A esquerda não se importa com a favela
Se o sangue é de inocente, o silêncio é ensurdecedor. Se é de bandido, aí sim vem a poesia política
Pedro Augusto - 29/10/2025 13h29

Centenas de pessoas morreram nesta terça-feira (28) em uma megaoperação policial no Rio de Janeiro. E, como num roteiro previsível, os políticos de esquerda correram às redes para repetir o mesmo discurso indignado de sempre.
Mas há algo que ninguém parece notar: a incoerência gritante por trás dessa indignação seletiva.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a Polícia da Bahia é a mais letal do país. Você viu algum desses políticos de esquerda denunciar o governador ou pedir investigações contra os policiais baianos?
Claro que não. E o motivo é simples: a Bahia é governada pelo PT desde 2007. Ou seja, quando a polícia que mais mata no Brasil está sob comando petista, o silêncio é sepulcral. Mas quando o governador é de oposição – como Cláudio Castro, no Rio, ou Tarcísio de Freitas, em São Paulo – aí sim a comoção aparece. Parece que, para a esquerda, a vida dos baianos vale menos que a dos cariocas.
E se o tema é “defesa da vida” ou “direitos humanos”, por que ninguém fala da Marli Macedo dos Santos, de 60 anos, morta em 27 de outubro, vítima da guerra entre traficantes na Zona Norte do Rio? Ou da Kamila Vitória Aparecida de Sousa Silva, de apenas 12 anos, morta também por bala de bandido, em 5 de dezembro de 2024?
Nenhum político de esquerda postou nota, fez vídeo chorando ou prometeu CPI. Nenhuma hashtag, nenhum ato. Parece que, quando o assassino veste chinelo e porta fuzil, a esquerda fica míope.
E antes que alguém venha com a acusação padrão: não, isso não é uma defesa da morte de criminosos, afinal, o ideal é que sejam presos e paguem de acordo com a lei. Isso é apenas a constatação de que o discurso “direitos humanos” da esquerda tem um endereço seletivo, o da conveniência política.
Milhares de brasileiros, gente comum, sem qualquer ligação com o crime, morrem todos os anos em assaltos, trocas de tiro ou disputas entre facções. Quantos nomes você já viu sendo lembrados com a mesma força que o de criminosos mortos em confronto?
Quando o sangue é de inocente, o silêncio é ensurdecedor. Quando o sangue é de bandido, aí sim vem a poesia política, a foto em preto e branco e o discurso inflamado sobre “genocídio”.
Mas a vida de Marli e de Kamila não rendem curtidas, não mobilizam militância e não servem para atacar adversário político. E é por isso que essas mortes passam em branco, não por falta de dor, mas por falta de utilidade.
Se a esquerda quer realmente defender direitos, que comece olhando para o cidadão comum, aquele que pega ônibus cedo, volta tarde e vive refém do crime, e não apenas para quem empunha o fuzil e mata sem pena alguma.
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Pedro Augusto é formado em Teologia pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro e também em Jornalismo. |
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