Série Round 6: Conselhos alarmantes de uma psicóloga aos pais
A banalização da violência é um dos problemas que encontramos em produções cinematográficas
Marisa Lobo - 13/10/2021 13h06
Sempre que um programa na TV ou em plataformas de streaming como a Netflix fazem muito sucesso, a exemplo da nova série Round 6, fico com a pulga atrás da orelha no que diz respeito à qualidade do conteúdo quanto aos potenciais impactos psicológicos na mente do público jovem, sobretudo em crianças e adolescentes.
Infelizmente isso acontece por causa da realidade cultural da atual geração, sendo alguns temas explorados de modo negativo – sexualidade, violência, saúde mental, abuso de drogas, dinâmica relacional entre pais e filhos, autoestima e inúmeros outros assuntos.
A banalização da violência é um dos problemas mais comuns que encontramos em produções cinematográficas. Bem diferente do que acontece em filmes de ação, policiais ou de suspense, nos quais o crime é retratado da forma que merece – ou seja, sendo condenado, combatido e moralmente repudiado -, alguns filmes com conteúdos extremamente populares no mundo atual fazem o inverso disso, chegando até a romantizar situações trágicas como o suicídio.
Round 6: Conselho aos pais
A série do momento na Netflix é a Round 6. Estreada em 17 de setembro passado, ela já se tornou a mais vista no mundo dentro dessa plataforma. Nela, pessoas com dívidas exorbitantes aceitam participar de uma espécie de jogo de sobrevivência, cujo prêmio é um valor de 45,6 bilhões de Wons (a moeda da Coreia do Sul).
O fato é que, nesse jogo, vale praticamente tudo pela sobrevivência, inclusive a violência extrema. Há cenas de assassinato, suicídio, sexo, pederastia, tráfico de drogas. Muito do que não presta é explorado e exibido na série Round 6.
E, aqui, chamo a atenção para um detalhe sórdido: os desafios dos personagens são baseados em joguinhos infantis. Ou seja, toda a violência está associada a uma linguagem infantil, que são os jogos. Com isso, crianças e adolescentes são facilmente atraídos para algo aparentemente “inocente”, mas que, no final das contas, só explora a perversidade, o terror e a zombaria de forma banalizada.
Diante disso, o meu conselho aos pais é claro: não permitam que os seus filhos assistam à série Round 6. Sei que é difícil, em alguns casos, controlar isso, sobretudo com relação aos adolescentes. Nestes casos, recomendo que, antes da proibição, vocês se sentem juntos e conversem. Recomendo isto mesmo com jovens enquadrados na classificação indicativa, que é de 16 anos.
A conversa quebra barreiras e serve para conscientizar. Mostre que a exposição a cenas de violência extrema, especialmente de forma banalizada, traz prejuízos emocionais e psicológicos a longo prazo.
A dessensibilização perante as situações de tragédia humana é um dos principais efeitos desse tipo de conteúdo. O ser humano dessensibilizado perante o sofrimento do próximo torna-se alguém indiferente à dor e um potencial causador dela, visto que enxerga com relativa naturalidade diversos tipos de situações trágicas. É a típica “frieza” que vemos no olhar de alguns jovens com histórico de violência, por exemplo.
Além disso, jovens propensos à violência e à depressão podem se ver influenciados negativamente por conteúdos desse tipo. Foi o que aconteceu com a série 13 Reasons Why, na qual a romantização do suicídio impactou milhares de jovens pelo mundo, causando um aumento considerável de suicídio entre eles, segundo um levantamento feito por universidades e hospitais dos Estados Unidos e pelo Instituto Nacional de Saúde Mental (INSM) daquele país.
Para crianças, então, séries como Round 6 jamais devem ser exibidas. Muitas vezes os pequenos não dão sinais do impacto emocional negativo imediato que esse tipo de conteúdo causa neles, vindo os efeitos a aparecer apenas anos mais tarde, na forma de desvios de comportamento e sociabilidade.
Proibir Round 6 é a solução?
O diálogo, a conscientização, é sempre o primeiro passo. Os filhos precisam entender que a decisão dos pais é para o bem deles, mesmo que não concordem com ela no momento. O mais importante aqui é você, pai ou mãe, fazer a sua parte.
Se houver o diálogo, mas não a obediência por parte dos filhos, a proibição é, sim, o segundo passo. Você pode retirar o uso do celular ou utilizar senhas/aplicativos específicos para bloquear o acesso a determinados sites, navegadores e à própria Netflix. O mesmo vale para computador e TV.
Em todo caso, a supervisão pessoal, o acompanhamento e a intimidade entre pais e filhos são indispensáveis e os métodos mais seguros de garantir a proteção emocional e psicológica dos filhos. Por fim, lembre-se: tudo o que você faz hoje por seus filhos vai produzir frutos amanhã, e estes podem ser bons ou ruins. A responsabilidade está em suas mãos!
Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior. |
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