Análises sobre os resultados do Oscar 2020
O filme brasileiro "Democracia em vertigem", da cineasta Petra Costa, foi derrotado por "Indústria americana" na categoria de melhor documentário em longa-metragem
Maurício Zágari - 10/02/2020 10h06
Contra todas as expectativas e apostas, o grande campeão da 92a cerimônia de entrega do prêmio máximo do cinema americano foi, curiosamente, um filme sul-coreano. O suspense de humor negro “Parasita”, que já havia recebido a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2019, ganhou quatro Oscars: os de melhor filme, filme internacional, roteiro original e diretor, para Bong Joon-Ho, que desbancou os medalhões Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Sam Mendes e Todd Phillips.
O segundo filme mais premiado foi “1917”, com três estatuetas. Já nas principais categorias de atuação, o Oscar foi – como esperado – para Joaquin Phoenix (“Coringa”) e Renée Zellweger (“Judy”), que volta a triunfar após um longo período de ostracismo.
Ainda não foi desta vez que o Brasil ganhou um prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood: o filme brasileiro “Democracia em vertigem”, da cineasta Petra Costa, foi derrotado por “Indústria americana” na categoria de melhor documentário em longa-metragem.
A premiação, que foi marcada pela consolidação de empresas de streaming via internet como realizadoras ou plataformas de lançamento de grandes produções cinematográficas, começou de forma apoteótica. Em vez das tradicionais piadas de stand up comedy, a festa iniciou com um empolgante número musical, ao melhor estilo hollywoodiano. Mas, para não quebrar a tradição, logo o show de música e dança foi seguido por brincadeiras e piadas, com os veteranos na apresentação do Oscar Steve Martin e Chris Rock.
A primeira premiação da noite, de melhor ator coadjuvante, foi para Brad Pitt, por “Era um vez… Em Hollywood”. Esse é seu primeiro Oscar de atuação, embora, como produtor, já tenha recebido outro, em 2014, quando “12 anos de escravidão” ganhou o prêmio de melhor filme. Já a talentosa Laura Dern faturou a estatueta na categoria atriz coadjuvante, por “História de um casamento”, em sua terceira indicação ao Oscar.
No melhor estilo da promoção da diversidade, a Academia inovou e, na apresentação da música “Into the unknown”, do filme “Frozen 2”, reuniu no palco as cantoras que interpretaram a canção em diferentes idiomas, em um grande coral. Essa linha, adotada pela organização do evento, ficou clara também com a mudança da nomenclatura da categoria “melhor filme estrangeiro”, que passou a se chamar “melhor filme internacional”. Sem falar que foi a primeira vez que um longa não falado em inglês levou o prêmio de melhor filme.
Como de hábito, a cerimônia serviu de palco para o envio de mensagens ideológicas e sociais. A diversidade ganhou destaque, seja na escolha de apresentadores e músicos de diferentes países e etnias, seja na realização de clipes, seja na iniciativa de selecionar, pela primeira vez na história da premiação, uma mulher para reger a orquestra durante a apresentação dos indicados ao prêmio de melhor trilha sonora. Mas a maior manifestação partiu de Joaquin Phoenix, que usou seu tempo de agradecimentos para falar da importância da luta contra a injustiça. “Se brigamos contra disparidades entre gêneros, racismo, por direitos de pessoas LGBT, ou por direitos dos animais, estamos brigando contra a injustiça”, afirmou.
Mantendo a tradição, a Academia caprichou nas apresentações musicais. Chrissy Metz cantou “I’m standing with you”, composta por Diane Warren, música-tema do filme cristão “Superação – O milagre da fé”. Se a apresentação foi aplaudida sem muito furor pela plateia, uma performance surpresa do rapper Eminem sacudiu o auditório. O artista apresentou o rap “Lose yourself”, do filme “8 Mile – Rua das Ilusões”, pelo qual ganhou o Oscar, em 2003. Na ocasião, ele não compareceu para receber o prêmio.
Mas a apresentação que levantou mesmo os presentes foi a de Elton John, que cantou “I’m gonna love me again”. Como esperado, a canção, do filme “Rocketman”, rendeu a Elton e Bernie Taupin o Oscar de melhor canção original.
A cerimônia deste ano foi mais curta: em vez das quatro horas habituais, dirou cerca de três horas e quinze minutos. Isso foi possível graças a um enxugamento na quantidade de números musicais, partes extras, homenagens e à eliminação, por exemplo, da exibição de clips da entrega de prêmios técnicos e humanitários, que foram apenas citados. Tudo indica que a Academia está atenta aos tempos e procura se adaptar aos movimentos tecnológicos e sociais.
Confira a lista completa dos vencedores, na ordem de premiação:
Melhor ator coadjuvante: Brad Pitt, por Era Uma Vez… em Hollywood
Melhor filme de animação: Toy Story 4
Melhor curta-metragem de animação: Hair Love
Melhor roteiro original: Bong Joon-Ho, por Parasita
Melhor roteiro adaptado: Taika Waititi, por Jojo Rabbit
Melhor curta-metragem: The Neighbors’ Window
Melhor design de produção (direção de arte): Barbara Ling e Nancy Haigh, por Era uma vez em… Hollywood
Melhor figurino: Jacqueline Durran, por Adoráveis Mulheres
Melhor documentário: Indústria Americana
Melhor Documentário de Curta-Metragem: Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)
Melhor atriz coadjuvante: Laura Dern, por História de um Casamento
Melhor edição de som: Donald Sylvester, por Ford vs Ferrari
Melhor mixagem de som: Mark Taylor e Stuart Wilson, por 1917
Melhor fotografia: Roger Deakins, por 1917
Melhor edição de filme: Michael McCusker e Andrew Buckland, por Ford vs Ferrari
Melhores efeitos visuais: Guillaume Rocheron, Greg Butler e Dominic Tuohy, por 1917
Melhor maquiagem: Kazu Hiro, Anne Morga e Vivian Baker, por O Escândalo
Melhor filme internacional: Parasita
Melhor trilha sonora original: Hildur Guðnadóttir, por Coringa
Melhor música original: Elton John e Bernie Taupin, por I’m Gonna Love Me Again, de Rocketman
Melhor direção: Bong Joon Ho, por Parasita
Melhor ator: Joaquin Phoenix, por Coringa
Melhor atriz: Renée Zellweger, por Judy – Muito Além do Arco-Íris
Melhor filme: Parasita
Maurício Zágari é publisher da editora GodBooks, teólogo, comentarista bíblico, escritor, editor e jornalista. |