Pandemia de solidão? Uma triste e adoecedora realidade
Se engana quem associa a solidão à falta de convivência com outras pessoas
Marisa Lobo - 12/09/2023 15h21
Neste texto abordo a solidão, algo que foi alvo de um alerta feito pelo Cirurgião-Geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy.
Em uma entrevista para a emissora ABC News, o dr. Murthy classificou a solidão como um problema de saúde pública tão grave quanto outras problemáticas amplamente conhecidas, como a obesidade. Concordo com ele, e por várias razões.
Primeiro, porque é o que tenho visto nos eventos que tenho participado. No último final de semana, por exemplo, ministrei em um acampamento onde haviam 300 jovens. Foi assustador ver o quanto muitos se identificaram com sintomas depressivos e outros relacionados à vida social.
O sentimento de solidão é um dos mais relatados, e se engana quem associa isso à falta convivência com outras pessoas. Estamos em uma geração onde a presença de indivíduos no mesmo espaço, seja isso uma casa, ambiente de trabalho ou escola, não é garantia de companhia.
Isso, porque, o uso desenfreado das redes sociais, por meio do celular e do computador, tem transportado nossas relações para o mundo virtual. É o que podemos chamar de digitalização da vida comum. É por isso que se tornou banal vermos jovens, muitas vezes em grupos, mergulhados cada qual em sua própria “tela”, mesmo estando fisicamente juntos.
Desaprendendo a conviver
Segundo, porque à medida que mergulhamos no mundo virtual, deixamos de ter interação física e, consequentemente, perdemos parte da habilidade de nos comunicar, pois a comunicação humana não é apenas escrita, ou audível, mas também visual e tátil – por meio dos gestos e toques.
Jovens que vivem imersos na digitalização da vida comum, portanto, deixam de vivenciar o que fomos naturalmente formados para adquirir, que são as experiências humanas da interação afetiva, fisicamente falando, em nível de amizades e relacionamentos amorosos.
Não é por acaso que, em muitos casos de jovens com transtornos emocionais, vemos relatos de dificuldades de convivência. São pessoas que, incrivelmente, se sentem desconfortáveis até para dar um simples abraço.
Para piorar, às vezes, esses mesmos jovens são rotulados por pessoas próximas como pessoas “difíceis” ou com “problemas”, o que agrava ainda mais a situação, afastando-os e aprofundando neles o sentimento de solidão.
Considerações
Aos pais, educadores e profissionais de saúde, em geral, deixo o alerta sobre a necessidade de encararmos a solidão como um problema real, podendo ser esse o gatilho para o adoecimento emocional de crianças e adolescentes.
Aos cristãos, pastores e entidades religiosas, em geral, precisamos bater mais nessa tecla, tendo o cuidado com a saúde mental dos jovens, aliando o conhecimento científico de disciplinas como a psicologia, ao teológico, a fim de que possamos cuidar de todos os aspectos da dimensão humana.
Como psicóloga cristã, não tenho dúvidas de que nós, povo de Deus, temos melhores condições de encarar os desafios dessa geração, pois além do olhar físico sobre a saúde, também possuímos a compreensão espiritual. Sejamos, portanto, sal e luz nesta Terra, porque isso fará a diferença na vida daqueles que mais amamos.
Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior. |