Leia também:
X Análise: Abusivo, Moraes quer explicação de Castro

O ladrão da cruz não era um bandido

Um homem que lutou pelo reino errado e se rendeu ao verdadeiro Rei nos últimos instantes

Pedro Augusto - 30/10/2025 17h52

O “ladrão da cruz” não era ladrão (Imagem ilustrativa) Foto: IA\Chat GPT

Você, que é cristão, certamente conhece a história do ladrão da cruz, aquele que, nos últimos momentos de vida, se arrependeu e ouviu de Jesus: “Hoje estarás comigo no paraíso.” Mas é preciso dizer algo que pode surpreender muita gente: esse homem não era um ladrão, pelo menos não no sentido que entendemos hoje.

No Brasil do século 21, quando pensamos em “ladrão”, imaginamos alguém que assalta, faz parte de uma facção criminosa ou vive à margem da lei. Só que o contexto histórico do Novo Testamento é outro, e a palavra que foi traduzida para “ladrão”, no grego, é “lêstês”. Esse termo era usado para descrever insurgentes políticos, pessoas que faziam parte de grupos rebeldes contra o domínio do Império Romano sobre Israel.

Flávio Josefo, principal historiador judeu da época, usa exatamente essa palavra para se referir aos zelotes, um movimento político-religioso formado por judeus que desejavam libertar Israel de Roma, ainda que pela força.

Ou seja, o “ladrão da cruz” provavelmente era um zelote, alguém que acreditava que o Messias viria como um líder político para restaurar o reino de Israel. Ele não era um assaltante de esquina, mas um revolucionário armado, um homem tomado por uma fé distorcida, que esperava o Cristo guerreiro e encontrou, em vez disso, o Cristo crucificado.

Quando olhamos com atenção, percebemos que, normalmente, Roma não crucificava ladrões comuns. Um simples furto não era o suficiente para merecer a morte mais humilhante e dolorosa que existia. A cruz era reservada para inimigos do Estado, para quem ameaçasse a “paz romana”. A crucificação era um cartaz de advertência pública: “É isso que acontece com quem ousa desafiar o Império”.

O “ladrão da cruz”, portanto, foi um recado político. E foi justamente esse homem que reconheceu em Jesus o verdadeiro Rei. O Messias que não libertava Israel de Roma, mas libertava o homem do pecado.

Se o evangelista Lucas nos dá margem de interpretação do ladrão da cruz como um criminoso, é porque Lucas, muito provavelmente, era um gentio e, portanto, não tinha uma visão muito negativa em relação a Roma, o que pode ser diferente quando ele analisa os revolucionários políticos de Israel.

Então, o ladrão da cruz era um revolucionário derrotado, que, ao olhar para o homem na cruz ao lado, percebeu que a verdadeira revolução não acontecia com espadas, mas com arrependimento.
A história do “ladrão da cruz” é, na verdade, a história de um homem que lutou pelo reino errado e se rendeu ao verdadeiro Rei nos seus últimos instantes.

E isso nos ensina duas coisas: o ladrão da cruz não era um assaltante; e, segundo, que ler a Bíblia sem contexto é a maneira mais rápida de distorcer a verdade.

Pedro Augusto é formado em Teologia pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro e também em Jornalismo.

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
Siga-nos nas nossas redes!
WhatsApp
Entre e receba as notícias do dia
Entrar no Canal
Telegram Entre e receba as notícias do dia Entrar no Grupo
O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.