veículos de combate – entre eles, cerca de 1,5 mil HMMWV –, entre outras armas, e bases militares como Bagram, foram entregues pelos norte-americanos aos aliados afegãos, que, mesmo treinados e equipados durante dez anos, foram facilmente derrotados pela ofensiva relâmpago do Talibã. Inexplicavelmente, todo esse equipamento militar não foi destruído pelo exército afegão frente à derrota iminente. Uma dura lição que fica, que já deveria ter sido aprendida no Iraque, é que governos fantoches não funcionam. No Afeganistão, o governo foi formado por pessoas para as quais a presença americana foi apenas uma oportunidade para ganhar dinheiro. Governos afegãos receberam bilhões de dólares dos Estados Unidos para criar “forças de segurança” que existiam só no papel. De outro lado, um consultor militar americano postou foto com quatro militares afegãos, e disse que todos eles foram executados fora de suas casas em Kandahar, na terça-feira. Há relatos de que os terroristas têm ido de casa em casa, assassinando pilotos e operativos das forças especiais afegãs e estuprando seus familiares. Como países do Oriente Médio, da Ásia e da África que quiserem liberdade e democracia vão confiar de novo nos Estados Unidos e na Otan?

O ônus do fiasco no Afeganistão é de Joe Biden, que protagoniza um desastre político de consequências imprevisíveis na Ásia e no restante do mundo

Se uma guerra civil irromper no Afeganistão; se a espiral de brutalidade contra mulheres retornar; se o país se tornar novamente um santuário para terroristas; ou se a região virar um protetorado chinês, Biden será o culpado direto. Não custa lembrar que, quando senador, Biden apoiou a decisão do presidente George W. Bush de atacar o Afeganistão como resposta aos ataques terroristas da Al-Qaeda, em 11 de setembro de 2001.

Como Guga Chacra afirmou, “a retirada dos Estados Unidos é apoiada por mais de dois terços dos americanos. Mas não a forma humilhante como ocorre a retirada. Esta marca ficará com Biden até o fim de seu mandato. Foi humilhado. Trump terá o argumento de que queria sair, sim, do Afeganistão, como a maioria dos americanos, mas não dessa forma patética, com o Talibã retornando ao poder”. Portanto, o ônus do fiasco no Afeganistão é de Biden, que protagoniza um desastre político de consequências imprevisíveis na Ásia e no restante do mundo.

A CHINA E A NOVA RECONFIGURAÇÃO DOS PODERES REGIONAIS
Quase simultaneamente, a China comunista, que compartilha um pequeno trecho de fronteira com o Afeganistão, abriu diálogo em julho de 2021 com o Talibã, tornando o grupo extremista islamita um interlocutor válido, como parte do processo de reconstrução do Afeganistão. Os chineses nem esperaram o término da retirada norte-americana. De acordo com o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, “os talibãs no Afeganistão representam uma força política e militar fundamental e desempenharão um papel importante no processo de paz, reconciliação e reconstrução”. Para a China, o Talibã não é mais um grupo terrorista pária, mas um parceiro político.

Um Afeganistão livre de tropas norte-americanas confirma a tese chinesa de que os Estados Unidos são uma potência em decadência. Isso também permite à China proteger e ampliar seus interesses econômicos no Afeganistão, que precisará de investimentos. A vitória do Talibã também pode abrir aos chineses as portas para integrar esse país em sua iniciativa das Novas Rotas da Seda, a gigantesca rede de infraestruturas com a qual intentam conectar-se com o resto do mundo, abrindo uma via de acesso terrestre a mercados como Irã, Turquistão e Uzbequistão, na Ásia Central.

A Rússia e a China não evacuaram as suas embaixadas em Cabul, e já anunciaram que têm interesse em estabelecer “relações amistosas” com o Talibã

O general Sir Richard Barrons, que foi chefe do Comando das Forças Conjuntas do Reino Unido, disse que os aliados ocidentais “venderam o futuro do Afeganistão”. Ele afirmou que “a retirada nesse momento é um erro estratégico”, pois “correremos o risco de entidades terroristas se restabelecerem no Afeganistão, para causar danos na Europa e em outros lugares”. Triste epitáfio para o fim do envolvimento dos Estados Unidos e Otan no Afeganistão.

