A Igreja brasileira desaprendeu a amar
O amor sem sombra de dúvidas é uma das principais características da igreja
Renato Vargens - 15/01/2020 10h59
O Senhor Jesus ao aproximar-se do dia em que entregaria sua vida na cruz por amor aos eleitos afirmou: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros”.
Pois é, o amor é a marca dos discípulos de Cristo! O amor é que atrai as pessoas a Deus. O amor sem sombra de dúvidas é uma das principais características da igreja.
O Didaquê, que era um manual de ensino no primeiro século, tinha um relato belíssimo sobre os cristãos. Segundo ele era comum as pessoas dizerem sobre os que estavam no Caminho, “vejam como eles se amam.”
O cristão deveria ser conhecido pelo amor. Aonde não existe amor a ortodoxia é transformada em farisaísmo burro e adoecedor. Numa das sete cartas do Apocalipse, o Senhor admoesta a igreja de Éfeso por ter abandonado o primeiro amor. As Escrituras afirmam que aquela comunidade era ortodoxa, zelava pela sã doutrina, repudiava os falsos apóstolos e suas heresias, mas falhou por abandonar o seu primeiro amor. Veja bem, Jesus elogiou a firmeza doutrinária da igreja de Éfeso, mas a repreendeu pela sua falta de amor.
Caro leitor, as Escrituras ensinam que o amor é o principal de todos os mandamentos. Nosso Senhor resumiu a lei afirmando que os seus discípulos são chamados a amar tanto a Deus como ao próximo. (Marcos 12:28-31). Além disso o apóstolo João nos advertiu que não podemos amar a Deus a quem não vemos se não amamos os irmãos a quem vemos (1 João 4:20). Aquele que não ama ainda está nas trevas e nunca viu a Deus, pois Deus é amor.
Prezado amigo, a igreja quando ama atrai os mais variados tipos de pessoas ao seu convívio. Quando uma igreja ministra amor àqueles que com ela relaciona, estes são impregnados pelo poder do Evangelho e tem as suas vidas transformadas. A Igreja também tem por missão amar o pecador, chorar por ele, relacionar-se com ele anunciando-lhe a mensagem da cruz. O problema, como bem disse Leonard Ravenhill, é que a igreja deseja ser mais santa do que Deus, imiscuindo-se assim de relacionar-se com todos aqueles que não fazem parte do seu convívio. Se não bastasse isso, ao contrário do que vemos no livros de Atos, nossos membros se “odeiam” e isso se percebe nitidamente em nossas divisões eclesiásticas onde o que mais importa é prevalecer sobre o outro.
Querido irmão, ao olhar para o espírito beligerante que nos envolve, além da frieza dos nossos corações quanto ao destino Eterno dos homens sou levado a crer que vivemos no evangelicalismo brasileiro uma grave crise de identidade, isto porque, abandonamos em algum lugar da nossa recente história o entendimento que fomos salvos para amar e não prosperar; para dar e não receber; para chorar pelos que se perdem e não gargalhar pelas “bênçãos” recebidas.
Isto posto, termino essa reflexão com o clássico texto Paulino sobre o amor:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” (1 Coríntios 13:1-13)
Renato Vargens é pastor sênior da Igreja Cristã da Aliança em Niterói, no Rio de Janeiro e conferencista. Pregou o evangelho em países da América do Sul, do Norte, Caribe, África e Europa. Tem 24 livros publicados em língua portuguesa e um em língua espanhola. É também colunista e articulista de revistas, jornais e diversos sites protestantes. |