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Duas rainhas: suas diferenças retratadas em filme

A questão religiosa atravessa toda a narrativa de Duas rainhas, porém, fica muito claro que as diferenças entre Mary e Elizabeth eram muito menos espirituais do que políticas

Maurício Zágari - 27/01/2020 19h00

A história da Igreja é repleta de episódios de pessoas que, apresentando-se como crentes em Cristo, agiram em desacordo com o que Jesus ensinou. Tudo, sempre, “em defesa da fé”. Desnecessário comentar sobre as Cruzadas, o cisma da Igreja Ortodoxa, a morte de Miguel Cerveto, a Inquisição e outras passagens tristes da trajetória do Corpo de Cristo na terra. Em grande parte, esses problemas ocorreram quando a religião foi salpicada pela sede de poder. O filme Duas rainhas, em cartaz no Telecine, relata uma dessas situações.

O século 16 foi rico em situações de conflito entre católicos e protestantes, em especial nas décadas que se seguiram à Reforma. Na atual Grã-Bretanha, a oposição entre Elizabeth I, rainha protestante da Inglaterra, e Mary Stuart, rainha católica da Escócia, foi permeada por tramas, crimes, revoltas, derramamento de sangue e todo tipo de pecado, o que culminou com a decapitação de Mary, aos 44 anos. Esse triste episódio da história ocidental é retratado de modo romanceado nessa obra da diretora Josie Rourke, com a americana Saoirse Ronan no papel de Mary e a australiana Margot Robbie como Elizabeth.

O título em português do filme não foi muito feliz, visto que a obra parece dar igual peso às duas primas, porém, o título original (Mary, Queen of Scots) deixa claro que a monarca escocesa é a protagonista. Muitas versões já foram apresentadas sobre seu papel histórico e a que o filme adota carrega ares bem feministas, com base na biografia A verdadeira vida de Mary Stuart (2004), do historiador britânico John Guy.

O longa-metragem mostra como Mary forjou a versão de ser uma mártir católica, quando, na verdade, ela seria uma mulher pragmática que cobiçava o poder a fim de unir os dois países. Ao contrário de sua prima Elizabeth, Mary deu à luz um filho, que acabou herdando o trono, quinze anos após a morte da mãe: James I. Ele acabou se tornando muito conhecido por ter solicitado a cinquenta estudiosos, no início do século 17, uma nova tradução da Bíblia, que ficou conhecida como a Bíblia King James.

O filme gera uma importante reflexão sobre o uso da religiosidade como meio para a obtenção de poder. A questão religiosa atravessa toda a narrativa de Duas rainhas, porém, fica muito claro que as diferenças entre Mary e Elizabeth eram muito menos espirituais do que políticas. Onde se vê religião, enxergue-se disputa por controle econômico e político. Um bom filme sobre um triste capítulo do passado, que ajudou a formatar, no presente, a igreja e o panorama geopolítico do Ocidente.

Maurício Zágari é publisher da editora GodBooks, teólogo, comentarista bíblico, escritor, editor e jornalista.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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