Assim, numa reminiscência da luta entre o Reino Unido e o império russo pela supremacia na região no século 19, vivenciamos agora o “Novo Grande Jogo”, para tentar conseguir a hegemonia na Ásia Central. De um lado do conflito, Estados Unidos, Reino Unido e países da Otan. Do outro lado, Rússia, China, países coligados da Organização para Cooperação de Xangai e Irã. Estes últimos estão, neste momento, com ampla vantagem. Diferentemente de quase todos os outros países, a Rússia e a China não evacuaram as suas embaixadas em Cabul, e já anunciaram que têm interesse em estabelecer “relações amistosas” com o Talibã.

“RODA GLÓRIA DO MUNDO É TRANSITÓRIA”
Diante das imagens terríveis da queda de Cabul, do sofrimento imposto a tantos pela fúria islamita, e dos sinais da decadência dos Estados Unidos e do Ocidente, vale a pena retornar à belíssima coletânea de pregações de Agostinho de Hipona, sobretudo em seu importante Sermão sobre a destruição da cidade de Roma, pregado para sua igreja em Hipona Régia, uma cidade da África Romana, em 410 d.C. Ele refletia sobre a invasão e saque da capital do Império Romano, um pouco antes, pelos vândalos chefiados por Alarico. Agostinho sabia que a ordem antiga estava terminando, e em breve começaria uma nova época para a Europa. O venerável pai afirmou à sua igreja angustiada:

“Não nos perturbe, pois, o sofrimento dos justos; trata-se de uma provação. A não ser que, porventura, nos horrorizemos quando vemos algum justo suportar nesta terra pesados e indignos sofrimentos, e esquecemos o que suportou o justo dos justos, o santo dos santos.
O que sofreu aquela cidade inteira, sofreu-o um só. E vede quem era ele: ‘O Rei dos reis, o Senhor dos senhores’, que foi preso, amarrado, flagelado, ofendido com todo o gênero de ultrajes, que foi suspenso do madeiro e crucificado, que foi morto.
Compara Roma a Cristo, compara a terra inteira a Cristo, compara o céu e a terra a Cristo; nada do que foi criado se pode comparar com o seu Criador; nenhuma obra se pode comparar ao seu artífice. ‘Ele criou todas as coisas e sem Ele nada foi criado’; e, todavia, foi traído pelos que o perseguiam.
Suportemos então o que Deus quiser que nós suportemos; Ele que, para nos curar e para nos salvar, enviou o Seu Filho, também sabe, como o médico, que sofrimento nos poderá ser útil. Com razão está escrito: ‘Que a Paciência realize com perfeição a sua obra’. Qual será então a obra da Paciência se não suportarmos nenhuma adversidade? Por que razão recusamos suportar os sofrimentos temporais? Porventura temos medo de sermos aperfeiçoados? Pelo contrário, rezemos e imploremos ao Senhor para que, no que a nós diz respeito, guarde o que diz o apóstolo: ‘Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados para além das vossas forças; mas, junto com a tentação, dar-vos-á também os meios para sair dela, para que possais resistir’”.

Que nós, cristãos, nos lembremos sempre da transitoriedade dos poderes desse mundo, e renovemos nossa fé no que é permanente, como nos diz a Escritura Sagrada, “aguardando a bendita esperança […] o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus, que se entregou a si mesmo por nós para nos remir de toda a maldade e purificar para si um povo todo seu, consagrado às boas obras” (Tito 2:13-14).

Franklin Ferreira é pastor da Igreja da Trindade e diretor-geral e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos-SP, professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI, nos Estados Unidos, secretário geral do Conselho Deliberativo do IBDR, presidente da Coalizão pelo Evangelho e consultor acadêmico de Edições Vida Nova.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.

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