Fascismo: O filho da esquerda
Chamar o fascismo de “direita” é como chamar Che Guevara de liberal só porque ele usava uma boina estilosa
Pedro Augusto - 20/10/2025 10h48

Quando falamos de fascismo, muita gente corre para dizer: “Ah, isso é coisa da extrema-direita”. Mas basta olhar a certidão de nascimento dessa criatura política para perceber que o sobrenome é outro: o fascismo nasceu no berço da esquerda. E não foi uma adoção tardia, não, afinal, Mussolini mamou direto na teta do socialismo europeu.
Logo no início do século 20, enquanto o socialismo virava febre entre intelectuais europeus, Mussolini e Lenin estavam praticamente em lua de mel ideológica. Os dois se admiravam.
Por quê? Porque falavam a mesma língua: ódio à democracia liberal, paixão pela violência revolucionária e aquela convicção paternalista de que o povo era incapaz de se organizar sem uma elite iluminada para puxar as rédeas. Parece familiar? Pois é.
Em 1912, Mussolini já era a estrela vermelha da Itália. Comandava o Partido Socialista como quem achava que a revolução estava a dois passos da esquina. Lenin aplaudia. Era internacionalista, marxista e rígido contra qualquer reformismo. Ou seja: absolutamente à esquerda.
Mas aí, veio a Primeira Guerra Mundial e Mussolini decidiu trocar o uniforme. Não por amor ao liberalismo (que ele odiava), mas porque achou que o socialismo internacionalista estava ultrapassado. A moda agora era pintar a revolução com as cores da bandeira italiana. O proletariado unido virou a “nação unida”. Mudou o rótulo, mas o conteúdo do frasco continuava o mesmo: coletivismo, estatismo e autoritarismo.
O programa do Partido Fascista fundado em 1919 não deixa dúvidas: confisco de terras, abolição da monarquia e do Senado, tomada da economia por conselhos corporativos. Liberalismo? Nem com lupa. Era socialismo com tempero nacionalista.
Quando Mussolini disse: “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”; ele não estava inventando nada de novo. Estava apenas resumindo o que Lenin já aplicava na Rússia. A diferença é que, em vez da foice e do martelo, ele usava a águia romana.
No resto da Europa, os liberais olhavam o fascismo como um “mal menor” diante do comunismo soviético. Mas, sejamos francos: era como escolher entre veneno de rato com sabor de baunilha e veneno de rato com sabor de chocolate.
No fim, o fascismo não é o oposto do socialismo. É o seu filho rebelde, que brigou com o pai, saiu de casa batendo a porta, mas herdou todos os seus traços: coletivista, estatizante, autoritário e inimigo da liberdade individual. Chamá-lo de “direita” é como chamar Che Guevara de liberal só porque ele usava uma boina estilosa.
|
Pedro Augusto é formado em Teologia pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro e também em Jornalismo. |
Leia também1 O sacerdote do confisco
2 A guerra não terminou e está longe de terminar
3 Alexandre, o Grande... até quando?
4 Treinar é investir: O corpo é o único patrimônio que não aceita calote



















